Magazine Luiza (MGLU3): entenda como o fim da alta da Selic vai impulsionar o varejo

Por que a taxa Selic é tão importante para as empresas de varejo? Mais do que qualquer outro setor, o varejo está nitidamente relacionado ao ciclo da economia. A demanda de farmácias e supermercados costuma ser mais resiliente do que a de lojas que vendem produtos eletroeletrônicos. Por isso há a penalização dessas companhias. É o que explica o engenheiro e especialista da Genial Investimentos, Iago Souza, em entrevista ao Suno Notícias no programa Raio-X do Setor.

VAREJO: VALE A PENA INVESTIR? | MGLU3, AMER3, VIIA3, CASH3 | Raio-X do Setor

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“O varejo em si apresenta uma maior sensibilidade ao mercado de crédito. A Selic saiu de 5,25% em agosto de 2021 para 13,75% no mesmo período de 2022. Estamos falando de uma política monetária contracionista. O efeito mais claro disso acaba sendo no custo de crédito, que é maior”, explica Souza. O mercado percebeu o efeito de aperto monetário que o Banco Central planejava para a economia, e as ações de varejo sofrem desde o início de 2022. No acumulado do ano, Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3) recuam, respectivamente, 30,06%, 38,87% e 30,32%.

Com o efeito mais contracionista da economia, não só no Brasil mas no mundo, as empresas estão sendo mais criteriosas na concessão de crédito, já que o risco de inadimplência se torna maior e pode comprometer margens, que são de extrema importância para o setor.

Varejo de tecnologia sofre com juros e geração de caixa

Além das varejistas tradicionais, existe o impacto nas empresas de tecnologia, como o Méliuz (CASH3). O especialista no setor da Genial Investimentos, Igor Guedes, observa que o cenário é pior no curto prazo. “O Méliuz, que depende do e-commerce e do varejo tradicional, também é afetado pela taxa de juros e o critério para concessão de crédito. Além disso, você está na outra ponta em relação ao aumento de capital”, pondera.

Para empresas de tecnologia, a geração de caixa é pensada no futuro. Portanto já são negociadas por um valor mais baixo. “Quando houver o desconto desse fluxo de caixa que está lá na frente, será por uma taxa maior, já que o custo de capital subiu”, diz.

Naturalmente, quando a taxa de juros sobe, o valor dessas companhias cai. A partir do momento que há um arrefecimento da curva de juros – como o mercado começa a precificar no Brasil, que subiu os juros antes da maioria das economias do mundo –, pode haver uma vantagem para as empresas do setor.

“O Méliuz está construindo uma nova linha de negócios, de serviços financeiros, para entrar no mercado de crédito e diversificar seus negócios. O mercado de ‘shoppings’, o e-commerce e marketplace da empresa, não apresenta muita melhora a curto prazo. A contribuição dessa vertical dá-se pela credibilidade de que o mercado de cashback é muito competitivo. Há diversos outros players competindo com o Méliuz, então pode haver uma virada de chave ligada à vertical de marketplace. Porém, na frente de serviços financeiros, há um bom potencial que não está no preço da companhia. À medida que a taxa de juros for reprecificada no primeiro semestre do ano que vem, poderá haver uma alta nos preços da empresa”, avalia Guedes.

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Competitividade no varejo e financeirização das empresas

Iago Souza observa que há uma demanda muito maior por serviços do que por bens no setor atualmente, algo bem diferente de quando a Selic estava em 2%. “Toda essa demanda foi reprimida e agora começa a voltar com bastante força. O volume de vendas também é muito discrepante em relação à receita. No ano, o dado avançou 1,4%, segundo o IBGE, enquanto a receita avançou 17%. Esse movimento é influenciado pelo preço que as varejistas têm repassado”, explica.

O diferencial das varejistas – que todas têm praticado, mas nem sempre com sucesso – é a financeirização do negócio, principalmente pela dependência antiga dessas companhias em crédito. “Esse setor busca atingir pessoas desbancarizadas, que o banco não quer conceder crédito. Assim, alavancam seu crescimento com um dinheiro que poderá ser utilizado até na própria loja. O crédito anda em conjunto com as vendas”, expõe.

Hoje a postura do varejo é muito mais racional, com o ciclo de altas da taxa básica de juros. Não há mais frete grátis, que era a grande vantagem da Shopee, por exemplo. Entre pares, Magalu tem apresentado a melhor performance no setor digital, diz o especialista. É a única varejista que ultrapassou a marca de 12 mil vendedores no marketplace. “A ideia é que a alavanca de crescimento seja a partir disso.”

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Shopee, AliExpress, Shein já tomaram a atenção do consumidor brasileiro em uma concorrência “desleal”, por seus preços baratos e frete gratuito. Mas a alegria do ‘cross border’, como é chamado, deve durar pouco: o Legislativo brasileiro pretende taxar esses serviços – e em breve. “Existe uma margem enorme que poderia beneficiar o governo com a tributação. Além disso, há um ganho em dólar para quem vende, com uma mão de obra muito mais barata na China, e uma escalada muito mais fácil em um país como o Brasil”, Souza observa.

No entanto, a logística ainda pode ser outro fator problemático para o varejo ‘de fora’, que terá dificuldades para elevar seus serviços do tipo no Brasil. “O prazo de entrega ainda é uma dificuldade. Sabemos que, falando em varejo, é tudo para ontem. Os consumidores querem receber o produto o mais rápido possível. Para isso, é preciso investir em centros de distribuição locais. Agora, com o varejo mais racional, há um sentimento maior de como as operações são realizadas no Brasil”, diz o especialista.

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Beatriz Boyadjian

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