Entidade entra com recurso contra a compra de ações da BRF (BRFS3) pela Marfrig (MRFG3)
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) publicou em 23 de setembro, parecer que autoriza, sem restrições, a aquisição das ações da BRF (BRFS3) pela Marfrig (MRFG3). O Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa do Consumidor (Ibedec) avalia que a transação é prejudicial a concorrentes e consumidores e entrou com recurso para tentar reverter a decisão.
Em 21 de maio, a Marfrig realizou a compra de ações ordinárias da concorrente, atingindo participação de 24,23% do capital social, ou 196,869 milhões de papéis. Em 3 de junho, a empresa adquiriu mais ações da companhia por meio de opções e em leilões realizados em Bolsa de Valores (B3) e chegou a uma participação de 31,67%, o que a aproximou dos limites estabelecidos no estatuto da BRF para acionistas minoritários e da cláusula de “poison pill”.
O Ibedec diz que a transação esbarra no risco de fechamento do mercado de hambúrgueres, o que em sua análise deve lesar concorrentes e consumidores. “É uma pauta importante aos consumidores. Em um país já pressionado pela inflação, concentrar mercado representa risco grave à cadeia econômica como um todo”, diz um trecho da petição enviada na sexta-feira (8), ao tribunal administrativo do órgão antitruste.
O pedido do instituto é para o Cade dar um passo atrás e ouvir os atores do mercado antes de bater o martelo sobre a aquisição.
“A SG (Superintendência-Geral do Cade) sequer aprofundou a instrução do Ato de Concentração, com o envio de ofícios ao mercado para entender como os demais concorrentes, clientes, fornecedores e partes relacionadas da Marfrig e BRF veem a operação”, diz um trecho do pedido. “Apresenta-se como imperativo o aprofundamento da instrução do caso no sentido de enviar ofícios ao mercado e requerer informações que auxiliem o Cade a tomar a decisão mais adequada.”
Marfirg e BRF: mercado vê possível fusão
Em junho, o aumento de participação acionária da Marfrig na BRF deixou o mercado na expectativa de uma possível fusão. A Marfrig, que hoje é menor do que a BRF, com aproximadamente R$ 12,7 bilhões de valor de mercado, decidiu elevar sua participação para cerca de 31% da companhia, que é avaliada em R$ 22,7 bilhões.
Na análise do mercado, essa movimentação nada mais é do que uma tentativa de chamar a atenção da dona da Sadia e Perdigão para retomar as conversas de uma combinação de negócios que foi iniciada, em 2019, e acabou não indo para frente.
Os especialistas avaliam que a fusão seria a melhor operação entre as duas gigantes, já que a compra da BRF geraria uma alavancagem muito grande, em um setor que enfrenta alta volatilidade e margens muito estreitas, segundo o analista da XP Investimentos, Leonardo Alencar.
Em contrapartida, a combinação de negócios é mais viável e gera uma expectativa para um portfólio mais amplo. Caso se concretize, a operação mudará a cara do setor na bolsa de valores brasileira, que hoje é composto por apenas quatro ativos: JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3), Marfrig e BRF.
Porém, apesar de entusiasmar o mercado, um casamento entre Marfrig e BRF enfrentaria vários desafios. O principal deles é a diferença entre as culturas corporativas das duas empresas.
Enquanto a Marfrig é uma empresa mais jovem, agressiva em aquisições e experiente no dinâmico setor de commodities, avaliam analistas do mercado, a BRF tem origens centenárias e é mais cautelosa em seus movimentos de mercado. Além disso, a dinâmica da indústria de alimentos processados é diferente do mercado de carnes.
(Com informações do Estadão Conteúdo)