Destaques em 2021, CSN (CSNA3), Usiminas e Gerdau têm espaço para mais

Em março de 2020, a economia mundial virou de ponta-cabeça e o futuro ficou nebuloso em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). No entanto, para recuperar o crescimento e movimentar o mercado de trabalho, muitos países têm recorrido a investimentos em infraestrutura. Nesse contexto, há um nicho muito beneficiado: empresas de siderurgia, representadas na Bolsa brasileira por CSN, Usiminas e Gerdau.

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Investimentos em infraestrutura, que nada mais são do que recursos direcionados para melhoria de mobilidade urbana, transporte e energia, demandam muito aço que, por sua vez, precisa do minério de ferro. Com isso, CSN, Usiminas e Gerdau têm batido recordes de volume e preços praticados nessas commodities.

Os ativos, claro, se beneficiam desse cenário, e ainda precificam uma melhora. Nos últimos 12 meses, as ações da CSN (CSNA3) subiram expressivos 558%. Somente em 2021, a alta é de quase 60%, deixando o Ibovespa para trás, com alta de 1%.

A Usiminas acumula alta de quase 57% em 2021, enquanto a Gerdau avança 41% neste ano.

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O mesmo é observado com as ações das siderúrgicas Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4), empresas tradicionais do País que demonstram força para fazer frente aos novos entrantes na Bolsa. Até aqui, as três companhias ocupam metade das seis maiores altas da Bolsa brasileira no ano.

Esse bom momento é fruto de aspectos macroeconômicos globais ocasionados por um ciclo sem precedentes na história mundial. Embora os resultados demonstrem bons avanços nos últimos trimestres, o espaço para valorização das ações refletindo os balanços das empresas de siderurgia ainda é grande, segundo especialistas.

A recomposição de estoques globais

Com o avanço da vacinação, mesmo que em patamares diferentes ao redor do mundo, está acontecendo uma recuperação global sincronizada. Isso deve ser refletido nos dados econômicos dos primeiro trimestres deste ano, apesar da fraca base de referência do ano passado.

Além disso, o cenário ainda é de muita liquidez. Na última quarta-feira (28), o Federal Reserve (Fed) disse que continuará a apoiar a economia estadunidense e a compra de títulos mensais, na ordem de US$ 120 bilhões, não será revogada. Isso complementa o pacote de estímulos de US$ 2,25 trilhões para infraestrutura anunciado pelo presidente Joe Biden recentemente.

Com a demanda ainda em vias de ficar pujante, a expectativa é grande para a rentabilidade das empresas de siderurgia. “É complicado de mensurar até onde pode ir o preço do aço, pois o cenário é de forte retomada. Neste momento, não há nenhuma sinalização de que esse quadro possa ser revertido”, diz Henrique Esteter, analista da corretora Guide.

Avanço do Ebitda, uma amostra da geração de caixa, da Usiminas. Fonte/elaboração: Usiminas.

Em crises, normalmente, os produtores sustentam as operações e quando há uma estabilização, existe um nível de estoques saudável que consegue suportar a demanda. No entanto, por conta da pandemia, a recuperação ocorre com estoques baixos, fazendo com que os preços subam muito rapidamente. Os compradores têm precisado elevar as compras para reposição, sobretudo na Europa e Estados Unidos.

Segundo Esteter, que tem recomendação de compra para CSN, Usiminas e Gerdau, a pandemia não deixa de ser um risco à operação das empresas do setor de siderurgia, entretanto, “o cenário global está tão forte que minimiza algumas dificuldades”. Com o câmbio rodando acima dos R$ 5,40 e os volumes em crescimento, as siderúrgicas como CSN, Usiminas e Gerdau só têm a ganhar margem.

Embora o governo da China tenha arrefecido propositalmente o mercado imobiliário, com medo da criação de uma bolha no setor, a demanda por aço deve continuar forte ao menos até 2022. É esperado que apenas os Estados Unidos, com o novo pacote proposto, eleve a demanda mundial em 3%.

No que se refere ao Brasil, os investimentos também vão crescer. Segundo um estudo da Neoway, empresa de big data e inteligência artificial, os recursos para infraestrutura e indústria no Brasil devem totalizar R$ 71,2 bilhões até 2026. Um avanço de 24,7% se comparado à estimativa anterior, até 2025.

Riscos ambientais

Assim como em qualquer modelo de negócios, entretanto, as siderúrgicas possuem riscos, mesmo que neste bom momento. As preocupações climáticas, cada vez mais presentes na vida dos governos e CEOs, prometem pressionar cada vez mais as companhias do setor.

O aço é um item extremamente necessário no mundo atual, em razão das funções citadas anteriormente. Contudo, as empresas que o produzem estão entre as mais poluidoras de qualquer economia. Em suas operações, elas queimam um derivado do carvão chamado coque, liberando gases de efeito estufa.

Os impostos sobre carbono estão aumentando mundo afora, e representam talvez um dos poucos motivos para se manter cauteloso com o crescimento das empresas. Biden assumiu os Estados Unidos em janeiro deste ano, e com sua agenda verde, já elevou o preço da tonelada de carbono sete vezes, por exemplo.

Para especialistas, contudo, esse fator pode ser mitigado, ao menos no curto e médio prazo. “A China, uma das maiores produtoras e consumidoras de aço no mundo, está procurando reduzir a emissão de carbono, antecipando a previsão de 2030. E isso será um divisor de água para as companhias de todo o mundo — talvez positivo”, disse a gestora da Macro Capital, Priscila Araújo.

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Atualmente, a China produz 60% de toda a commodity consumida no mundo. Caso ela diminua essa proporção com os olhos voltados para o meio ambiente, a oferta terá de ser suprida por outras empresas. “Isso melhora as perspectivas para as siderúrgicas ao redor do mundo, com oferta em baixa, preços e demanda em alta”, diz Araújo.

No entanto, algumas empresas já têm se mexido para se adequar a um novo mundo, e a Gerdau é um exemplo disso. No ano passado, em meio a um forte plano de reestruturação de suas operações, a empresa lançou o programa Gerdau Next, pensando na Gerdau do Futuro.

A empresa visa ter a maior parte de suas receitas oriundas não só de aço, mas de serviços — muitos deles que ainda sequer existem. Nos próximos 10 anos, o objetivo é que 20% do faturamento venha por esse caminho.

No Brasil, as principais questões que ficam se referem à vacinação. Apenas 7% da população recebeu as duas doses do imunizante contra o coronavírus, e esse é o principal driver para a reabertura da economia, reaquecendo a demanda.

Na visão da gestora, todavia, não há uma dependência do setor muito grande por esse fato. “A procura por aço no mercado interno diz respeito à recomposição dos estoques. A retomada da atividade acontecerá mais cedo ou mais tarde.”

Melhor dos mundos para CSN, Usiminas e Gerdau

O fato é que os investidores de siderúrgicas, como a CSN, estão bem satisfeitos com o resultado dos últimos meses. Independentemente do caminho que as ações tomaram — que foi muito acima da média — as empresas estão com margens maiores, entregando mais lucros e sem perspectivas de baixar a guarda.

“Na prática, quando olhamos a rentabilidade em relação aos preços praticados, é o melhor momento das siderúrgicas nos últimos 10 anos e esse cenário deve persistir nos próximos meses”, comentou Araújo. Ela ainda citou que as empresas devem repassar aos clientes novos aumentos nos produtos em maio.

O endividamento da CSN, por exemplo, era um problema acompanhado de perto pelo mercado. Com a empresa querendo se desfazer de seus ativos não prioritários, como o fez no IPO da CSN Mineração (CMIN3), as atenções eram voltadas à alavancagem financeira.

Tudo mudou com esse contexto favorável. O indicador no primeiro trimestre ficou em 1,29 vez, recuo de 3,49 pontos percentuais em comparação ao mesmo trimestre do ano passado. A dívida líquida caiu de R$ 32,80 bilhões para R$ 20,54 bilhões. Para o BTG Pactual, por exemplo, isso não é mais um problema.

Endividamento e alavancagem da CSN. Fonte/elaboração: CSN.

A normalização dos estoques, para a gestora, deve ocorrer somente no fim do ano, “momento em que a demanda deve estar muito forte com os preços maiores ainda, compensando a alta do minério de ferro”. Em razão disso, ela atribuiu como “muito forte” o balanço da Usiminas, a primeira das três a divulgar os números.

“Temos o melhor dos mundos, o alinhamento perfeito dos astros. Os preços em dólar estão muito altos e o câmbio permanece depreciado, além de um estoque que precisa de recomposição. Isso faz com que os preços cresçam bastante, mesmo com a demanda ainda fraca no Brasil.”

A Macro Capital também está otimista com as três empresas de siderurgia. A visão da gestora é que a estabilização de todas as cadeiras produtivas irá demorar, mantendo-se os preços do aço elevados.

“O primeiro trimestre sazonalmente é mais fraco para essas empresas, mas para a Gerdau esperamos um destaque na operação dos Estados Unidos, com uma recuperação do setor automobilístico, em detrimento às operações na América do Sul”, diz Araújo. O resultado da Gerdau será divulgado na próxima quarta-feira (5).

Apesar dos bons números do primeiro trimestre já estarem no preço, dada a realização de lucros na CSN no último pregão, Araújo diz que as empresas de siderurgia do Brasil parecem estar bastante descontadas, e que ainda há espaço para valorização.

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Jader Lazarini

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