O alinhamento dos astros e o desalinhamento econômico
Há um relato da última expedição de Colombo às Américas que narra como ele conseguiu, após um naufrágio, prever um eclipse lunar e tirar proveito disso por algum tempo junto aos índios na Jamaica, enquanto aguardava pelo resgate.
Na antiguidade, os eventos de eclipse lunar ou solar eram muitas vezes oportunidades para xamãs, sacerdotes ou líderes tribais exercerem poder sobre a população, associando o fenômeno a presságios de bom ou mau agouro. Hoje, sabemos exatamente quando os alinhamentos ocorrerão e o quão pouco significantes são para o cotidiano.
Porém, através de experimentos, os alinhamentos são importantes para confirmar teorias que perdurarão por longos períodos de tempo.
Tivemos na semana passada o alinhamento das reuniões do Copom e do FOMC. Alguns aproveitaram o momento para especular na bolsa, no câmbio e em outros ativos.
Mas sabemos que pouco irá mudar no cenário futuro. O Copom subiu mais uma vez a taxa de juros, e isto, ainda assim, será insuficiente para conter a inflação e a fuga de capital estrangeiro.
O FOMC foi cauteloso no seu pronunciamento sobre a retirada de estímulos e subida de juros e, ainda assim, sabemos que ambos virão.
Após poucos minutos de duração, o eclipse em nada muda nossas vidas e também após as reuniões da semana passada, nada mudou no cenário político-econômico. Continuaremos orbitando como a Lua em torno da Terra e esta em torno do Sol.
Seguiremos rumando para um cenário de enormes dificuldades em 2022. O combate à inflação irá drenar recursos importantes para retomada do crescimento econômico sustentável.
A inflação continuará aumentando a desigualdade econômica e social. A retirada de estímulos e uma eventual alta de juros nos EUA e zona do Euro irão diminuir a atratividade de investimentos no Brasil, pressionando o câmbio inclusive.
Neste momento, a rota da economia brasileira afasta o país do caminho do emprego, da estabilidade fiscal e monetária. Agora, quando finalmente parece que estamos deixando para trás o pesadelo da pandemia, percebemos que outros se avizinham, como os reflexos da eventual quebra da gigante chinesa Evergrande.
Como na astronomia, a maior parte dos fenômenos econômicos são previsíveis. Muitos de nós, no entanto, deixamos a previsão para charlatães que se aproveitam disso. É certo, porém, que as explicações não alteram o resultado.
Numa época em que tanto citamos a ciência, deveríamos aprender com os astrônomos, que aproveitam os fenômenos para comprovar ou refutar teorias através de experimentos. E todas as experiências vividas nos mostram que inflação e gastos públicos elevados não são ingredientes de uma política econômica de sucesso.
É hora de fazermos da Economia uma ciência ao invés de palanque político. Caso contrário, corremos o risco de rumar numa órbita elíptica para longe do desenvolvimento.