FI-Infra: qual a perspectiva para 2023, com o novo governo?
A passagem de 2022 para 2023 foi marcada pelo início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Diante dessa mudança, investidores em Fundo Incentivado de Investimento em Infraestrutura (FI-Infra) passam a se perguntar qual a perspectiva para o ativo neste novo ano.
Os Fi-Infra são fundos de renda fixa que aplicam em debêntures incentivadas, que são títulos de crédito privado, segundo explicado por Gabriel Esteca, cofundador e Head de Investimentos em Infraestrutura da Bocaina Capital, em entrevista ao Suno Notícias.
O FI-Infra atua como debenturista das emissões que integram parte do portfólio, recebendo pagamentos de principal e juros realizados pelas debêntures.
Entre os benefícios dos FI-Infra, está a isenção de Imposto de Renda Fixa para pessoa física. Esse benefício fiscal vale tanto para o rendimento quanto para o ganho de capital.
As perspectivas para os FI-Infra em 2023
Ao Suno Notícias, Diogo Arantes, Consultor CVM, especialista em fundos fechados e sócio do FI Fácil Investimentos, comenta que as perspectivas sobre os Fi-Infra são de “crescimento”.
Ele afirma que se trata “de um mercado que a gente sabe que o governo tinha feito um plano de 50 anos muito interessante, que envolvia um investimento alto. Esse governo atual é desenvolvimentista, e ele deve querer trabalhar junto com a iniciativa privada para fazer os investimentos”.
“Então, a gente acredita que vai continuar tendo muita debênture e o mercado vai continuar crescendo bastante”, comenta.
Gabriel, da Bocaina Capital, explica que o setor de infraestrutura sempre demanda muitos recursos. Isso porque “os projetos são intensivos em capital”.
O especialista acredita que, neste ano, devem continuar relevantes os investimentos em saneamento, energia, iluminação pública, transportes e logística, telecomunicações, entre outros.
Na visão de Gabriel, no final de 2022 e começo de 2023, a dinâmica macroeconômica tem “permitido boas alocações em termos de taxas nominais”.
“A última alocação que fizemos no BODB11 foi em uma debênture incentivada com taxa de IPCA+9,83%. Este tipo de taxa é viabilizado neste momento principalmente devido à curva de juros reais (determinada pelas NTNBs, que são os títulos públicos atrelados à inflação), que apresenta yields em níveis altos, da ordem de 6%”, comenta.
O especialista considera esse fator como importante, já que, “ao se investir em FI-Infras com boas taxas de rentabilidade como o BODB11, o investidor ganha exposição a essa curva de juros reais e a um potencial ganho futuro de capital quando houver apreciação do portfólio em um cenário de juros mais baixos ou de inflação mais alta”.
As diferenças do cenário para 2023 em comparação a 2022
No entendimento de Gabriel, da Bocaina Capital, 2023 se inicia com um panorama macroeconômico com maior incerteza sob a ótica fiscal.
Ele considera que isso “que traz um pouco mais de volatilidade no mercado de juros e que tende a ser uma oportunidade de alocação de capital a taxas superiores às do ano passado”.
Gabriel comenta que a dinâmica do novo governo e a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda não estão totalmente definidas.
“No entanto, pelo histórico de governos do PT no passado, acreditamos que infraestrutura irá permanecer como tema prioritário na agenda”.
O especialista ainda destaca “que foram em gestões do partido que se criaram mecanismos como as debêntures incentivadas (2011) e os FIP-IE (2007). E o desenvolvimento de obras de infraestrutura também é um fator gerador de empregos e atividade econômica”.
Diogo, do FI-Fácil Investimentos, lembra que quase todas as regras de alguns produtos e FI-Infras foram criados em governos petistas. Diante disso, ele declara que “a tendência é continuar com esse movimento”.
De qualquer modo, o especialista destaca que “os FI-Infras, em si, foram definidos no governo Bolsonaro”.
“Então, teve mudanças positivas, também, pós-governo do PT que devem continuar”, prossegue.
Diogo acredita que 2023 deve ser um ano em que o governo dará início aos desenvolvimentos. Por causa disso, ele considera que, “do ponto de vista de números de debêntures, o setor não deve crescer tanto”.
Isso porque, segundo ele, primeiro são realizados os investimentos e, depois que o projeto começa a ‘andar’ um pouco mais, uma empresa já começa a rodar, antes de fazer emissão da debênture incentivada”.
Na análise do especialista, provavelmente, as debêntures que estão saindo este ano ainda são “reflexo dos investimentos do ano passado”.
“Os investimentos do ano passado foram maiores. Tem muita debênture que vai sair do mercado de saneamento, o que teve uma regulação que saiu recentemente no governo Bolsonaro”, prossegue.
Diogo comenta que é esperado, em 2023, um aumento de debêntures. Diz a expectativa de que alguns segmentos se tornem “mais fortes, mais interessantes e, depois, é só esperar para ver como esse governo novo vai começar e vai tratar isso”.
De acordo com Arantes, o consultor da CVM, a vantagem do FI-Infra é que, independentemente do governo, os contratos dos ativos são longos.
“A gente costuma dizer que a Infra inclui investimentos de segmentos acíclicos. Então, o governo faz um planejamento e pode desviar, aumentar ou diminuir um pouco a proporção de investimento, mas ele vai fazer isso”, comenta.
Ele explica que nem todo investimento é possível fazer pelo governo. “Então, se a máquina estatal ‘abrir muito a caixa’, a gente sabe que precisa, também, de mais investimento da iniciativa privada. A questão é saber se a iniciativa privada ‘vai comprar’ essas ideias”.
Esses fundos devem se valorizar em 2023?
Diogo, da Fi-Fácil, explica que esses fundos são como um título de debênture. Segundo ele, em “debênture, você sabe quanto você vai ganhar até o final. Só que esses títulos têm uma marcação a mercado, que pode desvalorizar ou valorizar o título”.
Diante disso, ele comenta que pode haver uma marcação positiva. Como exemplo, afirma que “se a gente fez um ativo com uma taxa IPCA+8%, e o mercado derruba essa taxa para 6-5%, parte dessa antecipação entra no resultado do fundo e tem uma valorização”.
“Então, sim, esses fundos são possíveis de valorizar, mas não porque o ativo, em si, vale mais. E, sim, porque existe um fechamento de curva. Então, eles funcionam como se fossem ativos de renda fixa”.
Diogo explica: “O que acontece não é, por exemplo, um imóvel que se valorizou, […] mas, sim, a taxa que você comprou, hoje, está com prêmio tão alto e não precisa desse risco todo. O investidor paga muito mais por uma taxa menor. Essa diferença de fluxo entra no seu bolso com valorização, apesar de ser um título de renda fixa”.
O especialista explica que os FI-Infra funcionam como um conjunto de debêntures, que podem ser marcados positivamente ou negativamente”.
“Em momentos em que a taxa de juros está subindo, o que aconteceu no ano passado, o risco subiu um pouco e a taxa foi elvada para acompanhar. Quando se fez isso, os VPs [valores patrimoniais] dos ativos caíram”, comenta.
Segundo ele, já neste ano, a projeção é de queda nas taxas. Então o que a gente vai começar a ver é um pouco de valorização desses VPs”.
Para Gabriel, o nível de desempenho do Fi-Infra sempre depende de um conjunto de fatores.
“Na nossa opinião, acreditamos que os níveis atuais de taxas de ‘carrego’ representam uma boa rentabilidade”, afirma.
“Considerando o preço de cota ao final de dezembro de 2022, o BODB11, por exemplo, apresenta uma TIR de IPCA+8.3% aproximadamente, líquida de taxas e de imposto de renda para pessoa física. Esta taxa não considera potenciais ganhos de capital futuros em compressão de yields, por exemplo”, complementa.
“Se tomarmos o parâmetro de 2022, o FI-Infra BODB11 entregou na sua cota patrimonial um retorno equivalente à NTNB 2030 + 4.7%, bastante superior ao seu objetivo de rentabilidade de NTNB+1.5% a 2.5%”, finaliza.