Ambev (ABEV3) e JBS (JBSS3): veja lista de empresas brasileiras afetadas pela guerra na Ucrânia

Especialistas apontam que, para além dos efeitos óbvios causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, empresas brasileiras como a Ambev (ABEV3), a JBS (JBSS3) e a M. Dias Branco (MDIA3) estão expostas a risco em razão das consequências indiretas do conflito – em especial no mercado de grãos, como milho, trigo e soja.

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Fontes do mercado financeiro ouvidas pelo Suno Notícias enfatizam a relevância internacional que a região do leste europeu tem não só na produção da commodity, por causa do solo fértil de tchernozion (ou chernossolo, solo escuro com grande concentração de matéria orgânica) na região, mas também para insumos agrícolas, a exemplo de fertilizantes nitrogenados e de potássio.

Em relatório, o Itaú BBA, braço de investimentos do Itaú Unibanco (ITUB4), relacionou empresas abertas brasileiras do ramo de alimentação e bebidas que estão mais expostas a risco com a flutuação nas cotações dos insumos agrícolas e preço do trigo, milho e soja.

De acordo com o levantamento setorial, o principal entendimento é de que a guerra entre Rússia e Ucrânia deve manter as pressões inflacionárias elevadas em todo o mundo – pela redução da oferta e aumento do preço do milho e trigo – bem como afetar os resultados das companhias.

Segundo dados compilados pelo Itaú BBA, entre 2019 e 2021, a Ucrânia respondeu, em média, por 16% da exportação mundial de milho, enquanto a Rússia contribuiu com 2%.

“Qualquer mudança no comércio mundial aumenta a importância da safrinha do milho no Brasil para o consumo doméstico. Em um cenário extremo em que todas as exportações da Rússia e Ucrânia sejam interrompidas durante esta safra, as exportações mundiais poderiam cair 19%”, avalia.

Já no mercado de trigo, a Ucrânia foi responsável por 10% das exportações mundiais, e a Rússia, 18%.

“Apesar da exposição limitada às exportações de trigo da Rússia e Ucrânia, o Brasil ainda assim poderia encarar preços mais elevados. A maior parte do trigo importado pelo Brasil (85%) vem da Argentina, enquanto Rússia e Ucrânia respondem por 2%. Uma escassez de oferta destas regiões não afetaria a disponibilidade, mas, provavelmente, resultaria em preços maiores”, diz o relatório.

Entretanto, há um oportunidade para as empresas brasileiras ocuparem espaço deixado pela Ucrânia no mercado de aves. Ucrânia e Rússia têm participações iguais nas exportações de frango e, juntas, totalizam 6% das exportações globais.

As exportações de carne bovina brasileira tem pouca exposição ao conflito nesta região.

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M. Dias Branco é potencialmente a mais afetada

O custo do trigo responde por quase metade dos custos de produção da M. Dias Branco – empresa brasileira de farinha, biscoitos e massas -, o que torna a empresa potencialmente mais afetada por uma escalada dos preços de commodities.

Segundo o BBA, “no atual cenário de consumo adverso, qualquer apreciação do preço do trigo poderia afetar diretamente a lucratividade da companhia, uma vez que repassar os custos seria desafiador. Estimamos que cada aumento de 5 p.p. no custo do trigo requer alta de 2 p.p. nos preços para neutralizar o impacto”.

“Enquanto nós acreditamos que deve haver um aumento do preço do trigo, nós não vemos que a cadeia física de suprimento seja afetada, já que o Brasil não depende das exportações que vêm da Rússia e Ucrânia”, ressalta.

Para a M. Dias Branco, o banco tem recomendação de desempenho em linha com o mercado e preço-alvo de R$ 27,00.

Já para a Camil o aumento do preço do trigo poderia pressionar as margens de operação da Santa Amália, marca recém-comprada do segmento de macarrão no Brasil. Ainda assim, o efeito não seria transformador para os resultados da companhia, tendo em vista o tamanho relativo entre ambas.

Segundo estimativa do banco, as receitas da subsidiária contribuíram com cerca de 6% da receita total do grupo em 2020.

Para a Camil, o BBA tem recomendação de desempenho em linha com o mercado e preço-alvo de R$ 11,00.

Ucrânia e Rússia no preço do trigo e milho. Foto: Pexels.
Ambev e JBS estão entre as empresas afetadas pelas repercussões do conflito entre Ucrânia e Rússia no preço do trigo e milho. Foto: Pexels.

Ambev tem exposição à cotação do milho e trigo

Para a Ambev, sexta maior empresa aberta brasileira, cerca de 10% do custo de produtos vendidos estão relacionados com o preço do milho e trigo. “Segundo nossas contas, essas commodities têm um fator crucial na composição de preços da Ambev e qualquer aumento pode afetar a lucratividade da companhia.”

Ainda assim, o impacto deve ser postergado para o balanço de 2023, dadas as estratégias de proteção da companhia às flutuações bruscas na cotação de insumos. “Isto seria vital para determinar a lucratividade da empresa, em 2023, principalmente porque o ambiente de consumo parece estar bastante resistente ao repasse de preços em 2022 e 2023.”

Apesar do desafio, caso a alta nos custos de insumos seja temporária, o banco argumenta que a companhia pode evitar qualquer custo adicional, já que as compras são programadas com antecedência.

A Ambev tem recomendação de desempenho em linha com o mercado e preço-alvo de R$ 18,00.

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Juntos, frigoríficos são maiores que Ambev

Já no setor de carnes, o Itaú BBA alerta que a JBS tem exposição direta ao preço do milho por meio das subsidiárias Pilgrim’s Pride, U.S. Pork e Seara. “Uma vez que tanto a Seara quanto a PPC têm operações integradas, os grãos compõem uma proporção significativa da estrutura de custo destas empresas”, alerta.

“Acreditamos que o ainda saudável ambiente de consumo nos Estados Unidos possa mitigar o vento de proa no mercado norte americano”, completou.

A JBS tem recomendação de desempenho acima do mercado e preço-alvo de R$ 47,00.

A competidora BRF pode sentir o impacto por duas frentes, destaca o BBA. Se por um lado, o conflito pode trazer melhores margens na comercialização do abate de aves, por outro, pode trazer maior pressão no custo de ração no curto prazo.

“Na nossa visão, os custos do milho podem superar os ganhos com a melhora do preço de aves em certas regiões”, destaca o relatório.

A BRF é o único frigorífico avaliado que tem recomendação de desempenho em linha com o mercado, a preço-alvo de R$ 24,00.

Além da Ambev: JBS, Marfrig e BRF estão entre as empresas afetadas pelas repercussões do conflito entre Ucrânia e Rússia no preço da ração. Foto: Pexels.
Além da Ambev: JBS, Marfrig e BRF estão entre as empresas afetadas pelas repercussões do conflito entre Ucrânia e Rússia no preço da ração. Foto: Pexels.

Marfrig tem exposição mínima ao cenário de conflito entre Rússia e Ucrânia. As operações da empresa se concentram nos EUA e menos de 2% das suas receitas vêm das regiões envolvidas no conflito. Ainda assim, há a possibilidade de impacto operacional por meio da posição que mantém na BRF.

A recomendação para a Marfrig é de desempenho acima do mercado, ao preço-alvo de R$ 26,00.

Por último, a Minerva recebe cerca de 6% da sua receita consolidada da Comunidade de Estados Independentes, composta por países asiáticos como Azerbaijão, Armênia, Belarus, Moldávia, Rússia, Uzbequistão e Ucrânia.

“Considerando o todo, a Minerva tem alguma exposição aos países envolvidos nas atuais tensões, mas eles não são o maior destino das exportações da companhia. A demanda global por carne continua crescendo e as rotas podem ser ajustadas para mitigar o impacto das disrupções relacionadas ao conflito entre Rússia e Ucrânia”, diz o relatório.

A  Minerva tem recomendação de desempenho acima do mercado e preço-alvo de R$ 17,00.

Juntos, os frigoríficos respondem por 3,61% do desempenho do Ibovespa. A Ambev, por sua vez, equivale a 3,05% do índice.

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Pedro Caramuru

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