Por que algumas startups crescem e não lucram?

No início do século XXI, os modelos empresariais passaram por intensas mudanças. A “bolha da Internet”, no começo de 2000, caracterizou-se por ser um movimento de alta eufórica das ações de empresas de tecnologia. A Internet revolucionou o mercado. E esse foi o início da era das startups.

Mas o que são startups? Por que elas surgiram e o que as difere dos modelos operacionais convencionais?

Os primórdios das startups

A guerra fria travada entre os Estados Unidos e a URSS por quase 50 anos gerou um grande desenvolvimento tecnológico. Além da corrida nuclear, inovações do setor militar acabaram tendo um uso também no âmbito civil.

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Foi esse o caso da Internet. Criada como Arpanet para uma comunicação entre os centro de comando militar dos Estados Unidos. Em breve, a tecnologia foi aberta para as universidades e acabou se tornando um instrumento de comunicação fundamental para o mundo.

A Internet garantiu um imenso progresso econômico nas décadas seguintes. Na década de 1990, os avanços tecnológicos se intensificaram, logo ocorreu o ‘boom’ da Internet e companhias inovadoras como Apple e Microsoft mudaram os hábitos, e em alguns casos até a mentalidade, dos consumidores. A própria Amazon surgiu nessa época, baseada na veda on-line de livros.

As gerações que seguiram esse momento histórico, como a Y e Z, nasceram em uma época em que essas inovações garantiram rapidez, automatização e sustentabilidade para a economia, em um contexto globalizado. Esse aspecto, alinhado ao aumento da facilidade de financiamento e a criação de meios de pagamento digitais, proporcionou o advento das startups.

O que são as startups?

Startups são novas empresas inovadoras, seja no produto comercializado, nas modalidades de operação ou em seu modelo logístico. As vezes essa inovações acabam sendo tamanhas que geram um efeito “disruptivo” em alguns setores econômicos.

As startups operam no preenchimento de alguma lacuna ou na solução de algum problema do segmento em que atuam. Em sua maioria, atuam utilizando instrumentos de alta tecnologia, com um modelo de negócios escalável.

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Entretanto, parte destas empresas possuem dificuldades de gerar lucro para seus acionistas ou investidores, ao menos no começo de suas atividades. Três das maiores startups do mundo, Nubank, WeWork e Uber passam pelo problema de rentabilizar o negócio.

Nubank opta pela não lucratividade

Um dos primeiros bancos digitais a chegar no mercado brasileiro, o Nubank foi fundado em 2013 em São Paulo. A fintech surgiu com o intuito de desenvolver soluções simples, 100% digitais e gratuitas.

Atualmente, o unicórnio brasileiro ultrapassou a marca de 12 milhões de clientes. Segundo dados da própria empresa, são 50 mil novos clientes por dia.

No primeiro semestre deste ano, o faturamento da Nubank foi de R$ 1 bilhão. Uma alta de quase 100% em relação ao mesmo período do ano passado. A companhia tem quase dobrado de tamanho ano após ano. Entretanto, no intervalo entre janeiro e junho de 2019, a companhia registrou o maior prejuízo da sua história. Foram R$ 139 milhões. A fintech jamais deu lucro.

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Mas porque uma das maiores fintech do mundo não lucra? Em primeiro lugar, a Nubank possui duas fontes de renda:

  • uma taxa cobrada dos estabelecimentos onde o cartão é utilizado
  • com juros na rotatividade de compras parceladas no cartão de crédito

Gabriel Silva, diretor financeiro do Nubank, informou em comunicado no mês de julho que “em outras palavras, estamos crescendo muito, mas de forma consciente, sem aumentar nosso risco”.

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O executivo enfatiza a redução de 9% em sua provisão para créditos de liquidação duvidosa, montante reservado para cobrir a inadimplência de clientes devedores.

Silva lembrou que a empresa continua gerando caixa desde 2017, sem utilizá-lo. Portanto, não “consome dinheiro para manter-se”, o que, segundo ele, é um bom sinal. “Crescer de forma sustentável e, portanto, não gerar lucro nesse momento, é uma escolha do Nubank”, salientou o diretor financeiro.

Deste modo, constatamos que a Nubank possui um case de crescimento fundamentado em sua base de clientes, e não do lucro. O custo inerente à aquisição de cartões e manutenção de custódia, por exemplo, fica a cargo a startup.

A fintech tem como política não reportar lucro líquido por uma opção própria. Entretanto, quando a empresa entender o momento propício para tal, o ritmo de abertura de contas possivelmente pode apresentar uma queda, seguida da inadimplência do rotativo, caso o aumento dos juros no cartão de crédito sejam elevados.

Contratempos estruturais prejudicam a WeWork

Outro exemplo de startup famosa é a WeWork (atual We Company  após a reestruturação no início do ano). A empresa de escritórios compartilhados surgiu em 2010 com o intuito de inovar na gestão de espaços de trabalho entre empresas, beneficiando companhias pequenas em um local estilizado e propício a negócios.

A empresa se diz inspirada em “fazer o que amamos e estamos conectados a algo maior que nós mesmo”. Inicialmente, cinco cidades foram escolhidas para abrigarem os escritórios da startup:

  • Nova York
  • São Francisco
  • Los Angeles
  • Boston
  • Seattle

Em 2018, a WeWork reportou um faturamento de US$ 1,8 bilhão. O montante significa um aumento de 400% em relação ao faturado em 2017.

Em contrapartida, o prejuízo da empresa também foi grande. Em 2018, as perdas somaram US$ 1,9 bilhão. Se comparado a 2016, o resultado negativo da companhia cresceu aproximadamente 300%. A startup constantemente queima o caixa da empresa para manter o crescimento.

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Além disso, a companhia encontrou diversos problemas estruturais, o maior deles era o conflito de interesse da operacionalização da startup e do seu CEO, Adam Neumann.

O empreendedor norte-americano era proprietário dos imóveis que a própria empresa dele aluga, com contratos de até 10 anos de duração. Desde 2010, Neumann faturou milhões de dólares. No dia 24 de setembro, pressionado pelo Conselho de Administração da WeWork, Neumann renunciou à presidência-executiva.

O maior investidor do WeWork é o Softbank, um fundo de investimento japonês que possui ativos com foco em tecnologia e inteligência artificial. Já investiu US$ 400 bilhões em companhias e startups ao redor do mundo.

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Somente na WeWork foram US$ 6 bilhões investidos pelo grupo japonês. O negócio, que foi fechado no início do ano, era diretamente dependente do sucesso do IPO da companhia, que estava previsto para este ano.

No entanto, no dia 30 de setembro, após o pouco entusiasmo dos investidores, a WeWork decidiu por ainda não se tornar uma empresa pública, cancelando sua oferta de ações.

Fernando Ulrich, mestre em Economia, colunista do Infomoney em “Moeda na Era Digital”, e analista-chefe da XDEX, Exchange de criptomoedas ligada ao Grupo XP Investimentos, em entrevista ao Suno Notícias, disse que por mais que existe a possibilidade de que a WeWork passe a reportar lucros, com o histórico recente de governança, é pouco provável que aconteça.

Em relação ao Softbank, Ulrich é cético quanto aos investimentos exorbitantes à empresas ainda não consolidadas no mercado.

“Sobre [o Softbank] prejudicar as startups, depende de cada empresa. Mas acho que há um efeito nocivo da cultura do Softbank de quase fomentar a queima de caixa em favor do crescimento. Traz dinheiro fácil e uma cultura perdulária” afirma o especialista.

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“E quando acabar o dinheiro? Ficará apenas a cultura de pouca consciência com o custo operacional e um negócio ainda deficitário. No curto prazo, as startups se beneficiam. No longo prazo, talvez possam ter problemas, visto o WeWork” disse o economista.

Uber enfrenta problemas na Justiça

O lançamento do aplicativo de transporte privado mais conhecido do mundo foi realizado em março de 2009. A Uber foi uma das primeiras startups a valerem bilhões de dólares.

Desde então, a companhia criada em Los Angeles, nos Estados Unidos, vem encontrando diversos problemas na Justiça ao redor do mundo. O estopim foi a criação da UberX, modalidade que concorre diretamente com os taxistas.

Recentemente, uma lei em tramitação na Califórnia ameaçou o futuro dos aplicativos de transporte de passageiros. A lei americana consiste que essas empresas cadastrem seus motoristas como empregados.

A proposta exige que a Uber, entre outros aplicativos do mesmo segmento, registrem seus motoristas como funcionários e os garantam todos os direitos trabalhistas previstos na lei.

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No final de julho, a Uber anunciou a demissão de 400 funcionários. A companhia planeja reduzir um terço o número de funcionários do departamento de marketing. Segundo o CEO da empresa, Dara Khosrowshahi, o intuito é reestruturar o quadro de funcionários para enfrentar a desaceleração dos negócios.

Além disso, de acordo com o balanço da empresa referente ao período de abril a junho deste ano, o prejuízo líquido foi de US$ 5,23 bilhões (cerca de R$ 21,46 bilhões na cotação atual). É o pior resultado da empresa na história. Na comparação anualizada, as perdas tinham sido de aproximadamente US$ 878 milhões no mesmo período.

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Para o seu IPO, a Uber estava esperando um valuation de cerca de US$ 90 bilhões a U$ 100 bilhões, estimando que a precificação das ações ficasse em US$ 48 a U$ 55 cada uma. No entanto, a partir do dia do seu lançamento, em 10 de maio, as ações da empresa já caíram 32% na Bolsa de Nova York, e são negociadas aproximadamente por US$ 30,32 (na cotação do dia 7 de outubro) cada papel.

Mesmo tendo captado US$ 8,1 bilhões com a oferta das ações, a Uber, que desencadeou o surgimento de companhias de transporte por aplicativo, suas próprias concorrentes, está com dificuldades de apresentar bons resultados.

Sendo assim, identificamos o case de três startups, que estão no mercado e continuam sendo disruptivas, mas com perspectivas diferentes.

A Nubank possui uma tendência de crescimento sob controle, a WeWork passa por contratempos de governança que podem comprometer o futuro da companhia, e a Uber enfrenta problemas judiciais e encontra dificuldades de rentabilizar o seu negócio.

Na Suno Research você tem acesso aos melhores relatórios sobre startups e investimentos do Brasil.

Jader Lazarini

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