Copom deve aumentar taxa Selic para 13,25% e mercado já prevê mais uma alta; veja por quê

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que irá definir reajuste à taxa básica de juros do Brasil, a Selic, começa nesta terça-feira (14). O comunicado oficial será divulgado ao mercado na quarta-feira (15), no final da tarde. A estimativa do mercado financeiro é por um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, hoje em 12,75. A maioria dos analistas prevê espaço para mais uma alta antes do final de 2022.

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Se a previsão dos especialistas se materializar, a taxa Selic será de 13,25% ao ano. A ata do Copom, divulgada no início de maio, já enfatizava a intensidade e a necessidade de ajuste, com o impacto da inflação.

Segundo Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, apesar da desaceleração no IPCA de maio (que subiu 0,47% no mês, abaixo dos 1,06% registrados em abril e dos 0,83% anotados em maio do ano passado), a inflação segue sem dar mostras de que vai continuar recuando. “A discussão em torno da alteração dos tributos dos combustíveis, energia, telecomunicações e transporte público gera mais incertezas para o Banco Central”, diz Sung.

O economista argumenta que o BC já não está mais tão preocupado em atingir a meta da inflação deste ano. “Apesar de estarmos chegando ao fim do ciclo de alta dos juros, vemos alguns fatores que dificultam a decisão da autoridade monetária”, aponta.

Os fatores que provocam essa indefinição são:

  • Commodities ainda pressionadas, com o petróleo de volta ao patamar dos 120 USD/barril;
  • O conflito no leste europeu e seus choques continuam;
  • Problemas na cadeia produtiva global se mantêm e pressionam os preços dos bens industriais;
  • Países desenvolvidos começaram a elevar as taxas de juros, o que pressiona o juro e a inflação brasileira;
  • Possível alteração na tributação dos combustíveis.

“Com esse cenário de incertezas, acreditamos que seria necessário um aumento total de 75 bps (0,75 p.p.) na taxa de juros, levando a Selic para 13,50% a.a. até pelo menos o primeiro trimestre de 2023”, disse Gustavo. “Apesar do mercado enxergar alta de 50 bps (0,5 p.p.), um ritmo de aperto mais forte colocaria o BC numa posição melhor para combater esses riscos do cenário macro no futuro. Caso o cenário inflacionário arrefeça, poderíamos enxergar uma queda mais rápida da Selic até o início do próximo ano.”

Sung acrescenta dizendo que não está descartado novo ajuste para a reunião de agosto, mas não é possível fazer previsões exatas para essa reunião no segundo semestre — essa correção dependerá da situação da economia do país até lá. O economista ressalta que a expectativa é de que, por esse motivo, o comitê não sinalize a magnitude do próximo aumento, nem o fim do ciclo, no comunicado que vai acompanhar a decisão desta quarta. Ainda assim, o mercado já antevê como certo um avanço de até 0,50 pp em agosto.

Blue3 Investimentos estima postura mais dovish do Copom

Para a Blue3 Investimentos, o Copom deve continuar em um caminho de movimento de aperto monetário – só que menos agressivo. Bruna Centeno, economista e especialista em Renda Fixa da Blue3,vê a possibilidade uma postura mais dovish por parte do Copom, “considerando que o aumento pode até vir abaixo do que é esperado, de 0,50% para 0,25% em agosto.” Ou seja, ela vê um aumento de 0,50% na decisão desta quarta seguido por outro de 0,25% daqui a dois meses.

Por isso vale acompanhar as movimentações a respeito do projeto de corte nos tributos federais, que tem causado uma percepção negativa no mercado pela falta de transparência da origem dos recursos para bancar esse projeto. “Dessa forma, podemos esperar uma Selic terminal por volta de 13,50%”, observa.

Ainda que a desoneração consiga atingir positivamente a inflação para 2022, é preciso clareza a respeito de como será realizada a compensação do corte, já que isso pode trazer um efeito agravante para inflação nos próximos anos.

“Como o ICMS é um tributo que representa umas das maiores fontes de arrecadação estadual, é possível que esse projeto do governo impossibilite políticas públicas em áreas essenciais. A preocupação frente a esse cenário é forte: não sabemos como isso pode impactar a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos. Com esse cenário de incerteza fiscal, é possível que o Copom mantenha o aperto monetário equalizando essa melhora de curto prazo em função do projeto do ICMS, considerando os possíveis desdobramentos futuros dessa aprovação”, afirmou a economista.

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Alta da Taxa Selic ainda deve impactar mais na inflação

“Esperamos que o Copom diminua o ritmo de alta e aumente a taxa Selic em 50 pontos-base, colocando-a em 13,25% a.a. na quarta”, diz o relatório do Banco BTG Pactual (BPAC11).

Os analistas do BTG projetam que o BC espera enxergar mais movimentação sobre o impacto da alta da taxa Selic nos números da inflação.

“Quando discutindo sua trajetória futura, a estratégia considerada mais adequada foi apontar para uma provável extensão do ciclo, com um ajuste de uma magnitude menor à frente”, afirmaram, recapitulando a ata da reunião do Copom feita em maio.

“Na ata, o comitê voltou a discutir os motivos da divergência de suas projeções daquelas do mercado, e algumas das questões levantadas sugerem riscos mais perenes. Por fim, na redação da ata, a comissão destacou o atual nível de incerteza. Assim, a comunicação indicou outro reajuste da taxa Selic em junho, com algum espaço para avançar mais”, pontua o texto.

Sobre as expectativas daqui para frente, o banco de investimentos viu uma surpresa favorável o IPCA de maio, mas, lembra o banco, a inflação se mantém muito alta, especialmente para a categoria de serviços de bens industriais.

Mesmo com o processo de reabertura econômica com a vacinação contra a Covid, o repasse de custos acumulados durante a pandemia e a normalização de preços ainda em andamento, a visão do BTG Pactual para o futuro é de que a forte recuperação do mercado de trabalho e a alta do nível de inflação corrente devem continuar pressionando reajustes dos preços de serviços.

“Portanto, nossas últimas estimativas de IPCA para 2022 e 2023 continuam acima das projeções divulgadas pelo BC em maio e do atual consenso de mercado”, afirmam.

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UBS: preocupação com impacto da alteração do ICMS na inflação de longo prazo

O UBS BB também mira alta de 50 pontos-base para a Selic, alcançando 13,25% ao ano. Na opinião dos analistas do UBS, a possível mudança na tributação do ICMS é uma surpresa negativa. Se aprovada, a expectativa é de uma queda de 1,2 p.p no IPCA no curto prazo, mas, como algumas alterações valem apenas para 2022, há possibilidade de uma reversão em 2023.

Na opinião do UBS, o comitê do BC continua preocupado com a deterioração das expectativas de inflação para 2023-2024, mas enxerga a taxa real e curto prazo já acima do neutro, na faixa de 6,5%-7% ao ano, contra estimativa da autoridade monetária para neutro em 3,5%-4%.

É esperado que a inércia da inflação seja controlada com mais uma alta da taxa Selic, com os 50 bps. Para os próximos meses, “acreditamos que o comitê manterá a porta aberta para uma possível alta final em agosto, que dependerá dos dados que eles coletam até lá”, diz o relatório.

Itaú BBA espera “consistência do Copom” em aumento da Selic

O Itaú BBA também mede uma alta de 50 pontos-base na taxa básica de juros na próxima reunião do Copom. “A nosso ver, esse movimento seria consistente com a sinalização presente no comunicado e ata da reunião de maio, em que as autoridades descrevem como provável um ajuste adicional de menor magnitude (com relação ao ritmo de 1,00 p.p. adotado até então) em sua próxima decisão”, disse o banco de investimentos.

O relatório destaca que o aspecto adicional sobre a possibilidade de reduções de impostos que, se implementadas, podem ter impacto baixista significativo na inflação projetada para este ano deve ser considerado pelo comitê.  “Acreditamos que, no momento, essa possibilidade deverá ser tratada como um risco, o que limita sua influência sobre a decisão de juros a ser tomada nesta reunião.”

Além disso, o Itaú BBA ressalta que considera uma subida do Copom nas projeções de inflação (que inclui taxa de câmbio seguindo a paridade do poder de compra e taxa de juros, de acordo com a pesquisa Focus) aumentarão de 7,3% para 8,6% em 2022 e de 3,4% para 3,9%, em 2023.

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Inflação dá sinais de trégua, mas BC não vai encerrar ciclo de alta de juros em 2022

João Beck, economista e sócio da BR Advisors (BRA), faz coro com a projeção de alta de 50 pontos da Selic na próxima reunião do Copom.

“O Copom deve seguir a linha que tem tomado ultimamente de um caráter hawkish e precavido, com tom rígido e firme no comunicado. Foi uma atitude bem oposta ao início do ciclo de alta em meados de 2021 quando ainda se esperava uma inflação global temporária”, explica Beck. Além disso, o economista destaca que houve uma desaceleração significativa sobre a inflação no grupo de alimentos e bens para casa, mas que vê o Copom subindo a projeção em junho.

Sobre o ICMS, o economista analisa a situação de uma forma mais otimista: com a inflação já dando sinais de arrefecimento, pode-se ganhar ainda mais espaço com a redução do ICMS para transportes, energia elétrica, combustível. “De toda forma, o que é evidente é que nossa taxa de juros em nível muito contracionista”, disse.

Por fim, ele relembra que a guerra da Ucrânia adiou os planos do Banco Central de encerrar o ciclo de alta no primeiro trimestre do ano próximo, aos 12%.

“Tivemos altas adicionais com o preço dos alimentos e combustível. De alguma forma, todo o mundo terá altas acima do esperado. Os Estados Unidos, por exemplo, previam uma taxa terminal em 2,5%, mas o Fed já fala em 5%”, finalizou. Para o final do ano, ele prevê que a taxa Selic fique em 13,50% ao ano.

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Victória Anhesini

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