Dólar em 2022: como o cenário macro pode afetar (e aumentar) a cotação da moeda

Ao longo dos últimos meses, as projeções para o dólar em 2022 mudaram bastante. Há cerca de um mês, relatórios de instituições financeiras e casas de análise apontavam para o câmbio entre R$ 5,10, R$ 5,30 no próximo ano. Mas, com a piora do cenário fiscal, essas estimativas saltaram para R$ 5,50, até R$ 5,70.

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De acordo a equipe de macro do BTG Pactual (BPAC11) digital, as rachaduras no teto de gastos, cada vez mais aparentes e inevitáveis para 2022, têm provocado a depreciação de uma série de ativos financeiros locais, sobretudo do real frente ao dólar.

Nem mesmo os juros em patamares elevados (taxa Selic a 7,75% e deve chegar a 9,25% em dezembro) têm dado conta de melhorar o valor da moeda brasileira. “A deterioração das expectativas fiscais, resultante das péssimas alternativas levantadas para as contas públicas em 2022, é o principal fator para a depreciação do real“, diz relatório do BTG.

Os analistas do banco enfatizam que, diferentemente do que aconteceu em 2020/21, para 2022 o mercado não “compra” o furo no teto e, no caso do câmbio, mesmo com a forte valorização das commodities e do maior diferencial de juros nos últimos 12 meses, o real não aprecia já que o dólar em poder dos brasileiros não está sendo internalizado.

Esse, inclusive, seria o motivo para a cotação do dólar não obedecer os fundamentos econômicos nos últimos meses, mas sim variar segundo o ambiente político.

Com a proximidade do ano eleitoral, os analistas do BTG digital revisaram suas projeções para o dólar, saindo de R$ 5,30 para R$ 5,60 em 2022.

dólar em 2022
dólar em 2022. Foto: relatório macro de novembro do BTG Pactual

Revisão da cotação dólar

A opinião não é exclusiva dos analistas do BTG. Boa parte dos especialistas já veem o Brasil precisando conviver com o dólar pelo menos na faixa dos R$ 5,50, no resto deste ano e ao longo de 2022 também.

O Credit Suisse, por exemplo, mudou sua previsão para o dólar no início de novembro, saindo de uma expectativa de R$ 5,20 ao fim de 2021 e 2022 para R$ 5,50 ao final dos dois anos.

A mesma revisão foi feita pelo Itaú Unibanco (ITUB4), que elevou sua projeção para a taxa de câmbio dos R$ 5,20 para os R$ 5,50, ao fim deste e do próximo ano.

Em sua análise, o banco escreve que o aumento da taxa de juros brasileira para patamares substancialmente maiores do que o observado em pares emergentes deveria ser suficiente para apreciar o real. No entanto, as incertezas domésticas, “especialmente relacionadas à evolução das contas públicas nos próximos anos”, pressionam a moeda nacional.

Instituição2022 (antes)2022 (atual)
BTG Pactual5,35,6
Credit Suisse5,25,5
XP Investimentos5,15,7
Itaú Unibanco5,25,5

E não só isso. O cenário global se mostra desafiador para ativos de risco, segundo relatório do Itaú, tendo em vista o aumento de pressões inflacionárias globais e a antecipação da elevação dos juros nos EUA.

A XP Investimentos foi ainda mais longe. A corretora, que esperava anteriormente que o dólar caísse aos R$ 5,10 até o final do ano que vem, agora afirma que a moeda deve gravitar em torno dos R$ 5,70, neste e no próximo ano. Com a observação de que o cenário cambial apresentará muita volatilidade ao longo de 2022.

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Fator EUA e alta dos juros 

Mas nem tudo é cenário fiscal brasileiro. Nos últimos meses o índice DXY, que mede o dólar frente outras seis moedas internacionais, avançou mais de 1,5%, refletindo indicadores econômicos importantes nos Estados Unidos.

Um deles é o aquecimento do mercado de trabalho, fator principal de análise do Federal Reserve (Fed) para determinar sua política monetária para o país.

Com a retomada dos empregos e a persistente alta dos preços por lá, o banco central americano se vê obrigado a “dar o braço a torcer” e reagir. O resultado é a perspectiva de aumento dos juros no horizonte.

Dólar vs DXY
Dólar vs DXY. Foto: relatório macro de novembro do BTG Pactual

“O debate sobre alta de juros de curto prazo nos EUA ganha cada vez mais holofotes e faz mais preço no mercado cambial. Nossa perspectiva é de que serão feitas duas altas de juros no segundo semestre do próximo ano, sendo que a primeira esperamos que aconteça no terceiro trimestre”, diz relatório do BTG.

Juros maiores nos Estados Unidos são sinais de dólar fortalecido, o que é negativo para o real. “Caso o Fed indique que os juros podem subir antes do esperado pelo mercado, as variáveis podem convergir para o cenário de dólar pessimista ao final de 2021 ou, para o otimista, caso a postura seja a oposta”.

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Neutralizadores de dólar

Mas existem pontos que ajudam a equilibrar o dólar em patamares menores por aqui, como o fluxo cambial em alta e o crescimento das exportações. 

O Brasil acumula fluxo cambial de US$ 19,5 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, melhor resultado desde 2011. Isso porque o fluxo financeiro do País também está em patamares elevados. Em outubro, o saldo foi US$ 3,1 bilhões positivo – o melhor resultado do ano desde janeiro -, devido ao aumento dos juros. 

Outra possibilidade de entrada da moeda norte-americana no Brasil é por meio dos exportadores. No acumulado do ano, em comparação com igual período do ano anterior, houve expansão dos seguintes setores:

  • agropecuária: +21,0% (US$ 48,44 bilhões),
  • indústria extrativa: +73,1% (US$ 68,75 bilhões), e
  • indústria de transformação: +26,4% (US$ 117,45 bilhões).

A junção dos setores levou ao aumento do total das exportações, segundo a análise macro do BTG digital. 

Exportações
Exportações. Foto: relatório macro de novembro do BTG Pactual

Entretanto, é necessário que esses mercados coloquem o dólar aqui dentro. O segmento comercial registrou saída de US$ 2,4 bilhões no mês passado, um resultado baixo para o período, que decorreu sobretudo do menor fechamento de contratos de câmbio por parte dos exportadores.

Para a XP, os termos de troca [que medem o valor das exportações] continuam favoráveis no Brasil, o que pode reverter em entrada de dólar. “Uma deterioração adicional do câmbio poderia acontecer? Sim”, diz relatório, mas “esperamos agora uma taxa de juros mais elevada, o que pode compensar a desancoragem fiscal até as eleições do ano que vem”, concluem os analistas da XP.

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Monique Lima

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