Banco Inter (BIDI11) despenca 8,88%, pior baixa do dia; entenda os motivos
As declarações mais duras do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, sobre a possibilidade de que os juros podem subir mais rapidamente, derrubaram as ações do Banco Inter (BIDI11), que lideraram o ranking das maiores perdas do Ibovespa hoje. Outros motivos fizeram derreter os papéis do banco.
As units do Banco Inter fecharam o dia no Ibovespa com queda de 8,88%, a R$ 18,05.
Durante evento organizado pela associação Nacional de Economia para Empresas (Nabe, na sigla em inglês), Powell afirmou que não descarta um cenário de aperto monetário mais rápido do que o atual, caso um prolongado período de escalada de preços nos Estados Unidos impulsione as expectativas de inflação para um nível insustentável.
Na semana passada, a decisão foi de elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, à faixa entre 0,25% e 0,50%. “Se concluirmos que é apropriado agir de forma mais agressiva, elevando a taxa dos Fed Funds em mais de 25 pontos-base em uma reunião ou reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto, FOMC, o faremos”, disse Powell.
Powell também afirmou que “há um clara necessidade” de retornar a política monetária a uma postura mais “neutra”, ou até “mais restritiva”, se necessário, para assegurar a estabilidade de preços. “Estamos comprometidos em restaurar a estabilidade de preços, preservando um mercado de trabalho forte”, destacou.
De acordo com Rafael Marques, sócio-fundador da Philos Invest, são dois motivos principais para a queda acentuada do Banco Inter:
- O possível aumento mais intenso da alta de juros e;
- A alta que a empresa teve nos últimos dias.
“As empresas que têm boa parte do valor dela no futuro, as empresas de crescimento, são altamente afetadas pelo aumento da taxa de juros”, explicou Rafael. “Elas tem um impacto no fluxo de caixa delas muito maior”.
Ele destaca que a queda de hoje, especificamente, juntou esses dois fatores para levar uma reprecificação das units no mercado.
Outras empresas de tecnologia, como Méliuz (CASH3) e Banco Pan (BPAN4), que fecharam com -3,59% e -3,10%, respectivamente, caíram, mas não tanto como as ações do Banco Inter.
Banco Inter (BIDI11): BofA corta (e muito) o preço-alvo; entenda os motivos
O Bank of America diminuiu na semana passada o preço-alvo do Banco Inter (BIDI11) de R$ 60 para R$ 36, incorporando novas estimativas para o Modelo de Dividendo Descontado. Entenda a análise do banco.
Anteriormente, o BofA utilizava o modelo de Índice de Preço sobre Lucro em Crescimento (PEG, na sigla em inglês), mas, com a volatilidade de 2022 e 2023, realizou a mudança para atualizar o preço alvo. “Reiteramos nossa recomendação de compra dado o potencial de alta atraente, enquanto negociamos em múltiplos baixos históricos”, diz o relatório.
A previsão do BofA para o Banco Inter é de que o foco deve estar na geração de receita, apesar do cenário macroeconômico desafiador, com perspectiva de crescimento de receita em 65% e 41% em 2022 e 2023, respectivamente, com uma forte expansão na base de clientes.
“Esperamos que o ARPAC (receita média por cliente ativo) continue aumentando, principalmente devido à receita de tarifas, já que o custo de captação mais alto e uma abordagem conservadora no cartão de crédito são fatores adversos para a receita líquida de juros (NII)”, afirmam os analistas Mario Pierry e Flavio Yoshida.
De acordo com os analistas, os investidores estão cada vez mais preocupados com a qualidade dos ativos dos bancos. Especificamente para o Banco Inter, o aumento inesperado de inadimplentes no 4T21 levantou questionamentos.
Porém, o relatório destaca que cerca de 74% da carteira de crédito do Banco Inter é formada por créditos de baixa inadimplência (NPL, na sigla em inglês), que incluem:
- Hipoteca (29%);
- PMEs com fortes garantias (22%);
- Folha de pagamento crédito (19%);
- Agro (4%), “que deve ter um papel importante na manutenção da inadimplência controlada em um macro desafiador”.
Além disso, a administração do banco reduziu o apetite ao risco do cartão de crédito desde novembro do ano passado, em um movimento defensivo.
De acordo com os analistas, o Banco Inter está sendo negociado com um desconto significativo, quando comparado ao seu principal par listado, o Nubank (NUBR33), a US$ 180 por cliente versus US$ 560, “o que nos parece excessivo, especialmente considerando que o banco já está gerando um ARPAC maior de R$ 412 versus R$ 363”, explicaram.