Rússia e Ucrânia: situação das commodities agrícolas é delicada, diz XP; entenda
A XP Investimentos divulgou sua visão sobre os preços das commodities e os setores mais impactados pelo conflito armado entre Rússia e Ucrânia.
Os analistas afirmam que, em especial para as commodities agrícolas como milho e trigo, assim como para os fertilizantes, a situação é bastante delicada.
“A Ucrânia está no processo de plantio do trigo e deve começar a plantar milho no próximo mês. Então devemos esperar interrupções e uma menor disponibilidade para exportação dessas commodities mesmo que os portos permaneçam abertos”, afirmaram Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, analistas da XP.
Além disso, os Estados Unidos vão iniciar a temporada de plantio em breve, o que vai impactar fortemente no milho e na soja por causa dos fertilizantes, já que os valores e a disponibilidade do produto ainda estão sem um direcionamento claro. Há também notícias de indústrias suspendendo novos negócios até que a situação se esclareça.
“Os preços da maioria dos produtos já estavam próximos de recordes, então essa situação está alimentando o mercado futuro. enquanto as negociações no mercado spot perdem sua referência”, dizem os analistas.
Como a questão dos fertilizantes já era uma preocupação para os agricultores, em conjunção ao clima desafiador para a América do Sul e América do Norte, os hedge funds passaram a focar na preocupados com a inflação de alimentos, que carregavam posições compradas no mercado futuro.
De acordo com a XP, no curto prazo isso poderia exacerbar uma tendência de alta, “mas há também um risco crescente de correções de preços se, ou quando, a oferta começar a se normalizar”.
Exportações das commodities pela Rússia e Ucrânia
De acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), a Rússia é o maior exportador de trigo do mundo, com cerca de 18% de participação, mesma importância de todos os países da UE juntos, enquanto a Ucrânia é responsável por outros 10%.
Os dois países têm 28% de todo o trigo comercializado. Não é surpresa que essa ocorrência justifique picos de preços no mercado de futuros, conforme o relatório. Além disso, outros exportadores, como a Argentina, também foram impactados pelo clima adverso, de modo que oferta e demanda permanecerão apertadas.
Quanto ao milho, o jogo da Rússia não é tão relevante, pois o país possui apenas 2% de participação nas exportações mundiais. Por outro lado, a Ucrânia tem uma participação de 15%, ocupando a quarta posição geral. Os analistas afirmam, a partir disto, que as interrupções das exportações das commodities devem ter um impacto importante no mercado.
Fertilizantes
A XP ressalta que o risco em relação às ofertas de fertilizantes já estava em discussão desde o final de 2021. Parte devido à suspensão de produção em determinados países, mas especialmente pelo impacto do aumento dos preços de energia, com foco no gás natural.
“Se no início o risco não era a falta de fertilizantes, mas sim o impacto no custo de produção de milho, soja, entre outras culturas, agora precisamos considerar a possibilidade de preços mais altos afetarem os agricultores em todo o mundo e muitos deles não vão obter fertilizantes o suficiente para a próxima época de plantio”, diz o texto.
A Rússia é um dos maiores produtores e exportadores de fertilizantes, ficando em segundo lugar em nitratos, assim como com fosfatos, e em quarto lugar em sulfatos. Dessa forma, mesmo que outros países comecem a aumentar suas exportações, preços mais altos devem ser a tendência da temporada.
Por outro lado, os analistas consideram que o plantio ocorre em períodos diferentes, dependendo do país. Assim, a expectativa é de um impacto misto. Conforme a XP:
- Para o Brasil, as safras de soja e milho de verão já terminaram. Então se espera impacto na safra de milho de inverno, principalmente nos preços.
- Para os EUA, como o plantio começará no próximo mês, os agricultores absorverão custos mais altos e isso já poderá impactar a produtividade média.
“Não esperamos escassez de fertilizantes para o 1º semestre de 2022, embora algumas empresas já tenham congelado novos negócios — mas o risco de fornecimento deve ser uma questão chave para o 2º semestre”, finalizam. Portanto, as commodities em geral devem sofrer com esse impacto inesperado.