Teto de gastos: economistas preveem cenário de estagflação em 2022
Com o acordo feito entre o governo e o Congresso para burlar o teto de gastos em busca de financiar as medidas de distribuição de renda em ano eleitoral, economistas projetam um quadro de estagflação — crescimento baixo com inflação alta — que já havia se desenhando no país, e agora será reforçado com um aumento mais forte na taxa de juros.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, não se conseguirá fugir desse cenário. “O presidente Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes, e os políticos em Brasília parecem não entender a gravidade, o risco econômico que essa mudança no teto de gastos representa”, diz.
Segundo ele, mexer na regra que limita os gastos públicos em um momento de tantas incertezas, em que o País convive com uma inflação persistentemente alta – e sobre a qual ninguém sabe ao certo em que nível vai ficar em 2022 -, é catastrófico para a economia.
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, disse que o cenário fiscal foi alterado com a mudança no teto, e que o quadro será de mais deterioração pela frente. “O cenário de juros e câmbio mais elevados vai alterar as expectativas (para a economia).”
Segundo ele, as sinalizações do governo vão na direção de aumento de gastos sem falar em cortar despesas. Os mercados se assustaram e perderam a referência de como vai ser a dinâmica da dívida para a frente.
Manobra no teto de gastos estimula a inflação
Com o aumento do risco fiscal, a XP elevou as projeções de dólar no fim de 2021 e 2022 para R$ 5,70, de R$ 5,20 e R$ 5,10, respectivamente. Na esteira da depreciação cambial e da piora das expectativas de inflação, a corretora aumentou também as suas estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021 (9,0% para 9,1%) e 2022 (3,9% para 5,2%) – esta última acima do teto da meta do ano que vem, de 5,0%.
“A inflação mais elevada à frente acontece não apenas pela depreciação cambial, mas porque passamos a incorporar um prêmio de desancoragem fiscal nas expectativas de inflação dos agentes”, afirma Megale. A XP informou que não mais espera uma convergência da inflação ao centro da meta no horizonte relevante da política monetária e que prevê IPCA de 3,5% em 2023, acima do centro do alvo, de 3,25%.
Shelly Shetty, responsável pelo rating do Brasil na Fitch, disse que os dribles no teto podem prejudicar a dinâmica de crescimento do PIB do Brasil e ainda trazer mais inflação. Para contê-la, será preciso subir os juros, o que eleva os custos de captação do governo.
(Com informações da Agência Estado)