Temor por recessão: dólar sobe 1,27% e fecha no maior valor desde janeiro
O dólar emendou mais um pregão de forte alta na sessão desta terça-feira, 12, e voltou a ultrapassar a linha de R$ 5,40, alcançando o maior valor de fechamento desde 26 de janeiro. Uma vez mais, o real e seus pares emergentes sofreram com o tombo das commodities diante dos temores de que o mundo amargue uma recessão, agravados por novas medidas restritivas na China para combate a surto de Covid-19 e dados fracos de atividade na Europa.
A perspectiva de que a inflação ao consumidor nos Estados Unidos em junho, que será divulgada amanhã, apresente a maior alta anualizada em 40 anos, hipótese admitida até pelo presidente americano, Joe Biden, alimenta a busca global pela moeda americana. Referência do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY operava em leve alta no fim da tarde, acima dos 108,100 pontos.
Pela manhã, o euro atingiu a paridade com o dólar, ou seja, o valor de 1 por 1, pela primeira vez desde 2002, sob impacto do resultado do índice ZEW de expectativas da Alemanha abaixo do esperado em julho (-53,8 pontos). Paira sobre a região o temor de que, após o período de manutenção do gasoduto Nord Stream 1 (até 21 de julho), a Rússia não retome totalmente o fornecimento de gás à Europa.
Por aqui, o dólar já abriu em alta firme, superando a linha de R$ 5,40. Após passar a tarde rodando entre R$ 5,41 e R$ 5,42, acelerou na última hora de negócios com piora do sentimento externo e tocou máxima a R$ 5,4431 (+1,34%). No fim do dia, a moeda avançava 1,27%, cotada a R$ 5,4391. Com isso, a divisa dos EUA acumula valorização de 3,25% nos dois primeiros pregões desta semana.
“Vemos hoje uma continuidade da dinâmica de ontem nos mercados. O real está apanhando muito por conta das commodities. Há uma desalavancagem bem forte em ativos de risco com o medo de recessão”, afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig.
Commodities agrícolas e metálicas desabaram. O cobre fechou em baixa de mais de 4%. O minério de ferrou negociado em Qingdao, na China, caiu 7,64%, para o nível mais baixo desde dezembro de 2021. As cotações do petróleo tombaram mais de 7% com perspectiva de desaceleração da atividade global. O contrato do Brent para setembro, referência para a Petrobras, fechou em queda de 7,11%, a US$ 99,49 o barril. Moedas emergentes latino-americanas pares do real, também muito ligadas a commodities, apanharam, com as maiores perdas ficando com o peso chileno.
Segundo Jolig, a perspectiva é que o dólar siga forte no mundo. A divulgação do índice de inflação ao consumidor (CPI) nos EUA em junho amanhã deve reiterar a aposta de que o Federal Reserve manterá o ritmo de aperto monetário, em um ambiente de mercado de trabalho apertado e inflação já dando sinais de inércia. Do outro lado do Atlântico, o Banco Central Europeu (BCE) deve ser mais cauteloso, o que prejudica o euro. Eventuais problemas de fornecimento de gás russo têm impacto ao mesmo tempo recessivo e inflacionário na região e dificulta o trabalho do BCE.
Segundo o gestor, esse quadro global conturbado acaba por prejudicar o real, que não consegue se beneficiar da perspectiva de manutenção do diferencial entre juros internos e externos em níveis elevados, a despeito do aperto monetário conduzido pelo Fed. “Existe também uma demanda tradicional por dólar com a proximidade das eleições, embora não veja grandes mudanças na política econômica“, afirma Jolig. “A tendência de apreciação do real por enquanto está interrompida”.
Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, o fortalecimento da moeda americana no exterior impede que a taxa de câmbio se fixe abaixo de R$ 5,00. “O movimento recente do dólar global sugere que o nível próximo ao atual do real, ou um pouco mais forte ou mais fraco, é razoável dado todo o contexto global e como o dólar tem se comportado perante outras moedas”, disse Mesquita, em evento. (Colaborou Cicero Cotrim)
(Com informações do Estadão Conteúdo)