Fed: alta de juros deve ser de 0,75 ponto percentual; bolsas de NY desabam
O Federal Reserve (Fed) deve anunciar na próxima quarta (15) um amento de 0,75 ponto percentual nas taxas de juros. Analistas do mercado dão como certa uma alta dessa magnitude depois que os relatórios de inflação indicam crescimento contundente de preços. As previsões aumentaram a pressão sobre os mercados acionários. Em Nova York, os índices recuaram com força. O Ibovespa acompanhou a tendência e também foi ladeira abaixo. O dólar subiu e bateu o patamar dos R$ 5.
Antes de os dirigentes do Fed iniciarem seu período de silêncio pré-reunião em 4 de junho, eles sinalizaram que estavam preparados para aumentar as taxas de juros em meio ponto porcentual nesta semana e novamente em sua reunião em julho. Mas eles também disseram que suas perspectivas dependiam da evolução da economia. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) divulgado na sexta-feira passada mostrou um salto maior nos preços em maio do que as autoridades previam.
Pesquisas com consumidores também mostraram que as expectativas das famílias em relação à inflação futura aumentaram nos últimos dias. Esses dados podem alarmar as autoridades do Fed porque acreditam que essas expectativas podem ser autorrealizáveis.
O Fed elevou as taxas em meio ponto porcentual em sua reunião no mês passado, o primeiro aumento desse tipo desde 2000, para a faixa entre 0,75% e 1%. O Fed elevou as taxas pela última vez em 0,75 ponto porcentual em uma reunião em 1994, quando o banco central estava aumentando rapidamente as taxas para evitar um potencial aumento da inflação.
O presidente do Fed, Jerome Powell, evita surpreender os mercados no dia das reuniões de política, argumentando em vez disso que o banco central pode atingir seus objetivos de apertar a política monetária moldando as expectativas do mercado.
Mas ele também disse em uma entrevista no mês passado que o Fed seria guiado pelos dados econômicos que estão por vir. “O que precisamos ver são evidências claras e convincentes de que as pressões inflacionárias estão diminuindo e a inflação está caindo. E se não virmos isso, teremos que considerar agir de forma mais agressiva”, disse Powell.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos avançou 1,0% em maio ante abril, segundo dados com ajustes sazonais divulgados nesta sexta-feira (10), pelo Departamento de Trabalho do país. O resultado representa uma forte aceleração da inflação dos EUA em relação à alta de 0,3% no mês anterior e superou a previsão de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que estimavam avanço de 0,7%.
Bolsas fecham em queda forte em NY à espera do ajuste do Fed
As bolsas de Nova York fecharam em queda robusta nesta segunda-feira, em meio à deterioração do sentimento de risco. Enquanto o mercado aguarda pela decisão do Fed na quarta-feira, crescem as perspectivas de que o BC americano pode acelerar ainda mais o ritmo de aperto monetário, sendo que alguns analistas dizem que a instituição pode surpreender ao subir juros em 75 pontos-base já no dia 15. Neste cenário, o S&P 500 fechou em bear market, ou seja, caiu 20% em relação ao último pico.
No fechamento, o índice Dow Jones caiu 2,79%, a 30.516,74 pontos, o S&P 500 perdeu 3,88%, a 3.749,63 pontos, e o Nasdaq recuou 4,68%, a 10.809,23 pontos. Entre os destaques negativos, estão os papéis de aéreas, como American Airlines (-9,45%), Delta Air Lines (-8,29%) e Boeing (-8,77%). Petroleiras também tiveram quedas robustas, com Chevron (-4,60%) e Occidental Petroleum (-6,33%).
O Barclays afirma que, após a inflação “elevada de modo chocante” de maio nos Estados Unidos, o Fed deve elevar os juros em 75 pontos nesta quarta-feira. Antes do dado da sexta-feira, o banco projetava alta de 50 pontos-base. Com isso, o Barclays diz agora que a taxa de juros no fim do ciclo de aperto deve estar na faixa entre 3,00% e 3,25%, no início de 2023.
De acordo com reportagem do The Wall Street Journal, uma série de relatórios preocupantes de inflação nos últimos dias deve levar as autoridades do Fed a considerar o aumento de 75 pb. “O presidente do Fed, Jerome Powell, evitou surpreender os mercados no dia das reuniões de política, argumentando em vez disso que o banco central pode atingir seus objetivos de apertar a política moldando as expectativas do mercado. Mas ele também disse em uma entrevista no mês passado que o Fed seria guiado pelos dados econômicos que estão por vir”, diz o texto.
Para o Citi, talvez a maior questão para a reunião de quarta seja como Powell reage aos novos preços de mercado. “Wall Street está enfrentando uma infinidade de manchetes negativas, mas o problema é que, até que vejamos uma deterioração nas condições de crédito e no funcionamento do mercado, o Fed tem luz verde para apertar o máximo possível para manter a inflação sob controle”, destaca Edward Moya, da Oanda. Moya ainda prevê que, se Wall Street começar a precificar um aperto muito mais agressivo do Fed, as vendas técnicas podem arrastar o S&P 500 para o nível 3,5 mil.
Nos EUA, índice da inflação tem em maio salto anual de 8,6%, o maior desde 1981
O núcleo do CPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, aumentou 0,6% na comparação mensal de maio, a mesma variação registrada em abril. Neste caso, o consenso do mercado também apontava para acréscimo menor da inflação dos EUA, de 0,5%.
O aumento de preços nos EUA é o ponto principal de atenção dos mercados porque o Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) está elevando as taxas de juros e cortando seu balanço patrimonial para tentar conter a escalada dos preços.
“Vale pontuar que o índice apenas ajudará a reforçar perspectivas de quão célere deverá ser o avanço praticado pela autoridade monetária americana, ou seja, nem se cogita a possibilidade de manter o ritmo em 25bps ou até mesmo interrupções ainda esse ano, principalmente depois das declarações da vice-presidente, Brainard”, disse o analista da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Na comparação anual, o CPI dos EUA deu um salto de 8,6% no mês passado, no maior nível desde dezembro de 1981, após ganho de 8,3% em abril.
Já o núcleo teve elevação anual de 6,0%. Os analistas esperavam que a alta fosse de 8,3% para o indicador cheio e de 5,9% para o núcleo.
O índice que mede os preços de energia disparou 34,6% em maio ante igual mês de 2021, maior valor desde setembro de 2005.
Já o de alimentos subiu 10,1%, primeira alta de dois dígitos desde março de 1981.
“Embora quase todos os principais componentes tenham aumentado ao longo do mês, os maiores contribuintes foram os índices de moradia; passagens aéreas; carros e caminhões usados; e veículos novos. Os índices de cuidados médicos; móveis e operações domésticas; recreação; e vestuário também aumentaram em maio”, informou o Departamento do Trabalho sobre a inflação dos EUA.
Analistas e bancos esperam “ação agressiva do Fed contra a inflação
Alguns analistas de Wall Street, incluindo os bancos de investimento Barclays e Jefferies, disseram na sexta-feira, após a divulgação dos dados de inflação, que esperavam que o Fed aumentasse as taxas em 0,75 ponto porcentual nesta semana.
“Acreditamos que as considerações de gestão de risco exigem ação agressiva para reforçar a credibilidade do Fed no combate à inflação”, escreveram economistas do Barclays em um relatório nesta segunda-feira. Embora tal movimento “vai contra as comunicações que levam ao período de apagão”, o relatório disse que “os riscos de inflação prolongada se intensificaram”, justificando o aumento maior da taxa.
Autoridades do Fed disseram que gostariam de responder agressivamente aos sinais de que as expectativas de inflação estavam subindo, ou se “desancorando”, porque acreditam que o processo de arrancar a inflação da economia se tornará muito mais difícil se isso acontecer. “É um golpe duplo”, disse Diane Swonk, economista-chefe da Grant Thornton. “Eles têm que ir agora com 75 pontos-base. O Fed está atrás da curva, e eles sabem disso”.
Com informações do Estadão Conteúdo