IPCA vem acima do esperado, mas mantém tendência de desaceleração da inflação, dizem especialistas

Com uma alta de 0,84%, o IPCA ficou acima das projeções do consenso de mercado, mas não deve alterar a percepção de especialistas sobre a tendência de desaceleração do índice ao longo de 2023.

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Rafaela Vitória, economista-chefe e Advisory Board Member do Inter (INBR32), destaca que, apesar de as projeções da casa estarem próximas de uma variação de 0,7%, o IPCA de fevereiro se mostrou uma ‘surpresa negativa’, mas ainda não é suficiente para mudar as estimativas de longo prazo.

“Foi uma surpresa negativa qualitativa e quantitativamente, mas por questões pontuais. A correção do ICMS, que estimávamos impactar somente em março, veio já em fevereiro. A gente vê também alguns reajustes como o da inflação de serviços, que veio em alta de 1,4%. Além disso, o setor de educação foi o principal”, comenta a especialista.

“Acreditamos que o IPCA deva sofrer uma ‘queda lenta’. Esses dados não reduzem ou alteram a nossa expectativa de que a inflação está em queda. Mantemos a nossa projeção de que o IPCA deve cair”, acrescenta.

A projeção do Inter é de que o IPCA feche 2023 em 5,5%, ao passo que para o ano que vem a projeção da inflação é de 4%.

Segundo Vitória, esse cenário só deve se deteriorar em um ambiente mais caótico sob o ponto de vista fiscal, em que o governo anuncie gastos mais exacerbados ao longo do ano, afora as movimentações feitas desde o início do ano e que já impactaram o índice e as projeções futuras – como o reajuste do salário mínimo e o anúncio do Bolsa Família.

André Fernandes, sócio da A7 Capital, também reforça que o cenário tem um impacto negativo de curto prazo, mas não deve mexer com a percepção atual do mercado.

“Qualquer dado que leve a uma interpretação ao mercado, de que a taxa de juros deve permanecer alta por um tempo maior, acaba impactando negativamente nos ativos de risco. Com o IPCA vindo acima do esperado, o primeiro impacto é negativo na Bolsa. Deve-se lembrar que, apesar da queda do índice futuro agora na abertura após a divulgação do IPCA, ainda há um cenário negativo no exterior em relação aos bancos de lá, Silver Gate e SVB Group, que estão trazendo dúvidas em relação ao cenário de crédito nos EUA por conta das altas de juros”, comenta.

“Apesar da alta do IPCA no mês de fevereiro, o mercado não acredita que ao longo do ano esse ritmo deva se manter, e segue acreditando em uma tendência de desaceleração da nossa inflação ao longo de 2023”, completa.

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Após o IPCA, Copom fica no radar

Sobre o impacto do dado de inflação na condução da política monetária pelo Banco Central (BC), Vitória, do Inter, ressaltou que as expectativas seguem indicando que a Taxa Selic será mantida na próxima reunião, entre os dias 21 e 22 de março.

“Esperamos que o BC corte os juros em agosto, mas ainda discutimos se eventualmente não seria apropriado cortar [a Selic] em junho. Estimamos 12% de taxa desde o início do ano. Acho que muita incerteza no cenário e se tem uma antecipação do debate sobre a queda de juros”, afirma.

Em relação às expectativas para 2024, Vitória comenta que o grande driver foi a discussão acerca da meta de inflação – ventilada após um conflito aberto entre o Palácio do Planalto e a autoridade monetária.

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“Acho que boa parte das expectativas [da Selic] para 2024 em diante foi por causa da discussão da meta, e não do tamanho do juro apropriado. Hoje você fica sem saber qual é a meta. A expectativa ficou desancorada lá na frente. Outro ponto importante para o caminho dos juros é o tamanho do juro real, considerando que o juro real projetado fica entre 7% e 8%, e isso é algo restritivo. Essas projeções refletem uma percepção de alto risco fiscal por parte dos participantes do Boletim Focus“, aponta.

Fernandes, da A7, também estima que o Copom deva manter a taxa de juros inalterada. Além disso, destaca que as novidades do arcabouço fiscal devem pesar nas próximas reuniões.

“O balanço de risco no exterior continua com muitas incertezas. Além disso a reoneração dos combustíveis deve afetar o IPCA de março, que será divulgado em abril. Desse modo, apesar da intenção de o governo pressionar o Banco Central a derrubar os juros, com uma tentativa de divulgar o arcabouço fiscal antes da reunião da semana que vem, o Copom deve manter a taxa inalterada, com um possível discurso mais dovish caso o arcabouço seja divulgado antes da reunião, e que seja um arcabouço que agrade o mercado”,

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Eduardo Vargas

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