O Brasil vai dar certo
Se a economia brasileira fosse avaliada pelo volume de aplausos e críticas, o resultado seria catastrófico para os otimistas, pois estamos sitiados por más notícias.
Veja o compacto com os melhores lances: inflação de 8 por cento, desemprego de milhões, indústria moribunda, reformas estagnadas, Ministério da Economia se esvaindo, descrença crescente sobre compromisso fiscal e um Presidente tosco que lidera ele próprio a oposição ao seu governo: a cada fala sua, novo tiro no pé.
Some-se a isto a pantomima da CPI, com depoentes mentindo e opositores descobrindo o que já se sabia, o marco trágico de meio milhão de mortes por COVID que se aproxima, a unanimidade da Mídia em detratar Bolsonaro e completa-se o quadro de desalento que nos penetra de maneira generalizada.
Pois vou propor que este quadro está às vésperas de reverter, por razões bem objetivas:
- A pandemia está nos seus estertores. Com a vacinação do grupo de risco se completando em algumas semanas, a queda de mortalidade será excepcional. E nada melhor para remover a nuvem de pessimismo do que saber que nossos parentes idosos estarão a salvo e o espírito gregário do brasileiro poderá desabrochar novamente. Novas ondas de contaminação poderão irromper, dada a maior aproximação entre pessoas, mas sem a mortalidade do passado;
- A inflação já reverteu, a partir de maio entrará em contínuo declínio, a menos de um agravamento da seca nos reservatórios, que encareceria a energia elétrica ainda mais. A inflação recente resultou de aumentos de preços de commodities agropecuárias e minerais, afetadas pela ruptura de cadeias produtivas durante a pandemia. Recomposta a oferta e com a demanda interna recuperando-se suavemente, a inflação tenderá a fechar o ano rodando a 3 por cento, na margem;
- A atividade econômica, ainda que debilitada, é positiva: não há pesquisador que não esteja revendo para cima suas projeções do PIB, que já giram em torno de 4 a 5 por cento;
- As contas externas estão magnificas, graças às receitas espetaculares das nossas exportações: nosso saldo comercial quase dobrará neste ano.
- O orçamento de 2021 da União respeitou o limite do teto, sem deixar de enfrentar o fator recessivo da pandemia remanescente. O déficit será menor do que em 2020, mitigando pressão inflacionaria.
- As privatizações dos últimos meses foram surpreendentemente bem-sucedidas: aeroportos, rodovias, ferrovias e até o setor sanitário carrearam bilhões para a União, além do aumento natural de produtividade que a transferência da gestão destas empresas vai induzir. E a batalha pela liberação crescente de importações vem sendo travada discretamente, mas com ganhos contínuos: haja vista a disposição de enfrentar o veto argentino à redução da tarifa de importação unificada do Mercosul;
- Desde a posse dos novos comandos na Câmara e no Senado, as reformas voltaram a fluir, augurando a aprovação da tributária e da administrativa ainda neste ano. Pela primeira vez, se negocia a sério uma maior tributação sobre ricos e menor sobre empresas. Mais: os mais trêfegos dentre os ministros, foram catapultados, melhorando o diálogo com o Executivo. E mais deve acontecer, neste departamento
Se Bolsonaro não tivesse antagonizado tão fortemente os formadores de opinião (não seria o Bolsonaro, dirão), o Brasil já estaria em marcha batida para ser a fronteira incensada do capitalismo internacional. Mas a lógica sempre prevalece e o cenário descrito aqui torna inevitável a nossa ascensão no quadro internacional. Mormente quando cair a ficha de que somos o país com vantagens comparativas inexcedíveis na produção de commodities, oportunidades de investimentos complementares em infraestrutura, atuação simbiótica Parlamento-Executivo na modernização das instituições, solidez ímpar nas contas externas e do sistema financeiro. Temos uma política econômica coerente: a monetária, que peca por excesso no combate à inflação; a fiscal, que não renuncia ao compromisso de austeridade e, na cambial, respeito pela solução de mercado.
Por tudo isto, é tentador desafiar o pessimismo e apostar nas ações, na queda do dólar e na sustentação ou queda dos juros longos atuais.