Quanto pesa no comércio global o acidente de Suez
O encalhe do navio porta-contêineres Ever Given no Canal de Suez, Egito, ocorre no momento em que o transporte de contêineres passa pelo que os operadores do setor definem como uma tempestade perfeita.
O acidente de Suez, por onde passa 10% de todo o transporte marítimo mundial, teria sido provocado por ventos muito fortes, fora do normal registrado naquela região, que levaram o navio a se encalhar em um dos pontos mais estreitos do Canal.
A situação evidencia a extrema fragilidade e vulnerabilidade do sistema de transporte marítimo e, em particular, de infraestruturas estratégicas como o Canal de Suez, mas também dos grandes portos, face aos riscos que representam as alterações climáticas e os eventos meteorológicos que já não podem ser qualificados de extraordinários.
Além disso, o acidente de Suez será utilizado pela Rússia e pela China para promover a rota do Ártico, criando enormes problemas para o próprio Egito e para o Oriente Médio como um todo, região já muito complicada.
Acidente em Suez piora situação do comércio mundial
Vários fatores levaram a uma situação anormal no setor de transporte marítimo:
- a interrupção das cadeias de abastecimento devido à primeira fase da pandemia do novo coronavírus (covid-19);
- a estratégia das operadoras para controlar a oferta:
- o cancelamento de algumas partidas programadas de navios cargueiros;
Além disso, no segundo semestre de 2020 houve um aumento repentino na demanda em alguns mercados, como nos Estados Unidos e na União Europeia.
Isso levou a um aumento vertiginoso nas taxas de frete nas rotas China-Europa e China-Mediterrâneo, que passaram de cerca de US$ 900 (cerca de R$ 5 mil) em julho de 2020 para mais de US$ 4,2 mil (cerca de R$ 23 mil) em fevereiro de 2021.
O aumento das tarifas de frete vem acompanhado de uma queda na qualidade do serviço e na confiabilidade: quase um terço da frota ativa no mundo, passa em média sete dias parada no porto. A pontualidade também é muito baixa. Em janeiro deste ano ocorreu em apenas 34,9% dos casos.
Paralelamente, o número médio de dias de atraso dos navios continuou a aumentar, chegando a 6,42 dias em janeiro.
O acidente de Suez piora essa situação. O jornal especializado em navegação comercial Lloyd’s List estimou que aproximadamente US$ 10 bilhões em tráfego diário marítimo poderiam ser interrompidos por cauda desse bloqueio.
O tamanho do navio encalhado (400 metros de comprimento e capacidade para 20 mil contêineres) certamente não ajuda.
É o resultado da política de gigantismo conduzida por grandes empresas nos últimos anos, principalmente no setor de navios porta-contêineres.
Para a seguradora Allianz global corporate & security, especializada no setor marítimo, o tamanho desta unidade tornam uma operação de resgate um empreendimento com um custo significativo. Tirar um mega-navio de um espaço confinado como Suez será um desafio.
No entanto, acidentes como este não invertem a tendência do gigantismo. Esses enormes porta-contêineres têm capacidade para transportar muito mais mercadorias numa única viagem e poluem menos. Eles vão na direção indicada pela Organização Marítima Internacional em termos de eficiência de carga transportada.
A pergunta é: se esse è o futuro, será que o Canal de Suez vai aguentar?