Casais investidores: Investir junto pode ser bom para o bolso – e para a relação

Muitos casais têm dificuldade de lidar com questões financeiras, e não é surpresa que alguns casamentos acabam por problemas com dinheiro. Segundo uma pesquisa do SPC Brasil de 2019, 46% dos casais têm conflitos financeiros, e ainda é raro ver casais investidores compartilhando o dia a dia nesta área da vida.

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É comum que uma das pessoas do casal assuma a função de cuidar do dinheiro sozinha, o que não é saudável. Não raramente, por razões históricas, este papel fica com o homem, o que deixa a mulher em uma posição desfavorável.

Segundo um estudo do UBS realizado com 3,7 mil mulheres em todo o mundo, 74% das mulheres tiveram uma surpresa negativa financeira quando se divorciaram ou ficaram viúvas.

No entanto, a maioria das mulheres se envolve apenas com o gerenciamento de curto prazo das finanças, delegando decisões de longo prazo sobre dinheiro ao marido ou companheiro, e menos de 20% compartilham esta responsabilidade de forma igualitária.

Casais Investidores

Fonte: UBS

Por isso, especialistas asseguram que a melhor forma de ter sucesso no relacionamento e na vida financeira a dois é fazer as coisas juntos, de forma que os dois tenham plena consciência de como está a vida financeira.

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Uma das vantagens, segundo especialistas em finanças pessoais consultados pelo SUNO Notícias, é que casais que investem juntos têm menos crises no relacionamento.

Isso ocorre porque, para investir juntos, os casais investidores conversam sobre dinheiro, o que ajuda a evitar conflitos nesta frente. “Combinar o orçamento cria sinergia entre o casal e quebra o ‘tabu’ que tem sobre falar de finanças”, explica Luciana Ikedo, assessora de investimentos.

Mas além de ser bom para o relacionamento, lidar com o dinheiro em conjunto também é bom para o bolso. De acordo com Thabata Abreu, consultora financeira, quando um casal investe em conjunto eles têm acesso a um montante maior, o que o que torna possível o acesso a produtos mais sofisticados.

Segundo a pesquisa do UBS, as mulheres têm vários benefícios quando compartilham responsabilidade de planejamento financeiro de longo prazo:

  • 94% das mulheres têm mais confiança em relação ao seu futuro financeiro.
  • 93% das mulheres reportam menos erros quando o casal está envolvido no tema.
  • 91% das mulheres ficam menos estressadas em relação às finanças.

Casal decidiu fazer revezamento de projetos

O casal de investidores Isadora Lopes, de 29 anos, e Luiz Alexandre Rodrigues, de 34 anos, de São Paulo, é um bom exemplo de parceria em investimentos.

Casados há 4 anos, eles decidiram investir juntos depois de resolver alguns conflitos financeiros. Isadora contou ao Suno Notícias que quando casou com Alexandre, eles não costumavam falar muito sobre dinheiro, e por causa disso, as contas começaram a não fechar no fim do mês.

E foi assim que o casal percebeu que precisava se organizar financeiramente, e para isso, falar sobre finanças um com o outro seria fundamental.

Quando eles conseguiram se organizar para começar a investir, Isadora percebeu que seu relacionamento ganhou mais sintonia e tão logo as brigas por questões financeiras diminuíram. Além disso, os objetivos ficaram mais fáceis de serem alcançados, pois conversado mais sobre dinheiro, eles puderam controlar melhor as despesas e as receitas. “A relação ficou mais leve”, afirma Isadora, analista de contratos empresariais.

“O casamento é a união legítima de duas pessoas e essa união precisa englobar todas as áreas da vida. Compartilhar momentos bons com a pessoa que você ama, mas não compartilhar o quanto foi gasto, o quanto pretende gastar ou juntar, faz com que a relação não seja tão transparente”, considera a jovem, apontando que  isso pode ser um dos grandes motivos para desentendimentos.

Isadora e Luiz Luiz e Isadora contam que seus investimentos são feitos 100% juntos. Tudo começou com uma planilha para organizar as finanças da casa, e então abriram uma conta em conjunto para ter uma  visão melhor do que entrava e do que saía da conta. A cada mês, eles separam uma parte de sua renda e destinam ela para um objetivo específico que tenham.

Hoje, a maior parte de seus investimentos está é em renda fixa, mas eles estão estudando e pretendem ingressar no universo de renda variável em breve, através de ações e fundos de investimento imobiliário.

Antes do casamento, nenhum dos dois investia, mas após o matrimônio começaram a estudar mais sobre educação financeira e assim começaram a investir aos poucos.

Atualmente, a maior parte de seus investimentos é destinada ao planejamento de viagens e ao futuro dos filhos que pretendem ter. Além disso, sonhos como a compra de imóveis e carros também são colocados na conta.

Para evitar brigas, eles intercalam objetivos individuais de cada um, para que ninguém deixe seus sonhos para trás. Isadora é amante de viagens, então eles investem para viajar, e logo depois é a vez de Alexandre concluir uma de suas metas individuais através dos investimentos, como por exemplo, mais uma pós graduação.

Para quem deseja investir em parceria com o cônjuge, é bom saber que não existe uma receita de bolo que serve para todos. Nem todos os casais serão como Isadora e Luiz, cada um se sente confortável investindo de maneiras diferentes. Confira algumas formas de fazer isso:

Casais investidores investindo totalmente juntos

Uma das maneiras de investir com o marido ou esposa é misturar totalmente os investimentos. Isso faz sentido apenas se o casal tem uma boa relação com o dinheiro – ou seja, se dinheiro não é motivo de brigas.

“Se o dinheiro é visto como uma caixinha só, as conversas são bem feitas e os planos são alinhados, investir juntos é uma boa pedida”, explica Andreia Fernanda, consultora da Rico Foco, especializada em atender mulheres.

No entanto, não é possível ter conta conjunta em corretoras de valores. Isso significa que um dos dois terá que fazer os investimentos com o seu CPF, ficando o dinheiro “nas mãos” de um só.

Para que isso funcione, as duas pessoas devem ter acesso à conta, com direito a senha e anotações detalhadas, e ambos devem conversar sobre os investimentos de forma aberta. “O que não pode acontecer é uma das partes ficar ‘no escuro'”, destaca a especialista.

Outro requisito é que o casal não seja casado no regime de separação total de bens. Isso porque, em caso de separação, uma das partes sairia prejudicada. Já para casais sob o regime de comunhão parcial e comunhão total de bens, este caminho pode ser uma opção, pois a Justiça assegura que os bens pertencem aos dois em caso de divórcio.

A vantagem de misturar os investimentos é que o montante de recursos será maior, o que torna possível o acesso a produtos mais sofisticados. Com mais recursos, é possível ter mais diversificação, o que é essencial, segundo a economista e consultora financeira, Thabata Abreu.

Ela destaca que um dos principais pontos para levar em consideração na hora de investir são os objetivos. Quando o casal compartilha dos mesmo sonhos e metas, podem investir 100% juntos.

“O importante é haver diálogo entre o casal, além de transparência e honestidade financeira entre os dois”, destaca. Isso pode ser feito acompanhando os investimentos de forma conjunta, de modo que os dois possam ficar por dentro das estratégias que estão sendo adotadas.

Investindo junto para alguns projetos

Se o casal tem alguns conflitos em relação a dinheiro, ou se gostam de manter as contas separadas no dia a dia, é mais interessante manter os investimentos em separado, misturando apenas os aportes para projetos em comum, como uma viagem ou compra.

“Não faz sentido misturar investimentos se cada um paga uma parte das contas e mantém o dinheiro separado no cotidiano”, explica Andreia.

Neste caso, o melhor é identificar alguns projetos em comum, e fazer investimentos específicos para estes planos, deixando o restante do dinheiro separado.

De acordo com os especialistas, nesse caso, os investimentos para os sonhos pessoais devem ser feitos separadamente, cada um com a sua carteira, respeitando seu perfil.

Histórico familiar pode ser um desafio para casais investidores

Embora haja vantagens, como quase tudo na vida, investir com a pessoa amada também tem desafios.

Um dos desafios mais comuns entre os pares é a divergência de história pregressa de cada um. No entanto, quando há uma crença limitante que é comum a ambos, para Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, não é tão ruim, pois significa que os dois estão “na mesma página”.

A educação financeira não é algo que muitas pessoas têm aos montes, assim este pode ser outro obstáculo. O fundador da Academia do Dinheiro aconselha que quando o marido ou a esposa tenha um pouco mais de conhecimento financeiro, tente ensinar ao outro pouco a pouco, para que fiquem em sintonia.

Além disso, outro desafio comum é a combinação dos objetivos. Mas nesse caso, uma carteira separada para esses objetivos poderia resolver o problema.

A honestidade financeira também pode ser citada neste ponto. Ela é essencial, principalmente para quem opta por investir 100% junto, pois é necessário confiança para acreditar que seu par não irá fazer operações sem o seu consentimento.

Em outra vertente, a honestidade também pode ser tida como um obstáculo quando um dos dois não se sente confortável para compartilhar as receitas e gastos com o cônjuge.

Confira quais são os principais motivos de briga por dinheiro entre os casais, segundo a pesquisa do SPC:

  • Companheiro gasta além das condições financeiras (46%)
  • Discordâncias sobre prioridades dentro de casa (32%)
  • Atraso no pagamento de contas (28%)
  • Dificuldade de formar reserva financeira (28%)
  • Rigidez do companheiro no controle de gastos (21%)

Juntos, porém separados

Outra forma de investir com o cônjuge é fazer carteiras separadas, quando o objetivo é o mesmo, mas os perfis de investimento são muito extremos. Ou seja, quando um é muito conservador e o outro é muito arrojado.

No entanto, é importante que o casal converse sobre o tema, que os dois saibam o que estão planejando, qual o prazo dessa meta, bem como os riscos.

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Outra dica é esperar o relacionamento atingir uma certa maturidade antes de misturar o dinheiro. “Se o casal acabou de se conhecer, o ideal seria cada um conduzir seus investimentos de forma independente”, destaca Ikedo.

Como começar a investir

Abreu explica que para começar, o casal deve olhar para sua situação financeira de forma ampla e objetiva, garantindo que a vida financeira esteja organizada. Para isso, é importante ter clareza sobre os gastos, sejam eles fixos, pequenos, grandes ou variáveis.

Para a economista, um bom passo a passo das etapas seria:

  • Estruturar as finanças
  • Formar uma reserva de emergência
  • Definir os objetivos
  • Buscar informações para uma alocação adequada

Já Calil chama a atenção para a importância de ambos terem um objetivo material. Para ele, o ideal seria começar com o objetivo e traçar as metas para atingi-lo. “O destino do dinheiro é a última coisa que deve aparecer, o objetivo vem primeiro”.

Quanto eu tenho? Qual o objetivo? Qual o prazo? São três perguntas que devem estar presenta na hora de começar a investir, segundo o fundador da Academia do Dinheiro.

Além disso, como o casal está investindo junto, pode estudar e debater sobre os temas que estudaram. Por sua vez, Ikedo defende que é interessante que cada um se conheça como investidor. Ademais, ela reforça a importância de conversarem sobre finanças, para que o tema não seja mais um tabu.

Com quanto cada um deve contribuir?

Esse ponto pode variar de casal para casal. Ikedo conta que uma das formas de fazer isso, é a divisão igualitária, na qual cada um contribui com 50% do investimento. Um ponto negativo dessa fórmula, é que atritos podem surgir em decorrência de padrões de consumo diferentes, alerta a assessora.

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Outras duplas podem preferir uma divisão considerando o quanto cada um ganha. Assim, cada um contribui proporcionalmente com seu salário. No entanto, de todas as maneiras, é essencial que ambos devem contribuir não só financeiramente, mas apoiando seu par.

Perseverança e apoio, dicas dos especialistas para casais investidores

Embora não exista uma receita que serve para todos, algumas dicas que os especialistas podem ser úteis para a maioria.

  • Para cumprir os objetivos, a constância e a recorrência dos aportes são essenciais.
  • Acompanhar o desempenho da carteira ao longo do tempo.
  • Identificar objetivos em comum.

Além destes pontos, falar abertamente sobre dinheiro é uma dica unânime dos especialistas. Mesmo que o casal não tenha uma conta conjunta, é importante ser transparente em relação as receitas e gastos, e listar o valor total das despesas para que o cenário financeiro que estão vivendo seja entendido por ambos.

Outra dica é levar em consideração os sonhos e projetos de ambos, para realmente viver a vida como um casal de investidores. “Muitos casais acabam realizando os objetivos de só uma pessoa, e  isso não faz bem”, destaca Isadora Lopes.

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Laura Moutinho

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