Entenda as causas que levaram o dólar de novo para R$ 4

Pela segunda vez em 2019 a cotação do dólar atingiu os R$ 4. A valorização da moeda norte-americana ocorreu durante a sessão desta terça-feira (7), por volta das 11h40, com uma alta de 1,26% sendo negociado a R$ 4,0010.

A última vez que a moeda norte-americana havia alcançado essa cotação foi no dia em 25 de abril. Uma série de causas nacionais e externas geraram essa alta do câmbio do dólar. Principalmente as incertezas referentes a tramitação da reforma da Previdência. Além disso, a guerra comercial entre Estados Unidos e China registrou mais um episódio, com as últimas declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o possível aumento de tarifas alfandegária sobre mercadorias chinesas.

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Confira os principais motivos para o dólar ter ultrapassado a cotação de R$ 4:

  • Reforma da Previdência;
  • PIB do Brasil;
  • Guerra comercial EUA-China
  • Economia dos EUA.

Saiba mais: Dólar em alta com reforma da Previdência e cenário externo no radar

Reforma da Previdência

No final de abri, a reforma da Previdência foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. No entanto, o que deveria gerar grande otimismo no mercado acabou tendo um viés contrário. Isso porque as “gorduras” inseridas no texto pelo governo, como margem de negociação, acabaram sendo eliminadas já no primeiro estágio de tramitação da proposta.

Algo que limita muito o poder de barganha do Executivo. O risco é que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) acabe representando uma economia menor do que R$ 1 trilhão em 10 anos. Um valor indicado pelo Ministério da Economia como indispensável para preservar a sustentabilidade das contas públicas.

À pedido do “Centrão” e também da oposição do governo, foram retirados os seguintes tópicos:

  • Fim da multa de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para aposentados que trabalham;
  • Fim da retenção do FTGS para aposentados que trabalham;
  • Possibilidade de alterar a idade de aposentadoria compulsória de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF);
  • Mudança no foro para julgamento de ações contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS);
  • Exclusividade do Executivo de enviar proposta para alterar o regime previdenciário.

Dessa forma, os investidores passaram a ficar mais cautelosos em relação ao texto final da reforma, já que a PEC não possui mais pontos extras para possíveis articulações.

Além disso, outro aspecto que gera insegurança é a tramitação da reforma na Comissão Especial da Câmara dos Deputados. Essa é a segunda fase da avaliação da PEC. Na CCJ, foi avaliada a admissibilidade do texto, ou seja, se era ou não Constitucional. Na Comissão Especial será avaliado o conteúdo do texto e poderão ser apresentadas mudanças por meio de emendas.

O presidente da comissão, deputado Marcelo Ramos, afirmou que pretende definir na sessão desta terça-feira (7) o calendário de audiências públicas para a discussão do texto.

Maia, Bolsonaro e a articulação

No fim de março, o oresidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) e o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), trocaram farpas referentes à articulação da reforma da Previdência.

Até aquele momento, o deputado era o principal articulador da “Nova Previdência“. Este foi o apelido que o Ministério da Economia deu ao texto, para diferenciá-lo da proposta da gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB).

Bolsonaro, que foi eleito após uma campanha eleitoral na qual criticava a “velha política“, encontrou-se sem aliados para formar maioria no Congresso. E delegou a tarefa à Maia, que começou a criticar a aparente postura de distanciamento da pauta do presidente da República. Essa briga entre poderes levou o dólar a bater R$ 4.

No entanto, mesmo com essa alta a troca de farpas seguiu acontecendo. Após a aprovação da reforma da Previdência na CCJ, o presidente da Câmara voltou a cobrar o posicionamento do governo federal para que o texto fosse articulado na Comissão Especial.

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PIB do Brasil

A baixa expectativa de crescimento da economia nacional em 2019, é outro fator que impacta diretamente na desvalorização do real frente ao dólar.

O Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (6) reduziu novamente a previsão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Pela primeira vez no ano a estimativa deixou o crescimento econômico abaixo dos 1,5%. Esse foi o décimo recuo seguido das projeções da economia nacional, que no início do ano tinha uma projeção de 2,6%.

Saiba mais: Boletim Focus: previsão do PIB cai pela primeira vez abaixo de 1,5%

O Boletim Focus é um relatório é elaborado toda semana pelo Banco Central (BC), com base nas projeções de analistas de mais de 100 instituições financeiras.

Além dos dados do Boletim do BC, outras instituições reduziram a projeção do crescimento do PIB para o fim de 2019:

  • Fundo Monetário Internacional (FMI): em 9 de abril, a projeção do PIB foi reduzida de 2,5% para 2,1%.
  • Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal): em 11 de abril, a comissão reduziu a previsão de 2% para 1,8%.
  • Itaú Unibanco (ITUB4): em 2 de maio, o banco estimou uma redução de 0,2% do PIB, durante o primeiro trimestre.
  • Bradesco (BBDC4): também no dia 2 de maio, projetou uma queda de -0,1% no PIB, durante o primeiro trimestre.

Por fim, no último dia 15, o ministério da Economia realizou pesquisa com analistas do mercado para projetar o PIB de acordo com o que pode ocorrer na tramitação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência:

  • Reforma da Previdência sendo aprovada: crescimento de 2,10%;
  • Reforma da Previdência sendo reprovada: crescimento de 1%;
  • Reforma da Previdência parcialmente aprovada: crescimento de 1,95%.

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Desemprego em alta

Outro fator que contribui com a fraqueza do real é o desemprego no Brasil. No primeiro trimestre de 2019, foram registradas 13,4 milhões de pessoas desempregadas no país. Os números apontam que o desemprego atinge 12,7% da população.

Saiba mais: Taxa de desemprego sobe para 12,7% em março, diz IBGE

Os dados divulgados na última terça-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o desemprego atingiu 1,2 milhão de pessoas no início deste ano. O aumento é em comparação com o último trimestre de 2018.

Economia dos EUA

O terceiro principal motivo que interfere na valorização do dólar sobre a moeda brasileira, se refere a economia dos Estados Unidos.

No início deste ano, o mercado financeiro apresentava postura mais conservadora e de aversão ao risco. Isto devido à cautela com a desaceleração econômica global.

Dessa forma, principalmente em abril, os Estados Unidos contornaram o pessimismo. O fato ocorreu na apresentação de dados que confortaram os investidores. E resgataram o apoio da maior economia do mundo em tratar-se do PIB.

Deste modo, com a maior economia do mundo mostrando indícios de retorno ao ponto de ebulição, o dólar é valorizado no cenário doméstico brasileiro.

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Confira abaixo os principais fatos que motivaram a alta de confiança na economia norte-americana:

  • PIB do 1T19;
  • Emprego em abril de 2019;
  • Guerra comercial: China x EUA;
  • Taxa básica de juros estável.

PIB dos EUA no 1T19

De acordo com dados divulgados pelo Departamento de Comércio dos EUA, em 26 de abril, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 3,2% durante o primeiro trimestre de 2019. A alta foi acima do esperado pelo mercado que esperava alta de 2,2%. Os dados foram divulgados pelo .

A alta do PIB foi impulsionada pelo aumento das vendas e também por conta do aumento dos investimentos do governo.

Saiba mais: PIB dos Estados Unidos cresce 3,2% no 1º trimestre de 2019

Criação de emprego em março de 2019

Além do bom desempenho do PIB, o desemprego nos Estados Unidos caiu para 3,6% em abril, a menor taxa em 50 anos. O índice, divulgado na última sexta-feira (3), só foi mais baixo no país em 1969. Em março, o Departamento de Trabalho divulgou que a taxa de desemprego norte-americana foi de 3,8%.

Saiba mais: Estados Unidos têm menor nível de desemprego em 50 anos; taxa cai para 3,6%

A criação de emprego nos Estados Unidos foi de 263 mil novos postos no quarto mês do ano. O aumento foi em serviços profissionais e de negócios, construção, serviços de saúde e assistência social. O crescimento ficou bem acima do projetado por especialistas, que era um aumento de 185 mil vagas.

Taxa básica de juros estável

Mesmo com a economia em pleno emprego e registrando um crescimento do PIB expressivo, a Federal Reserve (Fed) decidiu manter a taxa básica de juros dos Estados Unidos da América (EUA) entre 2,25% e 2,50%, na última quarta-feira (1º).

Saiba mais: Fed mantém taxa básica de juros na faixa entre 2,25% e 2,50% nos EUA

A reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), que define a taxa básica de juros, confirma a paciência do órgão com o mercado interno e externo. A decisão foi unânime e já era esperada pelo mercado. Entretanto, o banco central dos EUA surpreendeu quando indicou que não deverá fazer alterações nos juros no decorrer deste ano.

Quando os juros dos Estados Unidos sobem, os investimentos passam render mais e países com o Brasil passam a ter maior dificuldade de atrair investidores estrangeiros. Em contrapartida, quando os juros caem, os investidores buscam economias como a brasileira para obter mais rendimento.

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Guerra comercial: China x EUA

As negociações para encerrar o conflito econômico entre a China e os EUA avançaram no primeiro trimestre deste ano. E o presidente norte-americano, Donald Trump, até fez declarações referentes ao acordo, dizendo que estava cada vez mais próximo de ser concretizado.

No entanto, no último final de semana, Trump fez uma nova ameaça para aumentar as tarifas para as importações chinesas a partir da próxima sexta-feira (10). As taxas passam de 10% para 25% sobre produtos importados da China. Essa tarifa será aplicada sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.

Saiba mais: China confirma vice-premiê Liu He em negociações em Washington

Isso acontece na semana em que uma nova rodada de negociações será aberta. O vice-primeiro-ministro da China, Liu He, informou que irá até Washington, nesta quinta-feira (9), com o objetivo de finalizar de uma vez por todas as negociações entre as nações.

Dentre os pontos de negociação do acordo, estão:

  • Transferência forçada de tecnologia e roubo cibernético;
  • Direitos de propriedade intelectual;
  • Serviços;
  • Câmbio;
  • Agricultura;
  • Barreiras não-tarifárias ao comércio.

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Na última segunda-feira, o dólar fechou a sessão com uma alta de 0,477% sendo negociado a R$ 3,958.

Renan Bandeira

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