Gabriel Diniz Junqueira

Fiagros de Terra e de Papel: como comparar o desempenho desses produtos

Assim como nos FIIs urbanos, os Fiagros têm apresentado uma divisão entre aqueles que investem na atividade imobiliária diretamente ou em derivados financeiros do setor como CRAs e LCAs

Quando a CVM baixou a ICVM 39, em 13 de julho de 2021, permitiu, de maneira temporária e em caráter experimental, o registro de Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Desta forma, no último semestre de 2021, o mercado começou a experimentar qual seria o desenho destes novos fundos e como as gestoras e distribuidores iriam ofertar os produtos. O primeiro movimento que se observa de imediato é a especialização dos fundos, em crédito ou em terras.

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Assim como nos FIIs urbanos, os Fiagros têm apresentado uma divisão entre aqueles que investem na atividade imobiliária diretamente ou em derivados financeiros do setor como CRAs e LCAs.

Para tanto, recentemente dois professores da POLI-USP do Núcleo de Real Estate, João da Rocha Lima Jr e Carolina Gregório, escreveram um brilhante texto de como se deve analisar e comparar a qualidade dos produtos ofertados no mercado de FIIs com base em seus dois principais indicadores Dividend Yield e TIR.

No texto, os autores abordam como é importante entender as diferenças entre os produtos (FIIs de Papel e FIIs de imóveis) e também entre as métricas de comparação. No ambiente dos Fiagros, a análise é estruturalmente a mesma, mudando somente aspectos conjunturais do setor agro para o imobiliário urbano. Portanto, quando pensamos em Fiagros, como podemos diferenciar os produtos de crédito e terras e, consequentemente, compará-los em termos de retorno para o investidor?

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Cálculo

Antes de iniciar qualquer tipo de análise a respeito, vale relembrar o que são e como é feito o cálculo destes indicadores:

TIR: Taxa Interna de Retorno é a taxa utilizada para indicar a viabilidade e a lucratividade de um projeto. Calcula-se a partir de uma análise do fluxo financeiro do projeto e é comparável ao retorno esperado.
• Dividend Yield: É um indicador referente ao rendimento de uma ação ou cota de fundo pelo pagamento dos dividendos. Calcula-se relacionando o provento pago com o preço de mercado da ação ou cota de fundo.

Uma vez compreendidos, de forma rápida, os principais indicadores de análise de um investimento, a pergunta que nos resta responder é: Quando analisamos um Fiagro, qual destes indicadores devemos utilizar? A resposta nasce na diferenciação entre os produtos.

Fiagros de Papel são fundos que compõem o seu portfólio por meio da aquisição de títulos estruturados para o financiamento da atividade agrícola (CRAs e LCAs no caso dos Fiagros Imobiliários). Esses fundos se assemelham aos FIDCs e investimentos em renda fixa, apesar de possuírem cotas negociadas na bolsa de valores. Os pagamentos mensais realizados, assim como nos FIIs de Papel, representam o cupom dos títulos do portfólio implícita a correção inflacionária.

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Os Fiagros de Terras, por sua vez, são fundos focados na aquisição de propriedades rurais para arrendamento e ganho imobiliário. O valor recebido mensalmente depende das condições dos contratos de arrendamento praticados na região e este está intimamente ligado à commodity produzida (sacas de soja ou toneladas de cana, por exemplo).

Diferentemente dos imóveis urbanos, as correções destes contratos se relacionam com o aumento da capacidade produtiva da propriedade e não reajustados pelo IPCA ou IGP-M. Desta forma, os rendimentos tendem a aumentar com o incremento na produtividade da terra e apreciação do valor da commodity produzida.

Outro ponto atrativo dos Fiagros de Terras é a valorização patrimonial da propriedade rural. No Brasil, conforme discorremos anteriormente em outros textos da coluna, as taxas nominais de valorização média se aproximam de 10% a.a.. Desta forma, implica-se em uma valorização do patrimônio do fundo que não refletida, necessariamente, no Dividend Yield mensal praticado.

Agora, como podemos realizar uma análise comparativa adequada destes produtos?

Partindo de uma visão inicial e mais simples do Dividend Yield, nota-se uma diferença importante que se deve ressaltar, os Fiagros de Papel pagam juntamente com os juros a correção monetária implícita o que incorre em uma redução em valores reais do patrimônio do fundo.

Por sua vez, nos Fiagros de Terra, o investidor receberá, além dos proventos dos contratos de arrendamento, um ganho real na valorização de seus imóveis, porém este se reflete no valor da cota patrimonial e pode passar desapercebido pelo mercado. Deve se destacar também que uma simples comparação por meio do Dividend Yield não considera uma análise adequada dos ativos do portfólio do fundo e sua capacidade de gerar caixa e retorno para o cotista.

Portanto, em termos comparativos dos indicadores de análise, a TIR expressa melhor a distinção entre os produtos, uma vez que abrange a geração de caixa do portfólio e valores de entrada e saída dos investidores. Desta forma para um bom cálculo da TIR de cada fundo, deve-se sempre buscar conhecer os ativos que os compõe e suas respectivas capacidades de geração de recursos e valorização patrimonial, não somente observando o pagamento mensal efetuado. Podendo assim refletir seu ganho total no investimento, já que o Fiagro não é obrigado, diferentemente dos FIIs, a distribuir 95% do resultado semestral do fundo.

Agro é Top, Agro é Pop, FIAGRO é Agro.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Gabriel Diniz Junqueira
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