Bitcoin e o sonho de uma economia livre

A criptoeconomia pode ser a solução perfeita para um mundo multipolar, em que ainda teremos grandes cadeias de produção e os atores comerciais precisarão de canais seguros e confiáveis independente das ações de seus governantes

por João Canhada 05/04/2022 08:00

Nos últimos meses vimos diversas potências mundiais utilizando de uma arma de guerra que não precisa de disparos, explosivos, mas que potencialmente tem um papel tão destruidor quanto.

Estou falando das armas monetárias, muito utilizadas pelo Ocidente como uma punição contra nações, povos e países. Entretanto, o uso indiscriminado de sanções monetárias tem criado desconfiança entre os governos que agora buscam uma saída.

Um dos capítulos mais importantes dessa história de guerra monetária está acontecendo diante dos nossos olhos. Após mais de uma década criando reservas em dólar, ouro e euro, a Rússia de Putin viu seus bens congelados ao redor do globo.

E não apenas o Estado Russo, mas também cidadãos que muitas vezes nem apoiavam o regime de Moscou sofreram consequências econômicas.

Isso tem criado desconfiança na reserva de valor mundial, o dólar. Não acredita? O FMI confirmou o que o mundo já estava vendo nos últimos anos a decadência do dólar como reserva mundial. Um estudo feito por Serkan Arslanalp, Barry Eichengreen, and Chima Simpson-Bell para o FMI, mostrou um gráfico extremamente revelador sobre as reservas dos bancos centrais desde 1999, olhe você mesmo:

O gráfico mostra a decadência do dólar como reserva de valor pelos Bancos Centrais. Mas o mais curioso não é a queda do dólar e sim quem está tomando o lugar dele. A adoção do yen e do euro, apesar de maiores, não foram as responsáveis pela decadência do dólar.

Já o “outros” no gráfico indica a preferência por reservas alternativas ao tradicional. Os gestores dos Bancos Centrais estão diversificando o risco monetário – ninguém quer acordar no outro dia e ver suas reservas cambiais sancionadas pela potência vigente ou em ascensão.

Diversificação e o Bitcoin como reserva de valor

Os gestores dos BCs são pessoas preparadas, geralmente eles sabem muito bem que não se pode deixar todos os ovos na mesma cesta. Hoje, o sistema de pagamentos SWIFT foi bloqueado para bancos russos. O que acontecerá se essa ferramenta for usada por motivos meramente políticos?

Os governos não querem pagar para ver. É por isso que vemos a criação de CBDCs (as moedas digitais dos BCs). Mas ao mesmo tempo, não existe alternativa de moeda nacional tão segura quanto o dólar.

O Renmibi chinês não dá tanta segurança jurídica, o Yen é emitido por uma economia estagnada, o Euro anda cada vez mais frágil em um continente que vê a guerra na sua porta.

Qual é a solução para mantermos o comércio global? A saída óbvia são as criptomoedas.Não é por acaso que o deputado russo e responsável pelo comitê de energia Pavel Zavalny afirmou que o país poderá aceitar até mesmo criptomoedas para vender petróleo e derivados para parceiros comerciais.

Apesar do mercado de criptomoedas ter apenas US$ 2,13 trilhões em valor de mercado, a infraestrutura para torná-lo mais estruturado já está sendo montada ao redor do mundo.

Temos mineradores de bitcoin que estão em países tão distintos quanto Paraguai, Estados Unidos, Rússia, Irã, Venezuela e até mesmo Coréia do Norte.

Corretoras de criptomoedas como a Foxbit já transacionam bilhões de reais todos os anos, o Ethereum movimentou 4,5x mais dinheiro que a Visa em 2021 (isso sem as melhorias que estão por vir em 2022/2023), sem contar as camadas de escalabilidade que servem perfeitamente a demanda do varejo como a Lightning no Bitcoin e redes como MATIC e LRC no Ethereum.

A criptoeconomia pode ser a solução perfeita para um mundo multipolar, onde ainda teremos grandes cadeias de produção e os atores comerciais precisarão de canais seguros e confiáveis independente das ações de seus governantes. No mercado onde há mais desconfiança entre as partes, um dinheiro verdadeiramente livre não é mais opcional, é necessário, Bitcoin fix this.