Sem show, sem Carnaval: como a ômicron afetou Ambev (ABEV3) e T4F (SHOW3)

Muitas empresas esperavam que 2022 fosse o grande ano de recuperação econômica. O setor de eventos, especificamente, tinha ainda mais expectativas de uma retomada. Mas, com o anúncio de uma nova variante de Covid-19, inúmeros planos já foram frustrados. Companhias como Time 4 Fun (SHOW3) e Ambev (ABEV3) sofreram com o avanço da ômicron, com medo de que mais planos fossem cancelados.

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Com o aumento significativo de infecções, o Carnaval de rua foi cancelado na maioria das cidades no país. Os desfiles de escolas de samba acabaram adiados para abril. Em janeiro, a Ambev chegou a emitir uma nota a todos os municípios onde a cervejaria é patrocinadora informando que o cenário atual da pandemia exige “muita cautela”. O comunicado foi feito primeiro em resposta ao cancelamento das festas de rua em diversas cidades do estado de São Paulo, incluindo a própria capital.

De acordo com relatório do Bank of America, os consumidores estão voltando aos bares e bebendo mais na comparação com o final de ano de 2020, mas ainda não no mesmo patamar pré-pandemia.

“A frequência com que saem ainda não é a mesma de antes da pandemia, o que significa que o consumo de álcool em casa está mais forte do que antes, e notamos que os consumidores estão usando mais aplicativos de entrega para comprar suas bebidas”, relatam os analistas.

Chance de impulsionar as vendas

O Carnaval era uma chance para a Ambev impulsionar vendas no primeiro trimestre de 2022, principalmente no on trade, ou seja, com vendas diretas para bares, restaurantes e baladas.

Um dos principais momentos no calendário nacional, nos últimos anos, o carnaval de rua vinha sendo disputado pelas gigantes de bebida, que brigavam pela chance de expor sua marca nos blocos de cidades como São Paulo, Rio e Salvador.

Para Eduardo Tomiya, da TM20 branding, apesar de a festa popular ser considerada como um “Natal” para o setor de bebidas, cujas vendas crescem neste período, campanhas publicitárias devem evitar estimular aglomerações.

“As empresas vão ter de tomar muito cuidado na hora de posicionar a marca porque pode pegar mal estar associado a festas em um momento de alta de casos de covid-19″, diz.

Para 2022, a Ambev havia fechado o contrato de patrocínio para a festa de rua na capital paulista por R$ 23 milhões. Segundo apurou o jornal Estadão, o pagamento do contrato não chegou a ser feito pela companhia, que foi surpreendida pela decisão da Prefeitura de São Paulo de suspender o evento.

Mesmo com o cancelamento do patrocínio, a Ambev afirma que segue dialogando com o poder municipal e avaliando os próximos passos.

“Somos apaixonados por Carnaval, mas a saúde das pessoas deve vir sempre em primeiro lugar”, informa a gigante das bebidas, em nota. Por ora, as publicações das marcas da Ambev em redes sociais nem tocam no assunto carnaval.

Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, afirma que essa falta de impulso nas vendas será sentida até o primeiro trimestre deste ano. “Deve se esperar geração de receita mais fraca, além de afetar o custo de insumos”, disse. O analista destaca que o valor na produção de latas deve ser maior, principalmente com a alta do minério de ferro e outros insumos, o que vai pressionar as margens da Ambev. “Eu diria que não espero um resultado muito forte, com poucas surpresas, no quarto trimestre de 2021 e primeiro trimestre de 2022”, estimou.

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Para o segundo trimestre do ano, ele acredita que com maior conhecimento sobre a ômicron e avanço da campanha de vacinação, o canal on trade deva melhorar, enquanto o off trade, a venda em varejo, continuará indo muito bem. “Espero a recuperação on trade, que sempre foi muito importante para essas empresas do segmento de bebidas, assim como a Diageo, com forte presença no Brasil e também tem se apoiado mais no off trade“.

Lollapalooza: como está a T4F (SHOW3)?

O calendário de grandes shows e festivais de música estava previsto para voltar em 2022, antes mesmo da campanha de vacinação ter batido 50% das duas doses na população brasileira. A partir do segundo trimestre de 2021, a T4F tinha planos grandiosos para os dois anos seguintes. Afirmava que a indústria do entretenimento iria crescer “quatro anos em dois”. 

A previsão do CEO da T4F, Fernando Alterio, era de que 2022 veria uma demanda reprimida de eventos presenciais muito intensa e o avanço da imunização contra a Covid-19 era essencial, tanto nacional como internacionalmente, para a volta das atividades. Até a divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2021, a perspectiva se mantinha.

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“O setor de entretenimento no Brasil já começa a vivenciar os resultados positivos da vacinação contra a Covid-19. Por todo país, eventos de música e produções de teatro já estão acontecendo e sendo anunciados para os próximos meses. Estamos cada vez mais próximos de proporcionar ao nosso público o reencontro com os artistas favoritos para celebrarmos a vida por meio da música, da arte e do espetáculo”, dizia a mensagem da administração, assinada por Alterio.

“Esses avanços [de vacinação], somados aos movimentos da T4F durante a pandemia, embasam as projeções otimistas da companhia quanto à retomada das nossas operações. Continuamos vislumbrando para 2022 uma alta demanda reprimida, que promete um grande ano para o mercado de entretenimento”, continuava o texto.

As novas datas do Lolla foram anunciadas, com previsão para o último final de semana de março (25, 26 e 27), com uma line-up atualizada e novos artistas tomando conta. O frenesi dos fãs da música foi alto, assim como os valores pouco realistas dos ingressos. Mas, no dia 6 de janeiro, a ação da produtora desabou 7% em meio ao avanço dos casos de Covid-19.

No fechamento da última sexta-feira (11), as ações SHOW3 fecharam com queda de 5,14%, cotadas a R$ 3,32. Os ativos da empresa acumulam uma queda de 6,74% nos últimos 12 meses.

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O analista da Guide ressalta que desde 2020 a T4F tem apresentado prejuízo constante, com as ações com pouca liquidez. “O Lollapalooza era um catalisador para a empresa voltar e aparecer no radar dos investidores, mas tem esse conflito com as novas medidas de restrição“, disse, se referindo a novas regras sanitárias impostas pelo governador João Doria, anunciadas na segunda semana de janeiro deste ano, com o objetivo de conter o avanço da variante ômicron.

A recomendação do governo de São Paulo é de que eventos esportivos, musicais e festas sejam realizados com apenas 70% do público e mediante comprovante de vacinação. Doria destacou durante a coletiva que a redução é uma orientação às prefeituras do estado, não uma determinação.

“Vamos ver até março se há alguma mudança, mas diria que por enquanto a perspectiva é negativa, com número de internações aumentando e outras doenças, como a influenza, elevando o risco de eventos com aglomerações. Talvez possa ocorrer um adiamento, de dois ou três meses, e o impacto não seria tão grande”, disse Rodrigo, que esclarece que esse decisão seria interessante para manter uma geração de receita para a T4F.

Resultados do 4T21 da Ambev e T4F

Por fim, tanto a T4F como a Ambev devem sofrer no início de 2022, mas, conforme a terceira onda passar, as expectativas para o setor devem melhorar. Os resultados do quarto trimestre de 2021 das duas empresas saem no dia 24 de março.

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Victória Anhesini

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