Putin sinaliza negociar com Ucrânia; bolsas em NY caem e petróleo sobe após Kiev desmentir
O presidente da Rússia Vladimir Putin disse nesta sexta-feira (11) que houve algum progresso nas negociações de Moscou com a Ucrânia, mas não deu detalhes. A declaração chegou a empolgar mercados na Europa e nos EUA.
As principais bolsas europeias fecharam em alta, após sessão de quedas na quinta (10). As ações ganharam impulso pela manhã, com os comentários do presidente da Rússia sobre possíveis negociações por uma solução da guerra na Ucrânia. As bolsas em Nova York abriram em alta, na esteira desse otimismo. Mas diminuíram o ímpeto ao longo da sessão com o noticiário sobre os ataques na Ucrânia, o cerco do exército russo a Kiev e novas sanções anunciadas pelos EUA. Fecharam em queda: Dow Jones cedeu 0,70%, S&P500 caiu 1,29% e Nasdaq recuou 2,18%. O Ibovespa também fechou no negativo: 1,72%, aos 111.713,07 pontos. O petróleo operou volátil — e subiu 3% no fechamento, como barril cotado a US$ 110.
“Há certas mudanças positivas, dizem-me os negociadores do nosso lado”, disse Putin em reunião com o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, acrescentando que as conversações continuam “praticamente todos os dias”. O ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmyto Kuleba, desmentiu: disse que houve “progresso zero” na discussão com Moscou;
Putin não entrou em detalhes, mas disse, em comentários transmitidos pela TV, que daria mais informações sobre o encontro com Lukashenko.
Críticas a administração do presidente Joe Biden
Já nos Estados Unidos, o Congresso está sob tensão, com democratas e republicanos pressionando a administração do presidente Joe Biden a fazer mais na ajuda aos aliados ucranianos. A Casa Branca é criticada por se recusar enviar aviões de guerra para a Ucrânia, decisão considerada “absurda” pelos senadores.
Biden anunciou várias sanções desde o início do ataque russo, tendo ainda enviado ajuda humanitária e equipamentos militares e promovido a via diplomática, sempre em estreita colaboração com os aliados europeus. Para o Congresso, entretanto, essas medidas não bastam.
Ontem, legisladores de vários comitês criticaram o governo de Biden por ter rejeitado a oferta da Polônia de enviar aviões de guerra à Ucrânia por meio dos EUA e de uma base aérea da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Alemanha.
Os legisladores disseram não entender a razão pela qual a Casa Branca fornece a Kiev mísseis antiaéreos e antitanques, mas traça a linha no fornecimento de caças.
“Não apoiamos a transferência de mais aeronaves de guerra à força aérea ucraniana neste momento, e por essa razão não temos interesse em ter essas aeronaves polacas em nossa posse”, explicou o secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby.
O Departamento de Defesa justificou a decisão pelo “elevado risco” que a estratégia teria, pois poderia resultar em “reação significativa por parte da Rússia e numa escalada militar com a Otan”.
Bolsas da Europa fecham em alta, com dados do Reino Unido e falas de Putin
As principais bolsas europeias fecharam em alta nesta sexta-feira, 11, após comentários do presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre possíveis negociações por uma solução da guerra na Ucrânia. Além disso, o mercado monitorou números de inflação da Alemanha, que vieram de acordo com o esperado.
O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em alta de 0,95%, a 431,17 pontos. Enquanto o londrino FTSE 100 subiu 0,80%, a 7.155,64 pontos, com Anglo American (+2,13%) e Pearson (+18,01%) entre os destaques. Na semana, a alta foi de 2,41%. Já o parisiense CAC 40 avançou 0,85%, a 6.260,25 pontos, com alta semanal de 3,27%.
Os mercados europeus já abriram em alta hoje, com investidores de olho em indicadores britânicos: o Produto Interno Bruto (PIB) teve alta mensal de 0,8% em janeiro, superando as expectativas, e a produção industrial avançou 0,7%, também acima do que se previa.
Mais tarde, as ações aceleraram após Putin indicar que houve avanços nas negociações com a Ucrânia por uma solução diplomática para o conflito. Analista-chefe da CMC Markets, Michael Hewson destaca que embora a recuperação desta semana seja uma pausa bem-vinda após três semanas de perdas, qualquer deterioração no sentimento no fim de semana pode ver esses ganhos revertidos “em um piscar de olhos”, se a Rússia optar por aumentar ainda mais a ameaça de uso de armas químicas ou biológicas.
De acordo com o Julius Baer, a invasão da Ucrânia pela Rússia é um “choque massivo” aos mercados financeiros. Para o banco suíço, em resposta ao aumento dos preços, bancos centrais terão de normalizar sua política monetária e, no futuro, não poderão apoiar a demanda tão fortemente. Membro do Conselho de Administração do Banco Central Europeu, Mario Centeno, destacou hoje que a política monetária deve buscar uma posição mais neutra e menos acomodatícia, mas a mudança precisa ser coordenada com as políticas orçamentárias europeias.
Investidores também acompanharam a taxa anual de inflação ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês) da Alemanha, que acelerou para 5,1% em fevereiro, ante 4,9% em janeiro. O número de hoje veio em linha com as expectativas de analistas.
Em Frankfurt, o DAX teve alta de 1,38%, a 13.628,11 pontos, com papéis da Siemens Energy AG (+4,34%) e Airbus Group (+3,63%) em alta. Na semana, o avanço foi de 4,07%. Em Milão, o FTSE MIB subiu 0,68%, a 23.041,20, com alta semanal de 2,56%. Nas praças ibéricas, o PSI 20 subiu 1,51%, a 5.608,01 pontos. Na semana, o aumento foi de 5,18%. Já o IBEX 35 teve alta de 0,90%, a 8.142,10 pontos, subindo 5,45% na semana.
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Presidente da Ucrânia quer negociar fim da guerra com Putin
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou na última quarta-feira (9) que está disposto a fazer concessões para acabar com a guerra que a Rússia travou contra o seu país. Entretanto, o chefe do executivo acredita que isso só será possível quando ele negociar diretamente com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, segundo o jornal Valor Econômico. A notícia melhorou o clima nos mercados: as bolsas de Nova York e São Paulo subiram, enquanto o preço do barril do petróleo recuou.
O líder da Ucrânia afirmou ao canal Bild TV que ainda não teve contato direto com Putin, algo que ele acredita ser necessário para que as negociações entre os dois países avancem. A guerra entre Ucrânia e Rússia já dura 14 dias com um número incerto de mortos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 500 civis ucranianos já morreram com o conflito. O número de refugiados já chegou a 2,2 milhões – cerca de um a cada 20 ucranianos.
Para Zelensky, um dos pontos essenciais para que a negociação tenha um final conclusivo são as duas partes estarem dispostas a fazer concessões. O presidente da Ucrânia já afirmou algumas vezes que está flexível para esse diálogo.
“Somente após conversas diretas entre os dois presidentes poderemos encerrar esta guerra”, disse ele.
Embora o presidente da Ucrânia afirme estar disposta a fazer concessões, Zelensky não está aberto a negociar o território ucraniano.
Um dos principais assessores do presidente afirmou em entrevista à Bloomberg que a Ucrânia deseja encontrar uma solução diplomática para o conflito, mas isso não inclui a concessão de nem “um único centímetro” do próprio território para a Rússia.
Nesse embate, pelo menos três territórios são disputados pelos países: península da Crimeia, Donetsk e Luhansk.
Em 2014, a Rússia anexou a península da Crimeia e desde então exige que a Ucrânia reconheça a soberania do país sobre esse território. Além disso, Vladimir Putin também quer que o país de Zelensky conceda a independência das registões separatistas Donetsk e Luhansk, que são controladas por grupos pró-Moscou.
(Com informações da Agência Brasil e Estadão Conteúdo)