Pare de perder dinheiro girando a carteira
Há alguns dias, o fundador da Suno, Tiago Reis, postou uma notícia sobre um estudo feito pela corretora Fidelity Investments que descobriu que pessoas que morreram e deixaram o dinheiro investido tinham retorno médio melhor do que os vivos. A notícia parece estranha, mas não é exatamente uma surpresa. Quanto mais tentativas de comprar e vender para acertar o timing do mercado, maior a chance do retorno convergir para a média, ou mesmo ser pior do que isso.
Muita gente começou a investir na bolsa nos últimos três anos. Nesse período, embora tenham passado pela crise da Covid e pelos diversos circuit breakers de março de 2020, surfaram um mercado que caminhou quase em linha reta para cima. Um bull market daqueles.
Com algumas exceções (que são tão exceções que passaram a ser chacota em redes sociais), praticamente qualquer ação comprada trazia algum retorno positivo em algumas semanas ou, no máximo, poucos meses. Esse bull market fez parecer que investir é sempre assim: você compra ações de uma empresa e elas valorizam nos dias seguintes. Se não acontecer, é só trocar de ativo que eventualmente a próxima “aposta” se valorizará. Com o mercado em alta, em pouco tempo a pessoa acerta e passa a crer que será sempre assim.
Ficar girando os ativos da carteira não é investir. É comprar e vender, na maioria das vezes sem saber o motivo. Agora, com o mercado de lado há algumas semanas, muita gente não sabe o que fazer com as ações que possui porque não sabe nada sobre aquele ativo. Comprou porque achava que ia subir. Como não subiu, quer vender e busca outra oportunidade “com potencial”. Exemplos de companhias com ótimos retornos nesse período não faltam, o que só reforça a narrativa de que “é possível”. Vai vendo. No final do dia, quem faz isso acaba comprando na alta e vendendo na baixa, que é exatamente o oposto do que deveria fazer.
Não precisa de tanta experiência ou estudo para entender que não dá pra acertar sempre e o melhor é focar em boas empresas, com bons gestores e uma vantagem competitiva clara do que buscar o próximo ganho rápido. Não faltam pesquisas comprovando essa estratégia, ainda que um ou outro influencer – muitos que também começaram nos últimos três anos – digam o contrário.
Eu não sou um investidor experiente ou tão estudioso assim. Por isso, me sinto à vontade para falar sobre isso com quem está começando “agora”. Por experiência própria, sei que as empresas que me deixam mais seguro em comprar na queda ao invés de pensar em vender são aquelas que conheço bem. Meus melhores retornos vêm justamente dessas companhias, que estão há mais tempo na carteira, mostrando que o efeito bola de neve está funcionando. Isso também mostra que o comportamento diante do mercado tem um papel fundamental no retorno de longo prazo. Pare de ficar perdendo dinheiro enquanto gira a carteira e busque emoções em outro lugar. A bolsa de valores é para ganhar dinheiro sendo sócio de empresas, não para apostar.