MRV (MRVE3): apesar do 4T21 fraco e margem pressionada, analistas reiteram compra
Os resultados do balanço do quarto trimestre de 2021 da MRV (MRVE3) provocaram reação negativa no mercado.
Na sexta-feira (11), os papéis da empresa chegaram a derreter 11% com a divulgação dos resultados da Tenda (TEND3), que impactou o setor de construção no Ibovespa. Na última quinta (17), a MRV perdeu 5%.
A Genial Investimentos afirma que o último trimestre de 2021 da companhia foi marcado por uma operação core fraca, além de forte compressão das margens quando comparada aos pares do mercado.
“O que segurou o resultado core fraco foram suas operações pela AHS, Urba e Luggo”, disse Luis Assis, analista da Genial. Destaca ainda que, apesar do balanço ter sido mais fraco do que o esperado, acreditou que a reação do mercado seria mais neutra, com viés negativo, na abertura do dia seguinte à divulgação, justamente pelos números da Tenda.
A receita da MRV, de R$ 1,9 bilhão, veio acima da expectativa da Genial, mas foi ofuscada pela compressão forte da margem bruta. Depois do ajuste de juros capitalizados, a margem teve uma queda de 3,3 pontos percentuais entre os dois últimos trimestres de 2021, recuo muito maior que o projetado, de 1,3 p.p.
“Apesar desse aumento significativo de custos, a MRV conseguiu manter suas despesas comerciais e administrativas bem controladas, o que nos indica que o único e grande problema hoje é, de fato, o aumento dos custos de construção e não uma queda na demanda”, diz o relatório.
A Genialdestaca que a preocupação maior no momento é a margem REF (que representa a esperada pelos empreendimentos vendidos). No balanço, há uma diferença de 11,3 pontos percentuais entre a margem REF e a reportada para a operação core. De acordo com o relatório, isso é alarmante, pois “o orçamento inicial dos projetos parece considerar projeções que têm se mostrado fora da realidade inflacionária que estamos vivendo”.
Isso pode prejudicar, segundo o relatório da Genial, a tomada de decisões da companhia em relação aos lançamentos e até mesmo resultar em uma revisão orçamentária completa, como ocorreu com a Tenda.
Para a Genial, o lado positivo do balanço foi a venda de três empreendimentos pela AHS Development por US$ 149 milhões e dois da Luggo, por US$ 106 milhões, o que gerou um efeito positivo no Ebitda e lucro da MRV. O efeito foi extremamente significativo no lucro da companhia. Dos R$ 300 milhões de lucro reportados no trimestre, 71% vieram da AHS e Luggo.
“O aumento de ambas as margens, no entanto, é de certa forma artificial, uma vez que a venda dos empreendimentos não é contabilizada como receita no top line — as operações da Luggo e AHS são de locação”, afirmou o analista.
Mesmo com o resultado core baixo, a Genial continua vendo a MRV positivamente com as operações promovidas pela Urba e AHS. A recomendação é de compra, no preço alvo de R$ 11, com potencial de alta de 10,36%. Há um porém: “Entendemos que o mercado ainda não precifica adequadamente as operações da AHS, que adicionam R$ 7,00/ação ao nosso preço alvo de R$ 18,00 para a MRV”, aponta o relatório.
XP recomenda compra da MRV, apesar da margem bruta prejudicada
A XP Investimentos, em relatório, também aponta os números da margem bruta da MRV, que essencialmente prejudicaram o balanço do 4T21. “O resultado veio abaixo do esperado, atingindo 22,4%, apesar das vendas líquidas contratadas recorde de R$ 2,4 bilhões pela MRV&Co, impulsionado pelas vendas da AHS, o aspecto mais positivo do trimestre para a empresa”, diz a análise.
“A receita líquida ficou abaixo das nossas estimativas, atingindo R$ 1,9 bilhão, com uma margem bruta abaixo do esperado de 23,4%”, lembra o texto. A XP esperava uma diferença de -1,5 p.p., enquanto o resultado na comparação anual foi de -5 pontos percentuais. “Como resultado, o lucro líquido ficou abaixo de nossas estimativas, atingindo R$ 300 milhões (24% abaixo da expectativa, mas +53% a/a), prejudicado pela compressão de margens nas operações brasileiras”.
O analista Ygor Altero ressaltou que a MRV reportou uma queima de caixa de R$ 236 milhões no segmento brasileiro (MRV, Urba e Luggo), afetado negativamente pela contínua antecipação de aquisição de materiais de construção para conter novos aumentos de preços e possíveis desabastecimentos na cadeia de suprimentos. Com isso, a dívida líquida/patrimônio líquido atingiu 40,4% (contra 40% no 3T21).
A XP reiterou a recomendação de compra com preço alvo de R$ 19 por ação, devido aos números positivos da AHS Development.
Safra vê dificuldades no curto prazo, mas acredita no potencial da MRV
Os analistas do Banco Safra acreditam que a MRV ainda está “sentido as dores da inflação da construção sobre suas margens”, com o desempenho operacional mais fraco. Porém, na opinião do banco, isso foi totalmente compensado pelos resultados da AHS Development, os principais responsáveis pelo lucro líquido da empresa de R$ 300 milhões.
Em 2021, a empresa atingiu R$ 9,4 bilhões (+24,9% a/a), o maior volume de lançamentos da história da MRV&Co. Mas o desempenho sofreu com os lançamentos da operação core no Brasil, que cresceram apenas 0,6% na comparação anual. Já a AHS conseguiu compensar a queda ao levantar R$ 1 bilhão.
“No geral, o desempenho mais fraco do core business da MRV foi explicado pelo aumento de 7,2% no preço médio das unidades vendidas em relação ao ano anterior e pela maior penetração do Programa Cancelamento Zero”, diz o relatório.
Por outro lado, o Safra acredita que a AHS foi a principal responsável pela expansão anual das vendas.
Outro aspecto importante mencionado foi o impacto da inflação no setor de construção, atingindo a margem bruta ajustada da MRV.
“Em suma, estamos mantendo nossa classificação de compra para MRV. Embora a MRV Brasil deva continuar sofrendo os impactos mais fortes da inflação no curto prazo, ainda acreditamos que é uma das empresas mais bem posicionadas para atuar no segmento de baixa renda”, apontam.
O banco vê a companhia como um porto seguro para desempenhar o papel de construção residencial, pois apresenta um mix de portfólio equilibrado, com grande flexibilidade para atuar nos segmentos de média e média/baixa renda.
A ação da MRV tem recomendação de compra, com preço alvo de R$ 24.
O Banco Safra elencou pontos positivos e riscos ao investir nas ações da MRV. Confira:
Vale a pena?
- Alto potencial de crescimento, com uma exposição crescente ao mercado imobiliário dos EUA;
- Carteira defensiva com uma ampla diversificação de risco;
- Posição de liderança no segmento de baixa renda no Brasil e método de construção econômico.
Quais os riscos?
- Mudanças estruturais no programa ‘Casa Verde e Amarela’, comprometendo a viabilidade do negócio;
- Aumento da taxa de desemprego, com aumento da inadimplência e redução da demanda;
- Maior inflação da construção, prejudicando a velocidade de vendas e as margens da empresa; e
- Taxas de juros mais altas, mantendo elevados custos de financiamento aos consumidores.
Cotação
A MRV fechou em alta de 9,69%, a R$ 11,09 nesta sexta-feira (18).