Lajes corporativas farão sentido após a pandemia? Veja a opinião de especialistas
A pandemia de Coronavírus (Covid-19) trouxe muitas mudanças para a sociedade de modo geral. Junto com essas mudanças vieram algumas dúvidas em relação ao futuro, como por exemplo “quando poderemos andar sem máscara de novo?”; “Quando vai chegar a minha vez de tomar a vacina?”; e outras questões mais voltadas ao mercado corporativo “Será que vamos voltar a trabalhar nos escritórios com 100% da capacidade?”; “As lajes corporativas ainda vão existir no pós-pandemia?”
Muitos investidores se perguntam o tamanho do impacto da pandemia nas lajes corporativas, e se escritórios ainda vão fazer sentido no futuro já que o tele trabalho, ou home office como ficou conhecido, parece estar agradando.
Dados preliminares levantados pela Buildings Company, apontam que a taxa de vacância em São Paulo no primeiro trimestre de 2021 deve subir de 2% a 2,5%.
Em seu canal do Youtube, Fernando Didziakas destaca que nos primeiros três meses deste ano, o número de devoluções é superior ao o volume de novas ocupações.
No entanto, desde o início da pandemia, o trimestre com pior volume de devoluções foi o terceiro trimestre de 2020, quando o volume de devoluções foi de 66,7 mil metros quadrados.
Já nos três últimos meses do ano passado as devoluções somaram 18,5 mil metros quadrados, enquanto que nos primeiros três meses desse ano as devoluções devem ser entre 25 mil metros quadrados e 35 mil metros quadrados.
Em relação as devoluções de espaços, Jacinto Santos, analista do Funds Explorer, destaca que atualmente existem devolução de espaços, mas esse ritmo parece estar desacelerando. “Estou enxergando uma desaceleração, não sei se vai continuar essa desaceleração”, pondera.
Segundo o analista, atualmente com o aumento das contaminações de coronavírus as pessoas ficam mais reticentes em voltar para o escritório e isso impacta as movimentações das visitas aos imóveis. “Você tem adiamento de expansão por parte de algumas empresas e algumas devoluções de espaços”.
Vacinação deve influenciar o setor de lajes corporativas
Didziakas afirma em seu canal do Youtube que o avanço da vacinação e o cenário econômico do País devem influenciar na absorção de novos espaços e na retomada de crescimento do mercado de escritórios.
Ele explica em seu vídeo que os escritórios podem até ser menores em um cenário pós-pandemia, mas devem continuar existindo.
Escritórios são mais do que apenas um local onde as pessoas se encontram para trabalhar, eles ajudam a construir a cultura da empresa, bem como a sinergia da empresa.
Nesse sentido, o Professor Baroni, analista da Suno Research, aponta que a medida que a vacinação avança e as mortes caem, as empresas se motivam a trazerem os funcionários de novo.
“Quem ficar de fora do escritório vai ficar incomodado”, aponta Baroni.
Home office não é a principal causa do aumento da vacância
Segundo Daniel Caldeira, CEO da Mogno Capital, o home office não é o principal causador das devoluções de escritórios. Ele destaca que o aumento na vacância aconteceu uma vez que muitas empresas quebraram por causa da crise que veio junto com a pandemia.
“O que veremos agora é um ajuste de crise”, destaca . “Quando pegamos grandes fundos com lajes corporativas, os fundos estão ocupados, inadimplência e ocupação não mudou nada em geral”.
Segundo ele, algumas empresas vão diminuir, enquanto outras vão sair de uma região inferior para outra melhor. O CEO da Mogno salienta que existem empresas em bons lugares devolvendo espaços, enquanto existem empresas que estão indo para esses lugares melhores, diminuindo a quantidade de metros quadrados.
“Se esse movimento de home office levar a vacância, esse espaço vai ser locado por empresas que precisam de áreas menores, explica ele, apontando que “quem sofre é quem tem ativo de pior qualidade”. No entanto, para ele não é algo que vá acontecer.
Além disso, existem empresas que cresceram durante a pandemia em não tem mais espaço físico no escritório para acomodar todos os colaboradores. Assim, Caldeira diz que o trabalho remoto será mais frequente do que antes da pandemia, mas o impacto geral nas lajes corporativas é pequeno.
Adaptação do modo de trabalho
De acordo com Caldeira, em um futuro próximo haverá uma adaptação do trabalho remoto, mas ao mesmo tempo veremos empresas querendo ocupar mais metros quadrados por pessoa do que ocupava antes.
“No final não vejo a gente gastando menos espaço do que gastaria. Tem empresas que vão mandar parte da equipe pra casa, mas não é uma diminuição muito importante”.
Já o professor Baroni e Jacinto acreditam que o modelo hibrido vai funcionar por mais algum tempo nesse primeiro momento.
Segundo Jacinto, a configuração dos escritórios deve sofre uma mudança com espaços mais abertos, cantos para entretenimento dos funcionários, salas de reuniões menores, mais espaçadas, um espaço de convivência maior e melhor.
“O modelo híbrido será um molde que será seguido para muitas empresas, em escritórios”, salienta.
Lajes e escritórios não vão acabar
Em relação a importância das lajes corporativas após a pandemia, Caldeira aponta que escritórios vão continuar sendo muito importantes.
Ele cita que “as incorporadoras estão vendendo apartamento pra caramba, como que vai acabar escritório?! Não tem lógica”.
De acordo com o CEO da Mogno Capital, São Paulo tem poucas lajes corporativas em comparação com o tamanho da economia, e poucos ativos de qualidade. “Eu acho que veremos muita laje corporativa nova no longo prazo, mas no curto prazo não, só uma pequena reorganização”, explica.
Nesse sentido, Jacinto, acredita que as construtoras imobiliárias que são contratadas para Brokered Services devem ter foco em empresas que estão procurando expansão, de acordo o tipo de negócios que se beneficiariam em pandemia.
“Empresa de saúde, por exemplo, empresas de seguros e fintechs estão procurando expansão. Acredito que essas empresas terão sim procura de espaço”.
Baroni explica também que as lajes corporativas não devem desaparecer. Ele salienta que “os gestores estão loucos para comprar terrenos para construir mais lajes corporativas”.
Contudo, o analista destaca que a pergunta que se deveria fazer é se as empresas terão forças para continuar investindo “a pergunta não é pandemia, mas o pais vai ter um crescimento econômico que permita que as empresas continuem investindo”. “O Brasil vai ter condições para que as empresas continuem crescendo? essa é a pergunta”.
Além disso, ele pontua que os escritórios vão voltar em algum momento. “O pior momento já deve ter passado. As empresas que tinham que devolver, devolveram no terceiro trimestre de 2020”.
Um momento histórico
Baroni e Caldeira lembram que estamos vivendo um momento histórico. Para o professor, tudo se resume a percepção das coisas.
O analista lembra que ainda estamos em um período com muitas mortes e que a vacinação ainda está processo. Nesse sentido, ele destaca que tem pessoas otimistas e pessimistas.
“Tem gente que fala que não vai ter mais lajes corporativas, e gente que fala que ninguém vai nem lembrar mais disso no futuro”. Segundo ele, “toda decisão no meio da pandemia tende a ter ruído. Qualquer coisa falada agora é sensorial”.