Copom aumenta taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,75%; entenda os motivos
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou nesta quarta (3) o aumento da taxa Selic de 13,25% para 13,75%. A elevação de 0,50 ponto percentual, no quinto encontro do comitê do BC em 2022, era aguardada pelo mercado. A decisão foi unânime.
A aposta majoritária do mercado na alta da taxa básica de juros (Selic) a 13,75% seguia sinalização dada pelo Copom no último encontro, em junho. O que surpreendeu foi a sinalização para uma nova alta – já que muitos analistas previam o fim do ciclo de alta em setembro. O BC justificou esse novo aumento dizendo que pretende alcançar uma inflação mais próxima do centro da meta em 2023.
O comitê disse que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião” – ou seja, de 0,25 ponto porcentual. A próxima decisão será no dia 21 de setembro. Com isso, a Selic pode chegar a 14% ao ano a dez dias do primeiro turno das eleições.
Em meio aos impactos da guerra na Ucrânia e de uma possível recessão nos Estados Unidos – afetando a economia global -, o Banco Central (BC) segue apertando os cintos na política monetária com o ciclo de alta. “O Copom avaliará ajuste residual de menor magnitude na próxima reunião”, diz o comunicado. “Incerteza de conjuntura e estágio do ciclo demandam cautela adicional.”
Havia expectativa de o ciclo se encerrasse em setembro, mas as altas vão continuar, embora com aumentos menores: “É apropriado que ciclo avance significativamente em território ainda mais contracionista.” O motivo ainda é a pressão inflacionária e o cenário global de incertezas.
“Ambiente externo mantém-se adverso e volátil”
O colegiado justifica: “O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado. O processo de normalização da política monetária nos países avançados tem se acelerado, impactando o cenário prospectivo e elevando a volatilidade dos ativos.”
Desde então, a ininterrupta deterioração das expectativas de inflação para 2023, os dados econômicos mais fortes e as ofensivas do governo ao teto de gastos (regra que atrela o crescimento das despesas à inflação) em ano eleitoral fizeram as apostas do mercado convergirem para 0,50pp.
Apesar das recentes medidas tomadas pelo governo terem reduzido o peso de combustíveis e da energia elétrica na inflação deste ano, com prováveis deflações no IPCA em julho e agosto, as projeções para 2023 seguem em alta. Como leva tempo para que os efeitos da política monetária sejam sentidos na economia, a nova alta de juros mira a inflação do próximo ano.
Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Na semana passada, porém, o mercado estimou que a meta será novamente superada no próximo ano, com a inflação atingindo 5,33%.
O comunicado do Copom cita as projeções de inflação, quer nortearam a decisão sobre a taxa de juros: “[a taxa] reflete incerteza do cenário e balanço com variância ainda maior que usual. Para horizonte de 6 trimestres à frente, projeção de IPCA em 12 meses situa-se em 3,5%. Horizonte relevante inclui 2023 e em menor grau, 2024. Copom optou por dar ênfase à inflação acumulada em 12 meses no 1º trimestre de 2024. O Copom irá perseverar em estratégia até consolidar desinflação e ancoragem em torno da meta”
No comunicado desta quarta, o Copom diminuiu a expectativa para o IPCA em 2022: foi de 8,8% para 6,8%. Mas aumentou a estimativa da inflação para o próximo ano, indo de 4,0% para 4,6%. O comitê explica que esse ajuste reflete o impacto da isenções tributárias sobre combustíveis, energia e telecomunicações. Mas a previsão do BC para 2023 ainda está longe da meta de inflação do BC (3,25%).
“É apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando”
“O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas. Nota ainda que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”, disse, no comunicado.
No documento, o BC voltou a mostrar preocupação com o risco de desancoragem de expectativas para os prazos mais longos, o que, na sua avaliação, demanda que “o que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”.
“O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
BC: Retomada no mercado de trabalho foi mais forte do que o esperado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou com otimismo a evolução da atividade econômica brasileira, sobretudo do mercado de trabalho, desde o encontro de junho. Nesta quarta-feira, 3, o Copom decidiu elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 13,75% ao ano, voltando ao mesmo patamar de janeiro de 2017.
Segundo o Copom, o conjunto de indicadores divulgados desde a última reunião “seguiu indicando crescimento ao longo do segundo trimestre, com uma retomada no mercado de trabalho mais forte do que era esperada pelo Comitê”.
Em relação à inflação ao consumidor, o comitê continuou avaliando que segue elevada, tanto em itens voláteis como em associados à inflação subjacente. “As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, repetiu.
Possibilidade de estímulos permanentes acentua risco de alta de inflação
Enquanto os principais candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano prometem tornar permanente o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 para além de dezembro, o Banco Central alertou nesta quarta-feira, 3, que a extensão dessa medida aumenta ainda mais o risco de alta da inflação no próximo ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 13,75% ao ano.
“O Comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário”, ressaltou o comunicado do Copom desta quarta. Tanto o presidente Jair Bolsonaro, quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometem manter o pagamento maior do benefício em 2023, ainda que não haja espaço orçamentário para isso.
Por outro lado, o BC ponderou que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa na inflação para o próximo ano. “O Comitê avalia que a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos”, completou o documento.
O cenário de riscos do Copom continua com fatores de risco nas duas direções. Do lado de uma inflação maior que a projetada, está a maior persistência das pressões inflacionárias globais e justamente a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do País e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada.
Já do lado de uma possível inflação mais baixa que a estimada, está uma possível reversão – ainda que parcial – do aumento nos preços das commodities e a já citada desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada.
O Copom argumentou ainda que as projeções de inflação para 2022 e 2023 estavam contaminadas pelos impactos das alterações tributárias sobre combustíveis e energia elétrica aprovadas no mês passado. Por isso, o BC optou por dar mais ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024. Segundo o colegiado, esse marco temporal “reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária”.
Ambiente externo mantém-se adverso com revisões negativas do PIB e inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou a avaliação negativa sobre o cenário externo no comunicado após a decisão de elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 13,75% ao ano.
Neste encontro, o BC avaliou que o ambiente externo mantém-se “adverso e volátil”, enquanto na reunião de junho havia dito que “continuava se deteriorando”.
“O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado”, disse o Copom.
O comitê ainda destacou que o processo de normalização da política monetária em países avançados tem se acelerado, “impactando o cenário prospectivo e elevando a volatilidade dos ativos.”
Copom: decisão era esperada
A expectativa que predominava no mercado para a reunião do Copom por um aumento 0,50 ponto-percentual incluía 49 das 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, do Estadão. O consenso Refinitiv, que conta com 34 instituições, tinha o mesmo entendimento: alta de 0,5 ponto percentual na Selic.
A edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, também indicava que a taxa de juros deveria subir para 13,75% ao ano, com alta de 0,5 ponto percentual. Na ata da última reunião, os integrantes do Copom sugeriram aumentar de novo os juros em 0,5 ou 0,25 ponto percentual, deixando em aberto a possibilidade de novas altas caso a inflação persista.
Depois de altas nos últimos meses, as estimativas de inflação têm caído. A última edição do boletim Focus reduziu a previsão de inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 7,30% para 7,15% neste ano. Em junho, as projeções para o IPCA chegaram a 9%.
Embora a gasolina e a energia elétrica tenham ficado mais baratas nos últimos meses, a guerra entre Rússia e Ucrânia continua impactando os preços do diesel, de fertilizantes e de outras mercadorias importadas. Além disso, a instabilidade na economia norte-americana, que enfrenta a maior inflação nos últimos 41 anos, provoca forte volatilidade na cotação do dólar em todo o planeta.
Para 2022, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2% e o superior, 5%. Os analistas consideram que o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.
Embora a gasolina e a energia elétrica tenham ficado mais baratas nos últimos meses, a guerra entre Rússia e Ucrânia continua impactando os preços do diesel, de fertilizantes e de outras mercadorias importadas. Além disso, a instabilidade na economia norte-americana, que enfrenta a maior inflação nos últimos 41 anos, provoca forte volatilidade na cotação do dólar em todo o planeta.
Para 2022, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2% e o superior, 5%. Os analistas consideram que o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.
Os juros básicos atingiram o mesmo patamar de janeiro de 2017. Foi a 12ª alta consecutiva neste ciclo de aperto monetário, que já é o mais longo da história do Copom. Desde o primeiro movimento, em março de 2021, a taxa já subiu de 11,75 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999, quando, durante a crise cambial, o BC elevou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.
Com o novo aumento da Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,52% ao ano, mais que o dobro do segundo lugar da lista, o México (4,20%).
Em terceiro lugar no ranking que considera as economias mais relevantes, aparece a Hungria (3,50%). A média dos 40 países avaliados é de -1,89%.
Sicredi Asset: aumentou o risco de a Selic chegar a 14% em setembro
A comunicação do Copom) surpreendeu o economista-chefe da Sicredi Asset, Luiz Furlani, que aguardava um mensagem menos objetiva sobre os próximos passos do colegiado.
À espera da ata do encontro, que sairá na terça-feira, Furlani diz que a casa não muda, por ora, a expectativa de fim de ciclo com a Selic nos atuais 13,75% ao ano. Porém, diz ele, aumentou o risco de a taxa subir para 14% na reunião dos dias 20 e 21 de setembro, já que o Copom colocou no comunicado a possibilidade de avaliar um ajuste residual.
“A gente achava que o Banco Central deixaria um pouco mais em aberto o próximo passo, adotando o tom de que as decisões seriam avaliadas a cada reunião, como tem feito boa parte dos bancos centrais de economias desenvolvidas”, diz o economista-chefe da Sicredi Asset. “Mas ele optou por ser um pouco mais especifico”, complementa Furlani.
Assim, diz o economista, o risco de a Selic subir mais 0,25 ponto porcentual ficou maior. A avaliação dele é de que o BC ficará pressionado a cumprir o ajuste residual se o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) for mais agressivo na alta de juros na maior economia do mundo.
Galápagos: BC mudou forward guidance no comunicado do Copom
Depois de elevar a taxa básica de juro (Selic) em mais 0,50 ponto porcentual na noite desta quarta-feira, 3, para 13,75% ao ano, o Banco Central mudou seu forward guidance, deixando em aberto a decisão de política monetária a ser tomada pelo Copom em setembro, segundo a economista-chefe do Brasil da Galápagos Capital, Tatiana Pinheiro.
Para ela, não há muito a se discutir sobre a decisão de hoje, porque veio dentro do esperado pelo mercado e em linha com o que a própria autoridade monetária havia sinalizado na reunião anterior.
“O que se esperava era o que viria no comunicado. Ele deixou em aberto a decisão de setembro, contrariamente ao que vinha fazendo nas reuniões anteriores, quando deixava claro o próximo passo”, disse a economista.
Ainda de acordo com Tatiana, o BC demonstrou que pode parar de aumentar a taxa de juro quando disse, por meio do comunicado, que o Copom vai avaliar um eventual ajuste residual da Selic.
“A ata vai trazer mais detalhes, mas o que está escrito no comunicado é que setembro está aberto e com viés para parar o ciclo porque ele incorporou a questão de um menor crescimento da economia mundial compensando os efeitos das medidas de estímulos”, avaliou Tatiana.
Para a chefe do Departamento Econômico da Galápagos, a Selic deverá ser mantida em 13,75% até o segundo semestre do ano que vem e passar a cair a partir daí para fechar 2023 em 12% ao ano.
Renascença: BC foi bem dovish, com comunicado surpreendente
É grande a chance de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter encerrado nesta noite o ciclo de aperto monetário, elevando a Selic em 0,5 ponto porcentual, para 13,75% ao ano, na avaliação do chefe da área de Estratégia da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein. “O BC foi bem dovish, com comunicado surpreendente”, comentou, destacando como “novidade” o trecho do texto em que os diretores afirmam que o comitê optou por “dar ênfase à inflação acumulada em 12 meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante”.
O Copom argumenta que tal estratégia “suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária”. Na prática, o BC estaria excluindo o primeiro trimestre de 2023 quando, teoricamente, a reversão das medidas tributárias adotadas este ano vão bater na inflação. “Usou da criatividade. Foi a maneira encontrada para justificar o fim do ciclo de aperto”, afirmou Goldenstein, lembrando que o mandato, porém, é o ano calendário.
O estrategista explica que, não fosse assim, o BC não teria como encerrar o processo de ajuste da Selic, na medida em que sua projeção de IPCA para o ano que vem subiu a 4,6%, de 4% no último Copom. A meta de inflação para 2023 é de 3,25%, com banda superior de 4,75%.
O comunicado deixa ainda um pequeno espaço para “um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”, mas para Goldenstein “a barra para uma nova elevação agora está alta”.
Veja a íntegra do comunicado do Copom:
Em sua 248ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13,75% a.a.
A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado. O processo de normalização da política monetária nos países avançados tem se acelerado, impactando o cenário prospectivo e elevando a volatilidade dos ativos;
Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom seguiu indicando crescimento ao longo do segundo trimestre, com uma retomada no mercado de trabalho mais forte do que era esperada pelo Comitê;
A inflação ao consumidor continua elevada, tanto em componentes mais voláteis como em itens associados à inflação subjacente;
As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,2%, 5,3% e 3,3%, respectivamente; e
No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,30*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Esse cenário supõe trajetória de juros que termina 2022 em 13,75% a.a., reduz-se para 11,00% em 2023 e 8,00% em 2024. Supõe-se que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -1,3% para 2022, 8,4% para 2023 e 3,6% para 2024. As projeções do cenário de referência incorporam o impacto das medidas tributárias recentemente aprovadas. Para o horizonte de seis trimestres à frente, que suaviza o efeito ano-calendário, mas incorpora os impactos secundários das medidas tributárias que incidem entre 2022 e o primeiro trimestre de 2023, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,5%. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário. Por outro lado, nota que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa. O Comitê avalia que a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.
Notou-se que as projeções de inflação para os anos de 2022 e 2023 estavam sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias entre anos-calendário.
Assim, o Comitê optou neste momento por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
O Copom avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas. Nota ainda que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação.
Nova Selic: quantas altas até o fim do ano?
Vinicius Romano, analista de Renda Fixa da Suno Research, observa: “No comunicado, o BC deixa claro que seu principal objetivo é consolidar não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. Além disso, o Copom destaca que a incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação. Para a próxima reunião, a autoridade monetária avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude.”
Romano fala sobre o impacto da nova taxa Selic nos investimentos: “Na renda fixa, os pós-fixados seguem se beneficiando – já que a sua rentabilidade é atrelada a taxa Selic/DI. Ou seja, quanto mais os juros subirem, melhor para essa classe. Já no caso dos prefixados e IPCA+, os impactos são advindos da curva de juros, que é composta pelos juros futuros de diversos vencimentos. Tais juros futuros são precificados e negociados pelo mercado, ou seja, já existe uma trajetória para a taxa Selic embutida nos preços dos títulos. Caso essa trajetória embutida na curva esteja subavaliada, os juros tendem a subir para refletir o cenário mais próximo da realidade, causando uma marcação negativa nos preços dos papéis de renda fixa pré e IPCA+.”
Cassiano Konig, sócio-fundador da GT Capital, comenta: “O aumento da taxa Selic veio em linha com as expectativas que o mercado já tinha, elevando os juros em 0,50%. Esse aumento já estava precificado há um tempo pelo mercado. No comunicado, o BC apontou ainda que irá avaliar a necessidade de novos aumentos, porém de menor magnitude, como também já era esperado. Agora os investidores ficam no aguardo da ata do Copom na semana que vem. Acredito que o Banco Central não deverá sinalizar “o fim do ciclo de elevação da taxa de juros”.
Konig acredita que haverá mais “uma ou duas altas até o fim do ano”. Explica: “Recentemente, o governo aprovou pautas populistas reduzindo os impostos em cima de alguns bens, forçando uma queda acentuada no preço dos combustíveis e energia, aumentando o risco fiscal. Com isso, aumenta também a possibilidade de termos uma manutenção da inflação com o consumo sendo estimulado. Temos o cenário externo mais adverso, o que colabora para um dólar mais alto e mais incerto. Nos EUA, o Federal Reserve (Fed) vem sinalizando que irá estender por mais tempo e de forma mais agressiva o aumento de juros para conter a inflação. Assim as moedas dos países emergentes como o Brasil devem se manter mais desvalorizadas. Esse é mais um fator que contribui para que os juros estabelecidos pelo Copom fiquem mais altos por aqui durante um tempo maior.”
Alexandre Espirito Santo, Economista-Chefe, e Elisa Andrade, Analista de Macroeconomia, ambos da Órama, analisam: “De fato, a maior interrogação desse encontro não era a magnitude da elevação em si. A grande expectativa do mercado recaía sobre o comunicado. A diretoria do BC normalmente vem fornecendo indicações dos seus próximos passos, o que nos parece um posicionamento bastante adequado para o momento desafiador. Como é sabido, entre a tomada de decisão da alta de juros e seu impacto sobre o dia a dia da economia, existe um interstício temporal. Acreditamos que este verdadeiro choque de juros imposto pelo BC no último ano irá ganhar ainda mais efetividade em breve, com efeito positivo sobre as expectativas inflacionárias.”
A dupla da Órama complementa: “Nossa leitura é de que, apesar de deixar a porta entreaberta para nova elevação de 0,25 p.p., a probabilidade maior é que a taxa fique nesses 13,75% por longo tempo. Acreditamos ser prudente aguardar e avaliar como esse forte movimento irá afetar a economia, pelos seus potenciais efeitos desinflacionários.”
E concluem sobre a decisão do Copom: “Cabe ressaltar que em anos eleitorais as pressões por maiores gastos são comuns, caso recente da PEC dos Benefícios, o que denota uma fragilidade fiscal que acaba afetando para pior as expectativas, daí o cuidado do Copom com essa temática ser recorrente. Por fim, a reversão da política monetária acomodatícia do FED e do BCE deverá trazer um ambiente recessivo global, o que é potencialmente desinflacionário para as principais economias, podendo, inclusive, impactar para baixo os índices de preços de economias emergentes, como a nossa.
(Com informações do Estadão Conteúdo e da Agência Brasil)