Antonio van Moorsel

Para onde vai o dólar?

Diante do cenário atual, após a consolidação do pleito eleitoral com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, é natural se perguntar: para onde vai o dólar?

No dia 31 de outubro, primeiro dia dos mercados “conhecendo” o próximo governo (entre aspas, pois, ainda há muito para se conhecer), os agentes esperavam, em sua maioria, um humor azedo. Todavia, após as primeiras horas de pregão, o movimento contrastou as expectativas: a bolsa avançou 1,3% e o dólar recuou 2,2%. A justificativa para o antagonismo está no exterior: um forte fluxo estrangeiro foi responsável pela queda da moeda americana. Segundo a B3, bolsa de valores brasileira, os estrangeiros ingressaram com R$ 1,9 bilhão neste dia.

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A despeito de quaisquer vieses políticos pessoais, o investidor estrangeiro tem preferência por Lula, devido, sobretudo, à agenda mais amigável no que tange ao meio ambiente, à igualdade de gênero, controle de armamentos e a política externa. Por essa razão, a tendência neste primeiro momento é de apreciação do câmbio, como observado nos últimos dias.

Entretanto, o horizonte da questão deve ser dilatado e, portanto, é interessante buscarmos um feixe de luz sobre o futuro. Ou seja, a valorização do real é sustentável? Para responder, é necessário considerar dois dos principais riscos no radar, sendo eles (i) o institucional e (ii) fiscal.

Acerca do primeiro, as sinalizações políticas de Jair Bolsonaro e seus aliados indicam que não haverá surpresas na transição do governo atual para o eleito. A notícia é bastante positiva, pois havia grande preocupação sobre eventual contestação do resultado e suas consequências (o chamado “terceiro turno”). Afinal, o investidor pode até ter as suas preferências políticas, mas não tolera bagunça. Em relação ao segundo, o risco fiscal é, neste momento, o que mais merece atenção. Confirmada a eleição do petista, as negociações de medidas fiscais concentram as atenções na transição de governo.

O foco é refazer o Orçamento de 2023 e acomodar os principais compromissos assumidos por Lula, como a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 mensais e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. O pacote dependerá de um acordo político e da definição do tamanho da licença para gastar (waiver) até a aprovação de uma nova âncora fiscal para substituir o teto de gastos – outro ponto de atenção. O mercado já absorveu a ideia de que tais medidas somem R$ 100 bilhões, todavia pode ser insuficiente, visto que a equipe do presidente eleito estima que a licença para gastar no ano que vem deverá chegar a R$ 200 bilhões.

Dólar e o risco fiscal

Enquanto o primeiro risco (institucional) parece ser esvaziado, o segundo (fiscal) está sob os holofotes dos investidores locais e estrangeiros. Apesar da formação mais conservadora do Congresso Nacional, cuja tendência é aparar eventuais investidas fiscalmente arriscadas, qualquer sinalização de proposta irresponsável pela ótica fiscal deve contratar pressão ao câmbio. Sendo assim, a tendência da moeda está, mais do que nunca, diretamente relacionada às próximas decisões do novo governo.

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Ademais, não estamos isolados e o cenário internacional também apresenta riscos à trajetória prospectiva do câmbio. O episódio generalizado de aperto das condições financeiras mundo afora, sobretudo nas principais economias, representa um vetor altista no balanço de risco – e a campanha agressiva do Federal Reserve contra a inflação, a mais acelerada desde 1987, merece destaque. Em sua última reunião, o FOMC elevou em 75 pontos-base a Fed funds rate, para o intervalo entre 3,75% e 4,00%.

O comunicado apresentou indícios de eventual redução do ritmo de alta em dezembro, injetando ânimo nos mercados. Todavia, Jerome Powell, presidente do BC norte-americano, acabou com a festa ao reforçar que o comitê planeja manter a taxa elevada por mais tempo e vê riscos em cortes prematuros. Para complementar a postura austera, Powell revelou que o FOMC deve elevar a projeção de taxa terminal após os novos dados de inflação e mercado de trabalho – ou seja, sinalizou abordagem mais lenta de aumento de juros, porém o ciclo pode durar mais. Fato este importante, pois, a diferença menor entre as taxas de juros brasileira e norte-americana (spread) mina a atratividade do real. Embora o BCB tenha se antecipado e iniciado o ciclo de alta antes, o avanço da campanha do Fed para debelar a inflação paralelo à manutenção da Selic em 13,75% pode impactar diretamente o câmbio.

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Nota

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