Dólar fecha no menor nível desde junho de 2021

O dólar à vista fechou a quarta-feira (9) em queda de 0,84%, cotado a R$ 5,0106, após quebrar a barreira psicológica de R$ 5 durante a tarde. O acontecimento veio após sinais de um possível desenlace diplomático para o conflito militar no leste europeu, depois declarações de autoridades russas e ucranianas, incluindo o presidente Volodymyr Zelensky, abriram espaço para um amplo movimento global de recuperação de ativos de risco hoje.

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As mínimas da sessão foram registradas no fim da manhã, quando o dólar não apenas furou o piso de R$ 5 como desceu até a casa de R$ 4,98, ao tocar R$ 4,9851. Ao longo da tarde, a moeda desacelerou o ritmo de baixa.

Dados do fluxo cambial divulgados hoje mostraram que houve uma pausa na entrada de recursos para aplicações em portfólio no início de março, o que – ao lado de uma realização de lucros intraday – pode ter contribuído para tirar um pouco do fôlego do real, segundo operadores.

O fechamento de hoje foi o menor nível desde 30 de junho do ano passado. Com isso, a moeda já acumula perda de 1,33% na semana e de 2,81% em março, levando a desvalorização em 2022 para a casa de dois dígitos (-10,14%).

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse, em entrevista ao jornal alemão Bild, estar preparado para fazer concessões à Rússia para encerrar a guerra, quando questionado se pode reconhecer a região de Donbass como independente e a Crimeia como parte da Rússia. Zelensky já havia sinalizado que pode abandonar a intenção de integrar a Otan, adotando uma postura de neutralidade em relação a disputas geopolíticas entre países do ocidente e a Rússia.

Fluxo cambial até 4 de março

Segundo o Banco Central, em março (até o dia 4), o fluxo cambial total foi positivo em US$ 507 milhões, graças à entrada líquida de US$ 626 milhões via comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou saída líquida de US$ 119 milhões no período. No acumulado do ano, contudo, o fluxo total é positivo em US$ 8,340 bilhões, com entrada líquida de expressivos US$ 8,839 bilhões pelo canal financeiro.

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Nas mesas de operação, avalia-se que, se não houver nova escalada do conflito militar e das sanções econômicas, desencadeando novas ondas de forte aversão ao risco, o real tem espaço para continuar a se valorizar.

Apesar da queda das commodities hoje e de eventuais novos recuos, em caso de solução diplomática para a guerra, matérias-primas exportadas pelo Brasil seguirão em patamares elevados – o que atrai dólares tanto via comércio exterior como por meio de compra de ações de empresas brasileiras.

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“Os ativos domésticos, como ações, são vistos pelos investidores estrangeiros como hedge (proteção) contra a inflação global, que é muito ligada a essa questão de commodities”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que matérias-primas relevantes para o Brasil, como minério de ferro e soja, já estavam em alta antes mesmo da guerra e não devem sofrer grande desvalorização.

Previsão da taxa de juros e o dólar

Embora o mercado possa retirar dos preços as apostas mais agressivas de alta da Selic, é bem provável que o BC leve a taxa para perto (ou até acima) de 13% ao ano, como mostra a curva a termo. Mesmo com o processo de alta de juros nos Estados Unidos – o Federal Reserve deve promover uma elevação inicial de 0,25 ponto na próxima semana -, o diferencial de juros interno e externo seguirá enorme, atraindo operações de carry trade.

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Weigt, do Travelex, chama a atenção para o fato de as taxas de juros futuros estarem acima de 12%, com a taxa para janeiro de 2023, mesmo após o recuo de hoje, na casa de 12,90%. Na prática, isso significa que o mercado vê um CDI médio de 12,90% daqui até janeiro do ano que vem.

“Para o próximo encontro do Copom dia 16, o mercado precifica alta de 1 ponto porcentual. E a Selic iria até 13,50%. É muito juro”, diz o tesoureiro, acrescentando que o real também pode ser beneficiado pela realocação de recursos por fundos passivos no exterior, após exclusão de ativos russos de índices como o MSCI. “O dólar pode continuar caindo e atingir R$ 4,90 nos próximos dias”, afirma.

(Com informações do Estadão Conteúdo)

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Victória Anhesini

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