Americanas (AMER3) tem dívida milionária com editoras de livros; crise pode zerar crescimento do setor em 2022

A Americanas (AMER3) deve R$ 71,8 milhões para cerca de 100 editoras de livros, de acordo com a lista de credores que a varejista entregou à Justiça ao pedir recuperação judicial. Os valores das dívidas variam entre R$ 75 e R$ 7,68 milhões. Esses débitos atingem em cheio as editoras e podem zerar o crescimento do setor em 2022.

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“É um problema grave que pegou todo mundo de surpresa. O timing foi péssimo, porque estava se aproximando do momento de as editoras receberem pelas vendas da Black Friday e do Natal. Essas vendas fizeram muita diferença no ano”, disse Dante Cid, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), ao jornal O Estado de São Paulo.

O prejuízo milionário das editoras vem no mesmo ano em que a Livraria Cultura teve a falência decretada pela Justiça por não honrar os pagamentos acordados com os credores – depois, a livraria conseguiu reverter o quadro, ao menos temporariamente, para voltar ao status de empresa em recuperação judicial.

A maior credora da Americanas entre as editoras é a Catavento, com R$ 7,68 milhões, seguida pela Intrínseca, que tem R$ 5,9 milhões a receber, e pela Companhia das Letras, com R$ 5,3 milhões. A Panini aparece em quarto lugar, com R$ 5 milhões a serem pagos pela varejista.

Quase 90% da dívida da Americanas com as editoras está concentrada em 20 empresas, que têm R$ 1 milhão ou mais a receber da varejista de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

Como a varejista encontra-se em recuperação judicial, esses débitos só devem ser pagos no prazo a ser acordado com os credores na votação do plano de recuperação. Ou seja, as empresas terão de arcar com o prejuízo pelos próximos meses ou mesmo anos.

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Americanas: Crise impacta setor literário

O impacto financeiro da crise da Americanas é significativo para o setor, que já enfrentava dificuldades para aumentar a receita.

O faturamento do mercado de livros no Brasil em 2022 foi de R$ 2,58 bilhões, e deve atingir R$ 2,6 bilhões em 2023, um crescimento de 2,3%, de acordo com dados da consultoria Statista. A previsão do avanço do mercado para este ano é inferior à média global, que é de 3,4%.

No País, o gasto anual médio por consumidor no mercado de livros é de R$ 56,46, enquanto chega a R$196 no mundo. Até 2027, a consultoria prevê uma taxa composta anual de crescimento de 1,77% no faturamento do segmento de livros no Brasil.

Segundo Cid, nenhuma das grandes editoras corre o mesmo risco que as pequenas, mais sensíveis às perdas financeiras. O líder do sindicato do setor explicou que a Americanas era responsável por cerca de 10% do faturamento das grandes – bem menos que a Livraria Saraiva (SLED4), outra que entrou em recuperação judicial e que era responsável por 40% ou 50% do faturamento das editoras.

Ainda assim, Cid avaliou que a recuperação judicial da Americanas pode levar o setor a registrar crescimento zero em 2022. Na visão dele, os estoques que iam para a varejista devem migrar para o comércio eletrônico.

Porém, a perda da exposição dos livros nas lojas físicas é um golpe mais difícil para o setor superar. “Algumas editoras haviam sentido insegurança com a Americanas e reduziram o trabalho com a varejista. Mas a grande maioria trabalhava com ela normalmente. Agora, a maioria vai suspender as negociações com a empresa e outras vão trabalhar apenas com pagamentos à vista”, ressaltou.

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Em entrevista publicada pelo jornal O Globo, o fundador e presidente da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, disse que o efeito Americanas talvez seja menor que os fechamentos de grandes livrarias.

“A Americanas trabalha principalmente com best-sellers, por isso é provável que as pequenas editoras não sejam tão afetadas quanto foram pelas recuperações judiciais da Saraiva e da Cultura”, disse. “Para as editoras grandes, é um baque, é péssimo, mas temos condições de sobreviver. Será um ano menos lucrativo”, comentou.

Procuradas, as editoras citadas na reportagem não comentaram o caso. A Americanas também não se pronunciou.

Com Estadão Conteúdo

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Erick Matheus Nery

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