Guerra entre Apple e Facebook pode mudar o futuro da internet

Nas últimas semanas a Apple (NASDAQ: AAPL) e o Facebook (NASDAQ: FB) trocaram farpas e denúncias através das páginas dos principais jornais econômicos do mundo.

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Em veículos como o The Washington Post, New York Times e The Wall Street Journal, o Facebook publicou anúncios onde dizia estar “lutando contra a Apple pelas pequenas empresas em todos os lugares do mundo”.

Além disso, o Facebook afirmou que a Apple utiliza a App Store para realizar práticas anticompetitivas, priorizando seus resultados em detrimento de pequenos desenvolvedores e empresas.

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Essa disputa é muito mais intensa do que o grande público imagina. Tanto que em seu relatório de resultados do último trimestre do ano, o Facebook deixou claro que a Apple será a responsável de uma provável desaceleração de seu crescimento em 2021.

Ninguém sabe onde essa guerra entre gigantes vai terminar. A única certeza é onde começou: com um programa chamado Ping.

Como tudo começou

O Ping foi o social network musical que o Steve Jobs decidiu criar em 2010.

Naquele período, Mark Zuckerberg teria frequentado a casa do carismático fundador da Apple – que tinha acabado de ser escolhido como “homem do ano” pela revista Time – em busca de conselhos para o recém criado Facebook.

Durante os papos, os dois executivos também discutiram da possibilidade de integração do Ping no Facebook, além de colaborações mais intensas.

Entretanto, nada aconteceu.

Em 2011, o Ping foi encerrado. Zuckerberg sucedeu à Jobs na capa da Time. E em poucos meses o Facebook se tornou o gigante que conhecemos.

Dez anos depois, Zuckerberg e o sucessor Steve Jobs, Tim Cook, começaram a entrar em rota de colisão.

Segundo o Wall Street Journal, entre os dois o nível já é o de acusações explícitas e promessas de vingança.

Para compreender um pouco da temperatura da briga, é suficiente reler a declaração de Cook no dia da privacidade, 28 de janeiro.

“Em um momento em que a desinformação e as teorias da conspiração são galopantes, alimentadas por algoritmos, não podemos mais fechar os olhos para aqueles que afirmam que todo tipo de interação seja boa, que quanto mais durar,  melhor, porque o único objetivo é coletar o máximo de dados possível”, disse o diretor-presidente (CEO) da Apple.

Palavras que representaram um ponto sem volta. E que levaram essa disputa para as capas dos jornais.

Quando Cook assumiu a liderança da Apple – pouco antes da morte de Jobs – as coisas até que pareciam ser muito diferentes. A colaboração entre as duas gigantes se tornou tão intensa que chegou a ser criada uma parceria contra o Google.

Mas o escândalo Cambridge Analytica de 2018 gerou essa animosidade cada vez maior.

Violações da privacidade

As violações da privacidade dos dados dos usuários no Facebook geraram as primeiras críticas e distanciamento entre as duas empresas.

A Apple começou a marcar seu terreno e sua diversidade com crescente convicção em relação a outras plataformas digitais. Com a intenção explícita de mostrar ao mundo que os dados de seus clientes estavam seguros.

O Facebook vive da publicidade. É o modelo de negócios da plataforma. E prospera fazendo de tudo para capturar a atenção dos usuários, estudando massivamente todos os perfis para produzir a propaganda “certa” para cada um.

No Facebook, o usuário é o produto.

Em vez disso, a Apple ganha dinheiro vendendo produtos eletrônicos de consumo e coletando comissões de serviços e aplicativos de terceiros hospedados em sua loja digital.

O mundo dos produtos da Apple é “fechado” e hipercontrolado. Um sistema onde software e hardware são integrados e os serviços de terceiros devem atender regulamentações muito rígidas para entrar em suas plataformas.

No começo, essa diversidade de modelos de negócios nunca foi um problema.

Tornou-se uma briga em meados do ano passado. Quando a Apple decidiu introduzir uma função para evitar que os aplicativos rastreiem as atividades online dos usuários.

Uma mudança que veio na atualização do sistema operacional iOs 14 para iPhone e iPad.

Basicamente, a partir dessa atualização foi necessário pedir o consentimento consciente e explícito para o rastreamento dos usuários para que sites, como o Facebook, possam realizar uma personalização dos anúncios.

Essa decisão representou uma declaração de guerra para essas empresas, que vivem de segmentação da propaganda.

Tanto que durante a conferência com os analistas apresentando os resultados do último trimestre do ano, Zuckerberg definiu a Apple pela primeira vez como “um concorrente”.

Guerra na Vale do Silício

Esse duelo, entretanto, não é a oposição típica entre gigantes do Vale do Silício para conquistar novos usuários e novos mercados.

Não há nenhum “mocinho” que se preocupe com a privacidade dos usuários. Assim como não há um “vilão” que, ao contrário, promova notícias falsas e teorias da conspiração.

Na verdade, existem duas visões da internet que parecem não ser complementares na comunicação.

Por algumas décadas, o “monitoramento” do usuário alimentou os negócios de algumas plataformas.

Notícias falsas e teorias da conspiração são apenas a expressão de uma estratégia para capturar a atenção dos usuários. Tolerada por muito tempo pelas plataformas pois atendia aos seus interesses.

No entanto, a publicidade online e o perfil do usuário possibilitaram novas economias de serviços digitais.

O monstro que a Apple parece querer destruir de fato se tornou esse gigante também graças ao sucesso do iPhone.

A transformação do celular em um computador conectado à rede sem dúvida diminuiu o limite de controle sobre o conteúdo da web e aumentou a capacidade de monetizar nossa atenção em troca de serviços.

Na internet, também graças ao boom dos smartphones, proliferaram casas de games ou varejistas eletrônicas que vivem de dados e propaganda.

Elas não são um pequeno pedaço da economia digital.

Por isso a decisão da Apple é como se um fabricante de televisão decidisse inserir um botão no controle remoto para remover a publicidade dos canais de TV. Muitas emissoras não conseguiam mais se sustentar.

No entanto, a Internet não é TV. E a cruzada da Apple atende aos interesses de seus usuários. Bem como aos de seus acionistas, que exigem maior controle de seus dados. Pois estão preocupados por eventuais repercussões por parte do poder público.

Exatamente por esse motivo seria errado, simplório e binário dividir o mundo digital em amigos e inimigos da privacidade.

Guerra da Apple contra Facebook vai mudar a internet?

Usando as palavras de Milton Friedman, está cada vez mais claro que “não há almoços gratuitos” na internet.

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Se o produto é grátis, o produto é você. E seus dados.

Privacidade também é negócio. O que falta no debate atual é transparência. Quanto mais clareza houver sobre as vantagens de abrir mão da soberania dos próprios dados, maior será a confiança nos serviços oferecidos na rede.

O confronto entre Apple e Facebook provavelmente será benéfico para todo o ecossistema da internet. E vai trazer mais transparência no mundo digital. Ou, pelo menos, essa é a esperança.

Carlo Cauti

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