PIB dos EUA em 2021 tem maior alta desde 1984, mas analistas preveem desaceleração este ano
A economia dos Estados Unidos cresceu 5,7% no ano passado, recuperando-se com resiliência da devastadora recessão do coronavírus em 2020. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano – a soma da produção total de bens e serviços no país – foi o mais forte desde o aumento de 7,2% em 1984, também após uma recessão. No último trimestre de 2021 a alta na primeira leitura do PIB foi de 6.9%, comparado com o mesmo intervalo em 2020. segundo o Departamento do Comércio.
O resultado ficou bem acima da expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam avanço de 5,5%.
No terceiro trimestre de 2021, a economia americana teve expansão anualizada bem menor, de 2,3%. O Departamento do Comércio informou também que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu à taxa anualizada de 6,5% entre outubro e dezembro. Já o núcleo do PCE, que desconsidera preços de alimentos e energia, avançou 4,9% no mesmo intervalo.
O crescimento em 2021 foi impulsionado por um aumento de 7,9% nos gastos do consumidor e um aumento de 9,5% no investimento privado. Nos últimos três meses de 2021, os gastos do consumidor aumentaram em um ritmo anual mais moderado de 3,3%. Mas o investimento privado disparou 32%, impulsionado por um aumento nos estoques das empresas, à medida que as empresas estocavam para atender à maior demanda dos clientes.
A economia encerrou 2021 crescendo a um ritmo anual de 6,9% de outubro a dezembro, informou o Departamento de Comércio na quinta-feira, mais rápido do que o esperado. No entanto, a expectativa é de que a economia deve desacelerar este ano, pressionada pela inflação e ainda dominada pelo número de casos de covid-19.
“A recuperação permaneceu robusta, mas a tendência no ritmo de ganhos de categorias cruciais como o consumo desacelerou”, disse a consultoria Contingent Macro Advisors em nota de pesquisa. “Embora mais forte do que o esperado, o resultado ainda sustenta a noção de que o crescimento deve desacelerar constantemente ao longo de 2022.”
Muitos economistas estão rebaixando as previsões para o trimestre de janeiro a março, refletindo o impacto da variante Ômicron. Para todo o ano de 2022, o Fundo Monetário Internacional previu que o crescimento do PIB do país diminuirá para 4%.
Muitas empresas dos EUA, especialmente restaurantes, bares, hotéis e locais de entretenimento, permanecem sob pressão da variante Ômicron, que manteve milhões de pessoas recolhidas em casa para evitar multidões.
Os gastos do consumidor, o principal motor da economia, podem ficar retraídos este ano pelo fim do programa de auxílio do governo às famílias, que alimentou a atividade em 2020 e 2021, mas foi encerrado no ano passado.
Além disso, o Federal Reserve deixou claro na quarta-feira que planeja aumentar as taxas de juros várias vezes este ano para combater a inflação mais alta em quase quatro décadas.
Esses aumentos das taxas de juros tornarão os empréstimos mais caros e podem desacelerar a economia este ano.
Forte crescimento do PIB já era esperado
Depois da recessão de 2020, uma recuperação saudável era esperada para 2021. Em 2020, o PIB americano registrou a queda mais acentuada desde o tombo de 11,6% em 1946, quando o país estava se desmobilizando após a Segunda Guerra Mundial.
A pandemia da covid-19 levou as autoridades a ordenar quarentenas a partir de março de 2020, obrigando a paralisação do comércio ou a redução do horário de funcionamento. As empresas cortaram 22 milhões de empregos. A economia mergulhou em uma profunda recessão. Mas taxas de juros superbaixas, enormes infusões de ajuda do governo – incluindo cheques de US$ 1.400 para a maioria das famílias – e, eventualmente, o lançamento generalizado de vacinas reviveram a economia americana.
Muitos consumidores recuperaram a confiança e os meios financeiros para sair e gastar novamente. O ressurgimento da demanda foi tão robusto, de fato, que pegou as empresas desprevenidas. Muitas delas tiveram dificuldades para adquirir suprimentos e para contratar trabalhadores para atender a um rápido aumento nos pedidos dos clientes.
Com muitas pessoas trabalhando remotamente, a escassez tornou-se especialmente aguda para bens residenciais, de eletrodomésticos a artigos esportivos e equipamentos eletrônicos. E com chips de computador escassos, os revendedores de automóveis ficaram desesperadamente com falta de veículos.
Fábricas, portos e pátios de carga ficaram sobrecarregados e as cadeias de suprimentos ficaram sobrecarregadas. A inflação começou a acelerar. Nos últimos 12 meses, os preços ao consumidor subiram 7% – a maior inflação desde 1982.
Alimentos, energia e automóveis estiveram entre os itens cujos preços mais subiram. No final do ano passado, a economia começou a mostrar sinais de fadiga. As vendas no varejo, por exemplo, caíram 1,9% em dezembro. E a manufatura desacelerou em dezembro para seu nível mais baixo em 11 meses, de acordo com o índice de manufatura do Institute for Supply Management.
IIF vê recuperação robusta nos EUA e desaceleração prolongada na zona do euro
Os Estados Unidos tiveram a recuperação mais robusta do choque da pandemia de covid-19 entre todas as potências do Grupo dos Dez (G10), enquanto a zona do euro enfrenta um ciclo de desinvestimento que pode ser extrapolado para uma desaceleração da atividade na região a médio prazo, segundo avalia o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), em relatório divulgado nesta quinta-feira, 27.
“Os EUA são a única economia desenvolvida em que os níveis de consumo privado real e formação bruta de capital fixo superam os patamares anteriores à pandemia”, analisa o IIF, citando o forte estímulo fiscal no país como o motor da recuperação.
Em posição contrária, a zona do euro parece ter entrado em um ciclo de desinvestimentos que pode fazer com que a atividade do bloco desacelere no médio prazo. A região, porém, viveu um período de maiores investimentos antes da crise, e por isso o IIF argumenta que é possível que os baixos níveis atuais ocorram por causa do ciclo anterior. “No entanto, não estamos inclinados a acreditar nessa explicação e vemos o risco crescente de que a zona do euro possa estar entrando em uma queda prolongada de investimentos”, completa.
Quanto a emergentes, a instituição cita África do Sul, Colômbia, Filipinas e Malásia entre os países que apresentam trajetórias similares ao da zona do euro.
A Colômbia, no entanto, teve um salto do consumo privado real por conta da política fiscal estimulante, assim como Chile e Turquia, segundo a análise.
Biden comemora crescimento do PIB e atribui resultado à política econômica
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comemorou, em comunicado, os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano, que cresceu 5,7% em 2021, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 27. O democrata atribuiu os números positivos a sua política econômica.
Segundo Biden, os EUA tiveram a mais acelerada expansão econômica em quatro décadas e o melhor ano de criação de emprego.
“Minha estratégia econômica está criando bons empregos para os americanos, reconstruindo nossa manufatura e fortalecendo nossas cadeias de suprimentos aqui em casa para ajudar a tornar nossas empresas mais competitivas”, disse Biden.
O presidente alegou que os EUA tiveram crescimento maior que o da China pela primeira vez em 20 anos. Para ele, o governo está ajudando a criar “uma economia americana para o século XXI”.
O líder da Casa Branca exortou o Congresso a aprovar suas propostas econômicas para manter o impulso do crescimento do PIB.
Com Estadão Conteúdo