Selic: Reunião do Copom deve elevar taxa para 11,75%, mas pode haver surpresa

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que irá definir reajuste à taxa básica de juros do Brasil, a Selic, começa nesta terça-feira (15) e o comunicado será divulgado na quarta (16), no final da tarde. Para o mercado financeiro, já está precificado um ajuste positivo em 1 ponto percentual, para 11,75%, mas especialistas não descartam surpresas.

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Desde a divulgação da ata da última reunião do Copom – que já surpreendeu o mercado ao afastar a possibilidade de um ajuste negativo da Selic ainda em 2022 -, o grande fator que pode trazer novidades nesta reunião é a escalada do conflito no leste europeu, com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A disputa bélica, que entrou na terceira semana de hostilidades, fez disparar o preço de commodities, como o petróleo, níquel, trigo e milho, causou interrupções no fluxo de mercadorias na Ásia, além de produzir ondas inflacionárias por todo o mundo.

No Brasil, a alta do petróleo afetou não só a cadeia de derivados, mas trouxe também pressão de alta para toda a cadeia logística de produtos, dos alimentos aos eletrônicos.

Apesar do ciclo de alta dos juros – que busca, por meio da Selic, desincentivar o consumo, estimular a poupança e, assim, reduzir a alta dos preços -, a inflação do Brasil dá sinais de resiliência. No último mês, o IPCA subiu 1,01%, quase o dobro do registrado no mês anterior, de 0,54%, e a maior variação do índice para o mês de fevereiro.

Em resposta, as expectativas de preços para os próximos meses dispararam. Segundo Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (14), o mercado antecipa uma alta mensal do indicador oficial da inflação de 0,90% em março, disparada de 63,6% em relação à expectativa há uma semana, de 0,55%.

O resultado também elevou as expectativas de inflação para o próximo mês: em abril, o mercado financeiro espera alta de 0,80% no IPCA mensal, alta de 42,8% em relação à estimativa de uma semana atrás, de 0,56%.

Com a aceleração da alta dos preços, investidores preveem que, após a reunião deste mês, cujo aumento da taxa de juros de 1,0 p.p. parece certo, o Copom deve voltar a acelerar o ritmo de alta, com um novo reajuste de 1,25 p.p. em maio, ante palpite de 1,0 p.p. há uma semana.

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Selic: entre a economia fraca e as pressões inflacionárias

João Beck, economista e sócio da BR Advisors (BRA), avalia que o resultado das próximas reuniões do Copom não está tão claro quanto nos últimos encontros.

Entre os fatores, Beck destaca os indicadores divergentes no começo da semana passada, que apontavam cenário de desinflação.

“Há dois fatores antagônicos muito presentes na economia: o primeiro é o fator deflacionário”, afirmou citando o resultado do IGP-DI apontando uma desaceleração na inflação do consumidor.

Segundo Beck, “já há uma taxa Selic muito alta, acelerada depois da mudança da regra do teto de gastos, o crescimento da indústria está muito, muito fraco e bem abaixo do consenso, e alguns setores, como o de serviços, com mostram desaceleração forte, após ser responsável por parcela significativa do PIB do quarto trimestre”.

O segundo fator que prejudica as projeções para esta reunião é a guerra no leste europeu. Segundo Beck, o conflito impacta a economia brasileira por meio da alta do petróleo, derivados e alimentos, como trigo e fertilizantes.

“O Copom deve manter o ritmo de 1.00 ponto percentual e pode, eventualmente, sinalizar no comunicado taxa terminal maior. Ou seja, pode ser que tenha mais uma alta. O mercado estava começando a criticar o Banco Central de ter errado a mão e exagerado na dose da taxa de juros – que é o que sempre acontece, essa é a função do BC.”

“Mas agora vem esse impacto de energia e alimentos numa situação em que a gente já está com uma taxa de juros muito alta e um crescimento baixo e desacelerando. Acho que o Banco Central deve manter ajuste de 1 p.p. à taxa Selic para observar qual dos fatores que vai ganhar”, se são as pressões altistas ou baixistas, completou o economista.

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Pressão altista deve atingir inflação já a nível elevado

Rob Correa,  analista CNPI e fundador da Hedgepoint, lembra que a invasão da Ucrânia pela Rússia mudou a perspectiva da inflação e da taxa Selic no Brasil.

“Em minha opinião, com o aumento já observado hoje no preço das commodities, a inflação no Brasil vai continuar forte nos próximos meses, principalmente nos alimentos”, disse ao Suno Notícias, ao estimar uma inflação de 6% para 2022 e de 11% na cesta alimentícia.

“Vale lembrar que a economia brasileira, quando comparada às 20 maiores do mundo, já tem a terceira maior taxa inflacionária. Em 2021, a inflação brasileira fechou acima de 10%, e em 2022 não dá indícios de arrefecimento. Agora, com o impacto no preço do petróleo e commodities agrícolas, a tendência é de complicar mais ainda um cenário que já era previamente desafiador”, avalia.

Segundo Correa, os últimos dados divulgados pelo governo mostram inflação elevada na indústria e nos serviços, mas, ainda assim, não refletem a alta no preço dos fertilizantes, trigo, milho e principalmente petróleo, “que o alcançou o maior preço do barril desde 2014”.

Por isso, defende que o Copom adotará uma postura mais incisiva, aumentando ainda mais os juros para conter a escalada da inflação, com a perspectiva de fim do ciclo de alta da Selic em junho, a 12,75% a.a.

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Guerra na Ucrânia deve pegar na Selic daqui em diante

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, observa que o processo inflacionário que o Brasil atravessa neste momento tem origens diferentes daquela experimentada nos últimos 12 meses, que foi reflexo, ainda que defasado, da pandemia da covid-19.

“Agora essa inflação não tem mais relação com a covid-19. Tem relação, em especial, com a questão das commodities, como trigo, milho, petróleo. Tudo isso devido ao conflito entre Ucrânia e Rússia”, afirmou ao Suno Notícias.

Segundo Oliveira, a principal novidade, desde a última reunião do Copom, é o impacto deste conflito nos principais produtos que compõem a cesta dos índices, como alimentação e combustíveis. O especialista disse que espera da reunião do Copom “um tom mais agressivo” no aperto monetário.

“Os números da inflação daqui para frente vão ser impactados pelo conflito entre Ucrânia e Rússia e, com a disparada do preço do petróleo, das commodities agrícolas, o problema dos fertilizantes e todos outros que temos acompanhado, evidentemente, vão pressionar a inflação que já está além da meta do Banco Central”, afirmou.

Conflito na Ucrânia não deve trazer impacto imediato; e risco fiscal também é fator no radar do BC

Segundo relatório da Suno Research, assinado pelo economista-chefe Gustavo Sung, a novidade, que vem na forma de pressão inflacionária pelo mercado de commodities, deve fazer o ciclo de alta de juros terminar acima do esperado anteriormente, em 12,25% a.a.

Conforme destaca o risco é para cima, com uma taxa básica mais próxima de 13,00% a.a., dependendo de como evoluir o cenário.

Para Sung, o conflito no leste europeu e a consequente disparada do preço de commodities não deve afetar a decisão do Copom sobre a trajetória de juros no curtíssimo prazo.

“Utilizando como referência as últimas atas do Copom, a autoridade monetária deverá prezar pela cautela para não tomar qualquer atitude precipitada que leve, por exemplo, à redução da atividade econômica”, afirma, com destaque para a incerteza alta sobre os rumos do conflito.

Ainda que o conflito termine nas próximas semanas e as cotações se acalmem, o salto nos preços das commodities deve ser absorvido pelos agentes econômicos, sendo um fator extra para pressionar a inflação.

“Logo, para reunião desta semana, não antevemos nenhuma decisão mais tempestiva ou mudança radical na comunicação”, adiciona.

O documento também destaca a preocupação das autoridades monetárias com o risco fiscal do país. “Apesar da boa arrecadação, que consideramos uma questão pontual, a falta de continuidade das reformas e medidas eleitorais que abram os cofres públicos, pressionam a taxa de juros.”

Confira a seguir as expectativas das principais instituições financeiras consultadas pelo Suno Notícias.

Veja expectativas para a decisão de ajuste da Selic

Paulino Rodrigues, CFO do Banco Mercantil, acredita que o Copom vá elevar a Selic em 1,00 p.p. em função do avanço do IPCA acima do esperado. O Mercantil espera que a Selic alcance 12,75% a.a. no fim do ciclo, nível que deve se manter até o fim do ano.

O risco, segundo coloca, é altista, uma vez que o cenário não considera possível agravamento dos acontecimentos internacionais e domésticos.

“Com a inflação ainda alta, baixo crescimento e volatilidade eleitoral, será um ano de muito trabalho internamente. Agora há mais um complicador global desencadeado pela guerra, que pode se estender bastante, afetando commodities, inflação e juros internacionais. Em suma, a inflação continua sendo um tema de muita preocupação”, disse Rodrigues.

O Itaú Unibanco (ITUB4) estima aumento de 1,00 p.p. para a Selic nesta reunião e fim do ciclo de altas em 13,00% a.a., em junho.

“A nosso ver, o cenário atual, com a guerra na Ucrânia e os impactos inflacionários decorrentes do aumento de preços internacionais de commodities, é consistente com essa decisão, mas ensejará que as autoridades monetárias levem a taxa Selic para níveis ainda mais contracionistas nas reuniões seguintes”, afirmou.

A assessoria econômica do Banco do Brasil (BBAS3) informou que espera um aumento de 1,00 p.p. na taxa Selic. Segundo o banco, o ciclo de alta deve se estender até junho, e chegar ao nível de 12,75%, que deve se manter até o fim do ano. O BB avalia que não deve haver corte de juros em 2022.

“Há alguns elementos novos desde a última reunião: além da eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia – e, por conseguinte, a substancial pressão sobre os preços de commodities e maior risco para o crescimento global –, o real ganhou uma nova dinâmica, de apreciação ante o dólar”, destaca o banco.

“Esses vetores tornam a avaliação do cenário prospectivo por parte da autoridade monetária muito mais complexa. Dado o elevado grau de incerteza em relação a esses elementos, julgamos que o Copom deve manter o plano de voo original (ou seja, desacelerar o ritmo de elevação da Selic), ganhando tempo para avaliar as implicações dos recentes eventos sobre o seu cenário prospectivo”, completou.

O BTG Pactual estima alta de 1,00 p.p. na Selic e fim de ciclo a 13,25% em agosto. Diferente dos pares, o BTG avalia que o número pode ser maior com as incertezas que rondam o cenário atual.

“A avaliação recente do Copom é de que a pressão nos preços ao consumidor segue alta, distribuída entre vários componentes e provando ser mais persistente que o antecipado”, afirma.

O Banrisul (BRSR6) avalia que o Copom prosseguirá no ciclo de alta da Selic, com um ajuste de 1,00 p.p. na reunião de março. O banco prevê que a taxa alcance o nível de 13,00% a.a. em junho e descartam que haja um ajuste negativo até o fim de 2022.

“Acreditamos em uma defasagem ligeiramente maior do que o normalmente esperado entre o ciclo de aperto monetário e seus efeitos sobre a convergência das expectativas de mercado. Desta forma, esperamos que ajustes negativos venham a ocorrer somente a partir do 2º trimestre de 2023”, informou.

“Desde a última reunião do Copom, sem dúvida a maior novidade é o conflito entre Rússia e Ucrânia e seus decorrentes reflexos adversos. Até o momento, nossa avaliação é que resultará em maior pressão sobre preços, cujos impactos na ponta podem ser (ao menos, parcialmente) amortecidos por um mercado de trabalho ainda relativamente enfraquecido e pela própria política monetária mais restritiva. De toda forma, o cenário parece ter se tornado mais adverso e volátil”, adicionou.

O Paraná Banco Investimentos diverge da tendência dos pares e coloca o ajuste desta reunião em 1,25 p.p., 0,25 p.p. acima da mediana. Para o diretor de Investimentos, André Malucelli, o Copom deve seguir com ajustes pontuais até que a taxa atinja 13,25% a.a.

“O cenário econômico atual, agravado pela invasão a Ucrânia, fará com que o Banco Central siga elevando a Selic, visando conter o avanço inflacionário. Nossa projeção é que o IPCA feche o ano em 7,0%, ainda acima da meta, que é de 5,25%. Somente em 2023 é que a inflação deve voltar à meta e atingir 3,8%”, explica Malucelli.

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Pedro Caramuru

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