A hora e a vez das cidades de médio porte
Barreiras, na Bahia, Dourados, no Mato Grosso Sul e Erechim, no Rio Grande do Sul. Essas três cidades, junto a outros cerca de 200 municípios brasileiros, compartilham o mesmo conceito: o de cidade média, com entre 100 e 500 mil habitantes, situadas fora de regiões metropolitanas. Na pandemia, esses centros passaram a receber um fluxo considerável de pessoas, vindas de capitais ou outras localidades, que ditou novas necessidades de gestão urbana, sobretudo na área de infraestrutura. Esse fenômeno, aliado à prática crescente do home office, fez aumentar a demanda por projetos de fibra ótica, iluminação, saneamento básico e geração de energia, abrindo um leque de possibilidades a gestoras, empresas e investidores.
Atualmente, é inconcebível, por exemplo, que uma cidade próxima a grandes centros urbanos não disponha de uma rede robusta de fibra ótica para que seus moradores possam trabalhar de casa, com velocidade e qualidade no acesso à Internet. O mesmo vale para serviços de saneamento, iluminação pública e geração de energia — bens considerados essenciais, com amplo potencial de melhorias em diversas cidades. A pandemia escancarou a necessidade de implementá-las, mas não foi a única responsável por criar essas necessidades. Muitas dessas cidades teriam (e têm) essa carência desde os idos pré covid-19. Mais do que nunca é preciso encará-los de frente e inverter a dinâmica padrão.
Na prática, é muito mais fácil e cômodo ao investidor de infraestrutura, seja um fundo ou empresa, fazer um grande investimento e cuidar de um só negócio, do que de ‘dez’ espalhados. É menos complexo, inclusive, do ponto de vista de alocação de capital. Estes projetos maiores geralmente são considerados por notáveis investidores de infraestrutura.
O Brasil, no entanto, vai muito além. Quando pensamos em cidades de médio porte, a oportunidade que se abre é para investidores que buscam projetos menores, mas com retornos até mais atraentes. Um projeto de até R$ 100 milhões não chamará a atenção dos fundos de pensão do Canadá, por exemplo. Eles olharão para as grandes concessões de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mas e Barreiras, Dourados e Erechim, como ficam? É sobre cidades como essas que queremos lançar luz, com projetos menores, e investidores e empresas dispostos a consolidá-los.
As empresas que entram neste mercado têm de saber onde pisam. É preciso que sejam gestores experientes na área de infraestrutura. Projetos menores costumam ter carência de governança, capacidade de gestão e, quando aglutinamos diversos projetos em uma companhia maior, é imperativo ter capacidade para fazer com que ela se torne eficiente, rentável e geradora de valor contínuo. Aos investidores, o maior retorno potencial é explicado pela lei da oferta e da demanda: projetos de médio porte tendem a ter uma competição menor, o que gera, potencialmente, maior rentabilidade.
Aos interessados, o caminho pode ser diretamente via ações de empresas que encabeçam esses projetos, ou por meio de fundos, de diversos tipos, que tenham exposição a essas companhias ou projetos. Exemplos são os FIPs-IE, fundos de infraestrutura com isenção fiscal a pessoa física, de ações ou crédito privado. Há uma paleta diversa de possibilidades, com diferentes perfis de risco. Mas é preciso prestar atenção em alguns aspectos: se investir em uma empresa aberta, é preciso avaliar a capacidade financeira da companhia e conhecê-la a fundo. Se preferir via fundo de crédito privado ou de dívida, é preciso considerar a capacidade de gestão e a qualidade do crédito, respectivamente.
As oportunidades estão espalhadas em todos os segmentos. Já os riscos são diferenciados. Em iluminação pública, por exemplo, a complexidade é menor, via de regra, do que projetos de saneamento. A rentabilidade potencial segue a mesma lógica: quanto mais simples o projeto, mais comprimida. Se olharmos para o Brasil, é fato que há estados com mais cidades com um volume superior a 100 mil habitantes. Há diferenças de regiões com maior carência de fibra do que de saneamento, mas, no geral, as oportunidades se espalham pelo território nacional, de forma generalizada. E trata-se de um investimento de efeito estrutural, com benefícios indiretos para o todo o país. Ao melhorar a eficiência energética de uma cidade de médio porte, por exemplo, diminui-se o consumo, aliviando as contas públicas e o sistema energético nacional.
O Brasil é um país de marcos regulatórios de infraestrutura bem definidos, com respeito a contratos de longo prazo. É possível ter visibilidade e estabilidade no investimento futuro, com taxas de retorno muito superiores às de outros países, dada as nossas profundas e diversas carências.
Saneamento e iluminação pública dependem de concessões, que têm contado uma ajuda importante do BNDES, para dar celeridade às iniciativas. Já outras áreas só precisam contar com o engajamento da iniciativa privada. Ano que vem, com eleições, o cenário é mais desafiador, mas também repleto de oportunidades, já que as demandas da população não param — e é preciso ouvi-las. É chegada a hora e a vez de investirmos em cidades de médio porte. O futuro do país, e de todos os brasileiros, só tende a ganhar.