Preços das commodities desabam com sinalizações do Fed e incertezas globais

Os preços das commodities despencaram nesta quinta-feira (19) acompanhando uma conjunção de drivers negativos nos mercados internacionais. O minério de ferro caiu 13% na China, enquanto os futuros de petróleo recuam quase 2% nas bolsas de Nova York e Londres.

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A derrocada no preço das commodities reflete, principalmente, a reação dos mercados à ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) divulgada na quarta-feira (18). O documento expôs o entendimento da maioria dos dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de que pode ser apropriado iniciar a redução do programa de compra de ativos ainda neste ano e até aumentar os juros.

O debate revelado na ata do Fomc não foi de todo uma surpresa. Segundo Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, o que pegou o mercado no contrapé foi a indicação de uma redução do volume de compra ao mesmo tempo dos seguros de hipotecas (MBS) e dos Títulos do Tesouro (Treasuries), e não apenas pelas MBS.

Embora ainda não haja consenso entre os integrantes do comitê de política monetária, a sinalização foi o estopim para uma reação em cadeia. A possibilidade de retirada dos estímulos misturou-se a um movimento de correção. As commodities vinham de uma trajetória forte de alta conforme os mercados precificavam o crescimento econômico para o pós-Covid.

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Depois da retomada em “V”, analistas coçam a cabeça para compreender para onde irá a economia mundial, enquanto o avanço na disseminação da variante delta nos Estados Unidos e na União Europeia (UE) aumenta o receio de menor crescimento. O impacto recai especialmente sobre commodities sensíveis à atividade econômica, como minério de ferro e petróleo.

Ao mesmo tempo, a China tem registrado uma desaceleração, de acordo com os últimos dados de indústria e varejo. A situação se agrava por causa da restrição do país asiático à produção de aço, cuja matéria-prima é o minério de ferro.

Para o economista Daniel Miraglia, o produto passou por um movimento de correção e continuará a oscilar conforme as revisões de crescimento econômico para, enfim, encontrar um ponto de equilíbrio, talvez inferior ao patamar atual.

Petróleo cai – e dólar se fortalece

O petróleo registrou forte recuo nesta quinta-feira, pressionado pelo sentimento de aversão global ao risco, após o Fed, indicar que pode começar a redução dos estímulos monetários neste ano nos Estados Unidos, em ata divulgada ontem. O movimento ainda provocou um fortalecimento do dólar no mercado cambial, pesando sobre a demanda por ativos cotados na moeda americana, como é o caso da commodity energética.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do petróleo WTI com entrega prevista para outubro encerrou a sessão em baixa de 2,62% (-US$ 1,71), a US$ 63,50, e o do Brent para igual mês cedeu 2,68% (-US$ 1,78) na Intercontinental Exchange (ICE), a US$ 66,45.

É o mesmo movimento provocado pela ata da última reunião de política monetária do Fomc: a maioria dos dirigentes da entidade está disposta a começar o tapering, como é chamado o processo de retirada gradual dos estímulos, já em 2021. A notícia provocou uma corrida por ativos mais seguros, pesando sobre os contratos de petróleo.

Segundo o Commerzbank, “para além das amplamente discutidas incertezas sobre a demanda”, o fraco apetite por metais básicos e o fortalecimento do dólar também prejudicaram o preço do óleo. Hoje, a moeda americana apreciou ante todas as principais moedas de economias desenvolvidas e emergentes durante a maior parte da sessão. O banco alemão destaca que o Brent registrou hoje sua quinta queda consecutiva, algo que não ocorria desde há 18 meses.

Fim do ciclo das commodities?

Apesar do banho de sangue nesta quinta-feira, Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse ter prematura a ideia de um fim do ciclo das commodities, porque a movimentação não é generalizada.

A retirada dos estímulos nos Estados Unidos e a disseminação da variante delta podem afetar negativamente os preços, em razão da perspectiva de crescimento econômico mais reduzida, ponderou Rochlin. Mas commodities agrícolas, que devem desfrutar de demanda chinesa sustentável, não parecem sofrer do mesmo mal, pelo menos não agora. É cedo ainda para decretar a morte do ciclo.

(Com Estadão Conteúdo)

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Arthur Guimarães

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