Para onde vai a inflação e como a renda fixa pode te proteger?
A inflação em alta segue como um dos maiores desafios econômicos no Brasil. O aumento vertiginoso dos preços afeta diretamente o custo de vida do consumidor, principalmente os mais pobres. Porém, a inflação elevada também abre oportunidades de investimentos. Ativos de renda fixa indexados ao IPCA oferecem ganhos reais acima da inflação, valorizando o capital investido.
Além disso, o Banco Central vem aumentando a taxa Selic desde 2021, na expectativa de controlar o ímpeto dos preços e trazer a inflação dentro da meta. E desde julho de 2022 o IPCA deu sinais de que está cedendo à taxa básica de juros, que está em 13,75% ao ano.
A inflação, que vinha galopante, deu sinais de arrefecimento neste ano. Em julho, o IPCA chegou a patamares negativos, gerando a maior deflação dos últimos 24 anos. Mas engana-se que essa é uma tendência definitiva.
O principal elemento que contribuiu para a redução da inflação no mês foi Lei Complementar nº 194/2022, que estabeleceu o limite de 18% para alíquotas de ICMS, um imposto estadual sobre o preço de diversos produtos, em especial sobre combustíveis, gás natural e energia.
Para ajudar no cenário de redução inflacionária, o preço do barril de petróleo no mercado internacional também resolveu dar uma trégua. Após alcançar máximas acima de U$ 130 o barril, o patamar atual se aproxima de U$ 95, uma queda que tem feito diferença na redução dos combustíveis no Brasil.
Mas a dúvida que permanece para muitos investidores é: até onde vai a inflação e como se proteger dela?
Investimentos em renda fixa para se proteger da inflação
No geral, os investimentos em renda fixa atrelados ao IPCA podem oferecer ao investidor um ganho real, uma vez que sua rentabilidade estará sempre acima da inflação. Os investimentos indexados ao IPCA mais comuns são esses:
- Títulos públicos do Tesouro Direto
- Debêntures
- CRIs
- CDBs
Porém, quem quer investir para proteger seu capital da alta dos preços precisa tomar alguns cuidados. O primeiro deles tem a ver com o perfil do investidor, que pode ser conservador, moderado ou arrojado.
Para investidores com perfil mais conservador, Vinícius Romano, analista da Suno e especialista em renda fixa, recomenda manter a maior parte de sua carteira em ativos pós-fixados, sendo sua rentabilidade indexada à taxa Selic ou CDI.
Como esses investimentos acompanham esses índices, não possuem variação em sua rentabilidade. Por isso são ideais para quem é mais conservador ou iniciante no mercado financeiro. “Geralmente, quem tem o perfil conservador não quer ter oscilações muito bruscas em seus investimentos em renda fixa”, lembra Romano. Ou seja, não basta encher a carteira de ativos atrelados à inflação: o melhor é fazer um mix de indexadores.
O analista da Suno também explica que os títulos públicos indexados ao IPCA, seus preços são marcados a mercado todos os dias, de forma que a rentabilidade pode ficar negativa caso o investidor precise resgatar o investimento antes do prazo. Por isso, os títulos indexados ao IPCA – e os prefixados – dentro da plataforma do tesouro direto precisam ser analisados com cautela.
Já os títulos bancários pós-fixados só variam de rentabilidade quando a taxa Selic cai ou sobe, o que dá mais tranquilidade ao investidor. E com a taxa Selic elevada como neste ano, os investimentos pós-fixados estão “dando um show”.
Quando perguntado sobre uma carteira ideal para o investidor que deseja estar blindado da inflação, Romano reconhece que não existe uma receita de bolo que serve para todos. Mas ele sugere um percentual adequado para diferentes tipos de investidores: “40% de investimentos indexados à inflação, 30% de ativos prefixados e 20% de pós-fixados”, afirma o analista da Suno.
Ao longo do tempo, esses percentuais vão mudando, afirma Romano. O investidor vai ter de olhar para a inflação que está embutida nos preços. Por isso, as alocações vão mudando a cada avaliação do investidor. “Em alguns momentos é possível alocar mais em prefixados ou colocar mais recursos em indexados à inflação”, comenta Romano.
Da mesma forma, é possível equacionar esses investimentos em diferentes prazos de vencimentos, para potencializar ganhos e proteger seu capital da elevação dos preços.
Quais as estimativas dos especialistas sobre a inflação nos próximos meses?
Existem variáveis que apontam para uma redução da inflação brasileira, pelo menos no curto e médio prazo. Quem mostra esses dados é o último Relatório Focus, publicado na segunda-feira (15).
A expectativa dos especialistas é de que a inflação termine o ano com patamar de 7,02%. Ou seja, abaixo do acumulado do ano que é de 10,89%, mas acima da estimativa do Banco Central, que é de 3,5%. Na verdade, a meta do BC tem uma margem de erro de 1,5%, o que significa que a inflação pode estar dentro da meta entre 2 a 5%.
Porém, o Relatório Focus sinalizou um aumento da inflação para 2023 e 2024. Até então, os especialistas esperavam uma inflação de 5,20% e 3,30% para os próximos dois anos. Mas agora a estimativa é maior, subindo para 5,38% e 3,41%, respectivamente.
Enquanto isso, o Banco Central não segue com as mesmas expectativas dos especialistas. As projeções do BC esperam uma inflação de 6,8% em 2022, enquanto 2023 a expectativa é de 4,6% e 2,7% para 2024, sinalizando um IPCA dentro da meta no ano que vem e abaixo do centro da meta daqui a 2 anos.
Já em relação à taxa Selic, o Relatório Focus prevê o mesmo patamar de 13,75% no fim de 2022, enquanto em 2023 e 2024 a taxa básica de juros poderá ficar em 11% e 8%, respectivamente. Neste ponto, o mercado está em linha com o Banco Central, que possui estimativas parecidas.
Analistas acreditam que o Brasil reverterá a inflação no médio prazo
Os especialistas da Genial Investimentos estão mais otimistas quanto à queda da inflação para este ano. De acordo com a estimativa dos seus analistas, “a projeção é de 6,8% para 6,7%, considerando um repasse parcial do reajuste ao consumidor final, que irá retirar 16 bps da inflação deste ano”.
O peso da redução do preço dos combustíveis terá impacto mais relevante para conter o aumento dos preços, destaca a Genial Investimentos.
O Banco UBS também vê o Brasil na direção do controle inflacionário para os próximos meses. Em relatório publicado nesta última quarta-feira (17), o banco suíço destacou que a inflação do Brasil em 2021 veio forte por causa do setor de energia (60%), enquanto os 40% restantes foram de alimentos.
Na visão do banco, o Brasil tem repasse mais rápido da inflação pelo seu componente alimentar mais volátil, além da desvalorização do real e aumento de preços das commodities.
Mas a UBS acredita que isso não será uma tendência nos próximos meses. A inflação principal no Brasil provavelmente “reverterá mais rapidamente do que em outras economias, mas o núcleo da inflação provavelmente seguirá os ajustes globais”, destaca a USB.
O banco estima que o IPCA atinja 6,5% até o final do ano, mas chegando em 2023 a 4%, ou seja, dentro da meta do Banco Central.
Nesses cenários, mesmo com a inflação em queda, a renda fixa não deixa de ser uma opção, afinal ela continua elevada. Além disso, uma carteira diversificada de renda fixa pode proteger o capital do investidor, oferecendo um ganho real acima do aumento dos preços.