Selic só será ‘fatiada’ se o cenário fiscal estiver claro e ajustado, diz gestor da Suno
Segundo o CIO da Suno Asset, Vitor Duarte, as quedas sucessivas da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) devem depender de um cenário fiscal ajustado e que mostre ao mercado mais clareza quando às contas públicas.
No curto prazo, a visão é de que o Banco Central (Bacen) mantenha a Taxa Selic no patamar atual – de 13,7% – até meados de agosto.
“Aqui a Selic deve ser mantida até agosto e, a partir daí e também a depender do cenário fiscal e dos índices inflacionários, os juros podem ser cortados a ritmo de 0,25 ponto percentual (p.p.) por reunião. Em dezembro, [o Copom] poderá cortar 0,50 p.p. e então fazer a taxa fechar o ano em 12,50%”, comenta o CIO da Suno Asset.
A projeção de 12,50% é justamente o consenso do mercado financeiro para a taxa de juros, conforme os dados mais recentes do Boletim Focus.
A expectativa é de ‘cortes cadenciados’ também no ano que vem, mas nesse cenário a Suno Asset espera uma taxa Selic levemente acima das projeções exibidas no Focus para 2024.
“O ritmo de corte em 2024 também deve ocorrer de forma cadenciada, terminando com a Selic abaixo de dois dígitos. O Boletim Focus mostra projeções de 9,5%, mas nas nossas contas deve ser de 9,75%. No fim do ciclo [de baixa de juros], em 2025, isso pode ir para 8,75% ou 8%”, analisa.
Contudo, todo esse cenário de ciclo baixista ainda fica ‘refém’ de um cenário fiscal sem gastos exacerbados.
“Isso [projeção da Selic] parte do princípio de que as contas estarão ajustadas, de uma organização fiscal. A sinalização atual não é tão clara, e os discursos ainda são parecidos com discursos de eleição. São discursos que não são de um administrador que pensa na racionalidade, que é o que parte do mercado esperava. Boa parte do mercado, inclusive, chegou a se manifestar com surpresa, e um grande gestor chegou a dizer que ‘estava com medo'”, afirma.
Segundo o especialista, o mercado ainda esperava que os primeiros dois anos do mandato do governo de Lula (PT) repetissem o que costuma reger a condução das contas públicas de praticamente todos os presidentes – a tendência de manter a ‘casa em ordem’ no fiscal por dois anos, e gastar mais nos dois últimos para pleitear uma reeleição ou abrir portas para um eventual sucessor.
“Se o fiscal se ajustar até agosto, prazo em que algumas questões fiscais serão definidas, a taxa Selic pode cair. O juro real está alto, e isso é um freio. Vemos empresas adiando investimentos e dispensando pessoas, repensando suas estruturas. A atividade econômica já começou a sentir isso, juro é ‘freio’. A inflação deve ceder”, explica.
Selic pressiona bolsa e Fed segue no radar
Segundo o gestor, na Europa, EUA e China está “todo mundo olhando para dados de inflação“, com preocupações sobre as reações dos banco centrais.
“Os BCs podem aumentar mais ou menos os juros do que o mercado projeta. Esse ‘um pouco mais ou um pouco menos’ é justamente o que mexe com o cenário”, comenta.
“Acreditamos que o cenário de renda variável vai reagir. Hoje, os FIIs, especialmente os de tijolo, estão mais pressionados. Nós falamos ‘ação está barata, FII está barato’. Estão mesmo, mas isso deixa de ser barato no momento em que o mercado passa a ver uma queda na taxa de juros, com índices inflacionários mais acomodados e estabilizados”, completa.
Além das projeções da Selic, a Suno Asset espera uma alta de 0,25 p.p. nos juros americanos durante a reunião do Federal Reserve (Fed), que ocorre no mesmo dia que a do Copom. Além disso, a expectativa é de uma nova alta de igual magnitude, deixando a taxa de juros dos EUA próxima dos 5% – dado que os juros americanos são uma faixa (ou banda) e não um número exato.