Fed acena com altas de 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões

Os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed), defendem mais dois aumentos de 0,5 ponto percentual nas próximas duas reuniões do colegiado do banco central americano, em junho e julho, diz ata da última reunião divulgada nesta quarta (25).

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De acordo com o documento, na reunião ocorrida nos dias 3 e 4 de maio todos os dirigentes reafirmaram o seu forte empenho e determinação em tomar as medidas necessárias para restabelecer a estabilidade de preços.

Nesse contexto, por unanimidade, os dirigentes concordaram que era apropriado aumentar os Fed Funds em 50 pontos-base.

“Para tanto, os dirigentes concordaram que o Comitê deveria mudar rapidamente a postura da política monetária para uma postura neutra”, diz o texto.

No último encontro, em 4 de maio, o comitê decidiu pelo aumento da taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para o intervalo entre 0,75% e 1,00% ao ano. Foi a segunda alta das taxas do país desde 2018 e o maior aumento desde 2000.

O presidente do Fed Jerome Powell havia descartado, em entrevista naquele dia, aperto maior na reunião seguinte do comitê — com aumento, por exemplo, de até 75 pontos-base. Essa alta, até o início de maio, era sustentada pelos próprios dirigentes do Fed. O mercado projetava o mesmo aumento em função do aumento de preços no país.

“A maioria dos participantes julgou que aumentos de 50 pontos base nos juros provavelmente seriam apropriados nas próximas reuniões”, afirmaram na ata os integrantes do comitê. A elevação persistente de preços e o quadro da economia preocupam os membros do Fed. Os dirigentes concordaram que os riscos inflacionários se inclinaram para cima. Decisões monetárias, acrescentaram, devem continuar dependentes de indicadores priorizando a inflação.

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Os dirigentes citaram riscos associados a gargalos de fornecimento contínuos e preços crescentes de energia e commodities – ambos exacerbados pela invasão russa da Ucrânia e bloqueios relacionados à covid-19 na China.

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Além disso, foram mencionados os riscos derivados do crescimento nominal dos salários.

“Os dirigentes concordaram que as perspectivas econômicas eram altamente incertas e que as decisões de política monetária deveriam ser dependentes de dados e focadas em retornar a inflação para a meta de 2%, mantendo as condições do mercado de trabalho fortes”, diz o documento.

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Alguns dirigentes do Fed ainda enfatizaram que a inflação persistentemente alta aumentava o risco de que as expectativas de inflação de longo prazo fiquem desancoradas, dificultando a tarefa de trazer a inflação de voltar à meta de 2%.

O mercado reagiu à ata sem sustos, interpretando o tom do documento como previsível, de acordo com as expectativas: em Nova York, no fechamento: Dow Jones avançou 0,60%, S&P500 subiu 0,95% e Nasdaq ganhou 1,51%. O Ibovespa fechou estável, aos 110.579 pontos. O dólar terminou o pregão com leve alta de 0,18%, a R$ 4,8209.

Apoio à proposta para reduzir o balanço patrimonial

Todos os dirigentes do Fed sinalizaram apoio à proposta para reduzir o balanço patrimonial a partir de 1º de junho, segundo a ata da última reunião de política monetária da instituição, divulgada nesta quarta-feira.

De acordo com o documento, vários dirigentes comentaram que, após a liquidação do balanço estar bem encaminhada, seria apropriado que o Comitê considerasse as vendas de títulos atrelados a hipotecas (MBS).

“Qualquer programa de vendas da agência MBS seria anunciado com bastante antecedência”, ressalta o texto.

A ata destaca que muitos dirigentes julgaram que acelerar a remoção da acomodação deixaria o Comitê bem posicionado no final deste ano para avaliar os efeitos da consolidação de política monetária. “À luz do alto grau de incerteza em torno das perspectivas econômicas, os dirigentes julgaram que as considerações de gestão de risco seriam importantes”, diz. “Eles também observaram que uma postura restritiva da política pode se tornar apropriada dependendo da evolução das perspectivas econômicas e dos riscos para as perspectivas”, completa.

Dirigentes do Fed esperam avanço sólido do PIB no 2º tri e não mencionam recessão

Os dirigentes do Fed esperam que a economia dos Estados Unidos tenha crescimento sólido no segundo trimestre deste ano, apesar da queda vista nos três meses anteriores. A ata da reunião monetária mais recente, de 3 e 4 de maio, não traz qualquer menção à possibilidade de recessão.

De acordo com o documento, os membros notaram que os componentes voláteis, como exportações líquidas e investimento em estoque, devem ter “pouco sinal” sobre o crescimento neste trimestre e observam que os gastos de famílias e investimentos fixos de empresas seguiram fortes nos três primeiros meses do ano.

A expectativa dos dirigentes é que o desequilíbrio entre oferta e demanda agregadas diminua ao longo do tempo. Eles observaram que a duração e magnitude dos gargalos de oferta, aumento da participação da força de trabalho e efeitos das políticas fiscais ligados à pandemia são incertos.

Conforme consta em ata, membros do Fed concordaram que os lockdowns para conter o avanço da covid-19 na China devem intensificar gargalos de oferta e, assim como a guerra da Rússia na Ucrânia, representam riscos à economia americana e global.

Quanto ao mercado de trabalho, alguns dirigentes do Fed notaram que há sinais de que fatores ligados à pandemia que restringiam a oferta de mão de obra esyejam diminuindo. A perspectiva econômica, porém, segue “bastante incerta”.

“Ata do Fed vem menos rígida do que o mercado esperava”

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores. comenta: “A ata do Fed vem em tom duro, mas menos rígido do que mercado esperava. Mercado reagiu de forma positiva: é aquele respiro antes de voltar a cair, pois o cenário mundial ainda é muito desafiador e tudo está mudando. Ninguém está otimista. A ata confirma que vai ser preciso pelo menos mais duas altas de 50 pontos. Vai ser duro agora ter tempo para analisar lá na frente porque sabem que no verão [nos EUA] a inflação de serviços será muito pressionada devido à demanda reprimida de muita gente que tem viagem contratada independente da crise e mão de obra no setor está em falta.”

Ele acrescenta: “Como os dirigentes citam na ata, inflação não depende só da alta de juros pelo Fed. Depende da situação da China com Covid zero, que precisa ter um horizonte mais definido com cadeias de produção a serem retomadas, além da necessidade da resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia.”

Oliveira conclui: “Por último, vemos um tom mais duro, pois já traz o consenso de que alguns membros discutiram levar juros para níveis restritivos, ou seja, juros reais positivos, o que mercado temia porque não se esperava que juros chegassem nesse nível positivo. Por isso, que o tom fica mais duro no final. Também foi comentado que pacote de tirar estímulos vai seguir com plano. Começa em junho e deve manter ritmo até estar com balanço saudável. Achei positivo para o mercado, porém é preciso tomar cuidado. Vemos um movimento mais dovish. É só um respiro, nada muda. A dinâmica ainda é muito desafiadora para o Fed. O mercado sabe que vai ter muita drenagem de liquidez ainda. Não dá para se animar.”

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Com informações do Estadão Conteúdo

Marco Antônio Lopes

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