Copom dá ‘solução salomônica’ ao manter normalização parcial, mas sem compromisso
O Comitê de Política Monetárias (Copom) do Banco Central (BC) aumentou nesta quarta-feira (5) a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, levando-a a 3,5% ao ano. O colegiado disse ser apropriado a manutenção da normalização parcial da taxa básica de juros, porém enfatizou não haver compromisso.
Para o órgão, é o que indica o cenário básico: manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica. A próxima reunião, por exemplo, já tem aumento contratado: 0,75 ponto percentual, o hat trick. Mesmo assim, o Copom destacou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação.
Na prática, o juízo “deixa claro como o Copom não está pensando em subir a taxa de juros neste ano acima de 6,5% ao ano, nem muito próximo disso”, avaliou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
De acordo com acordo com o especialista, como não está claro qual exatamente seria o nível neutro para a taxa Selic na visão do Banco Central, subir o juro para um patamar próximo de 6,5% ao ano seria desestimular qualquer tipo de impacto positivo na atividade via política monetária.
Na leitura de José Luiz Rossi, economista da Investmind, o órgão atenuou o ritmo, mas ao mesmo tempo ofereceu uma “solução salomônica” ao dizer que irá analisar o balanço de riscos e não está totalmente comprado com com a decisão.
Copom critica lentidão de reformas e de ajustes na economia
Luiz Rossi também ressaltou o tom mais duro do Copom no que tange à questão fiscal, “deixando claro que tem um risco relevante e de alta para inflação”.
No comunicado, o Banco Central reiterou a necessidade de perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira para permitir a recuperação sustentável. “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia. ”
“O relatório voltou a reforçar até com mais ênfase a responsabilidade do Congresso como figura principal na condução da inflação, dos gastos públicos e das reformas”, ponderou João Beck, sócio da BRA.
O que esperar agora?
Segundo o especialista, para amanhã, quinta-feira (5), pode-se esperar um comportamento de alta das taxas de juros longas.
Há dois efeitos inflacionários no Brasil, explicou João Beck, um puxando a inflação para cima e outro para baixo. O primeiro é resultado dos impactos da pandemia de covid-19, o desemprego alto, a economia desaquecida. Já o segundo se deve muito ao preço das commodities e à taxa de juros nos Estados Unidos.
“O Bacen continua comunicando uma taxa de juros mais estimulava, preferindo subi-la em uma velocidade menor, porém por um período mais longo.”
Em relação a setores, na essência, nenhum se beneficia com a alta de juros, disse o sócio da BRA. “Pelo contrário, a alta é um instrumento para desaquecer a economia em geral. O que está acontecendo é que alta de juros está vindo por pressões de alta das commodities e de dólar. Nesse caso, há empresas que se beneficiam com esses fatores, como empresas ligadas ao mercado externo e commodities.”
O impacto da decisão nos investimentos em renda fixa é o aumento dos rendimentos, explicou Victor Beyrute, economista da Guide Investimentos. “A Selic como taxa básica influencia todas as taxas, inclusive as que são pagas pelo governo. Os títulos do governo respondem a ajustes na taxa Selic.”