O mito do acesso ao mercado de capitais
É comum ouvir de empresas, inclusive as de médio porte, que a captação de recursos no mercado de capitais é só para “gente grande”. Até aquelas fora do eixo RJ-SP, mesmo maiores, sentem-se intimidadas, tanto pelas siglas quanto pela linguagem com termos chiques em língua estrangeira e afins.
O curioso é que muitas dessas empresas teriam boas condições de acessar recursos de fundos de renda fixa privada, por exemplo, e despertariam grande interesse de Family Offices – só para ficar em um perfil de investidor mais adepto ao risco. Normalmente, as boas condições são determinadas pela característica média do perfil de endividamento da empresa brasileira que não de grande porte, o que seria concentrada em crédito bancário, com maiores spreads e mais curto prazo.
Mas, se as condições são boas e há interessados nesta desintermediação do crédito que só os bancos conhecem hoje, por que é difícil a popularização dessa fonte de recursos? Na minha visão, pela junção de três fatores:
1) Educação financeira: o desconhecimento e a desinformação dificultam o entendimento do que pode ser o benefício econômico para a companhia, mantendo-a nas linhas convencionais de crédito.
2) Liquidez: cada vez mais, gestoras de recursos e fundos interessados em renda fixa privada têm surgido, o que cumpre um papel fundamental de liquidez tanto em
mercado primário, para grandes emissões ou de risco mais elevado, como para o mercado secundário. Isso permite que pessoas físicas, ao investirem nesse tipo de
operação, possam reaver seus recursos antes do vencimento da operação.
3) Capilaridade: há recursos para serem alocados, mas os gestores desconhecem as empresas. As empresas, por sua vez, desconhecem os gestores e seus critérios para
liberação de recursos. É preciso uma rede ampla de atendimento para que as duas pontas se encontrem.
Acredito muito que a capilaridade seja o fator crítico de sucesso para o crescimento mais acelerado da participação desta fonte de recursos junto a empresas médias, no mínimo. Informá-las sobre a forma e em quais condições poderiam acessar o mercado de capitais, tendo a tecnologia disponível hoje como grande alavanca, melhora a educação, o que fomenta a liquidez e retroalimenta os agentes que entregarão essa capilaridade.