Dia da Mulher: 5 pontos importantes na relação entre mulheres e dinheiro
No dia 8 de março, Dia da Mulher, vários temas relativos ao papel da mulher na sociedade vêm à tona, e a relação entre as mulheres e dinheiro é um dos mais importantes. Por mais que avanços tenham ocorrido, as mulheres ainda são minoria no mundo dos investimentos, e muitas delegam decisões financeiras para outras pessoas – em geral, homens.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Opinion Box, 44,3% das mulheres entrevistadas disseram que têm planejamento financeiro, mas acham difícil segui-lo na prática. Ao mesmo tempo, um terço das participantes admite não ter nenhum planejamento para cuidar do dinheiro.
Segundo especialistas em finanças pessoais ouvidos pelo SUNO Notícias, existem alguns erros comuns que as mulheres cometem ao cuidar de seu dinheiro. Confira os cinco principais pecados financeiros e como evitá-los.
1. Desorganização atrapalha relação entre mulheres e dinheiro
Para Iris Sayuri Kazimoto, gerente de produto e embaixadora do movimento “Nós, mulheres investidoras”, da Easynvest, a desorganização financeira é a principal causa das mulheres não conseguirem guardar dinheiro e investir.
Caso a mulher não consiga planejar e controlar quanto ganha e onde e quanto gasta, fica difícil de se organizar para conseguir administrar o dinheiro de uma forma eficaz, declara a gerente.
A fundadora da assessoria de investimentos Oslo Wealth Investments, Glaucia Vidal, aponta que os gastos pessoais, se não bem controlados e planejados, acabam deixando a tarefa de poupar muito mais difícil.
De acordo com pesquisas da FGV e da International Management, a desorganização, além de provocar retrabalho e colaborar para o aumento do stress, é uma das principais causas do desperdício de tempo e dinheiro.
Para se organizar melhor, a mulher deve parar para anotar todo valor que entra na conta e ter clareza de tudo que ganha por mês, sugere Kazimoto.
“Tem muita gente que não sabe o salário líquido, mas apenas o bruto. Que não sabe quanto ganha de verdade por mês. A partir disso, deve-se olhar a média dos últimos 3 meses o quanto gasta mensalmente, onde se gasta. Prestar atenção nas despesas variáveis e nas fixas”, explica.
“Tem dívidas? Caso haja, veja o quanto isso consome do orçamento. Esse é o primeiro ponto. Ver se não há como reduzir a parte dos gastos variáveis”, conclui.
2. Terceirização da responsabilidade
Para as analistas, outro pecado capital que algumas mulheres cometem no mundo das finanças é a terceirização da responsabilidade sobre o dinheiro e o controle dele.
De acordo com Kazimoto, é muito comum ver mulheres deixarem que o marido, pai ou outra pessoa cuide de seu dinheiro. Segundo uma pesquisa do banco UBS com 3,7 mil entrevistadas, 58% das mulheres casadas delegam a responsabilidade aos seus cônjuges.
“Isso é super comum de acontecer e tem um motivo histórico. As mulheres só começaram a ter a possibilidade de ter uma conta bancária nos anos 60, enquanto os homens têm há muito mais tempo. O homem, até poucas décadas atrás, era o responsável por gerar renda, e por trazer o dinheiro para a casa enquanto a mulher cuidava de atividades domésticas”, diz.
Já a fundadora da Rico Foco, Andreia Fernanda, cita que muitas mulheres não acreditam em “seu potencial de cuidar” e que dinheiro “não é coisa de mulher”, o que acaba intensificando esse comportamento e a crença de que mulher não cuida de dinheiro.
Essa questão da terceirização é crítica pois, uma vez que a mulher não sabe o quanto ganha e gasta, ela não tem o domínio das suas finanças e acaba deixando terceiros decidirem o que fazer com o dinheiro que ela própria gera.
Por isso, nesse caso, a melhor opção é tentar antes de tudo compreender o tema para não se tornar dependente de outra pessoa. Buscar ajuda é algo recomendado pelas analistas, contudo, deve-se tomar cuidado com a proporção dela.
“Anote suas despesas, seu estilo de vida, quanto custa, seus objetivos, quanto eles custam. E faça contas simples, não precisar ser expert em matemática para ver como as coisas acontecem”, aponta Andreia.
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3. Fobia financeira e perfeccionismo
As mulheres têm mais medo de cuidar do dinheiro que os homens, aponta Andreia, que apelida esse pecado capital de “fobia financeira”. A fobia financeira pode estar relacionada a diversas questões da vida de uma mulher. A sensação de achar que não é capaz é uma delas.
“Muitas mulheres dizem que não conseguem, que não podem cuidar. Esse bloqueio de achar que não consegue guardar dinheiro e investir pode prejudicar. Todo mundo consegue tomar conta das suas próprias finanças e colocar um objetivo e persistir nele”, diz Kazimoto.
Além disso, a falta de conhecimento também pode levar à fobia financeira. Às vezes, por achar que esse tema é difícil, as mulheres não buscam compreendê-lo. “Quem não vai atrás, provavelmente sempre estará deliberando ou achando que aquilo não é possível.”
A sensação de que a pessoa precisa conhecer tudo para poder investir é um mito, aponta a gerente. É possível investir com pouco dinheiro, de uma maneira simples e com pouco risco, para que seja possível dar o primeiro passo nesse mundo dos investimentos.
Para resolver esse medo, as analistas indicam a busca de informação e a interação com grupos de outras mulheres para dar os primeiros passos.
“Está tudo bem começar com pouco, o que muda é a atitude, não é ter a estratégia perfeita. Ter a mentalidade de guardar o dinheiro todos os meses. Tente investir inicialmente R$ 100 ou o quanto conseguir juntar. Isso fará a diferença.”
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4. Preocupação excessiva com outras pessoas pode atrapalhar relação entre mulheres e dinheiro
Para Glaucia Vidal, algumas mulheres têm comportamentos que podem levar à vulnerabilidade financeira em alguns momentos. Alguns exemplos disso podem ser em relação à ajudar algum familiar ou amigo e com isso deixar de poupar, declara. “Não que isso seja ruim. Temos um coração gigante. Mas requer uma organização para não se prejudicar nas contas”, diz.
Muitas mães também tendem a colocar de lado suas necessidades em virtudes de seus filhos. Elas olham mais para as questões das crianças do que delas mesmas, deixando de lado sua reserva financeira.
Segundo as especialistas, apesar de as mulheres – e homens – precisarem cuidar de seus filhos e buscarem sempre dar as melhores condições possíveis para eles, não devem se esquecer de seus limites, saber quais são os gastos possíveis e também buscar analisar sempre o que é necessário ou não.
Além disso, de acordo com a educadora Andreia, a mulher deve tomar cuidado com os exemplos que passa aos filhos. Gastar excessivamente e sem controle pode não ser uma imagem boa para transmitir. “Se eu for uma mãe que não tem controle, isso pode passar para eles”, explica.
“Por sempre priorizar os outros, acabei prejudicando a minha vida”
Esse é o caso da advogada Andréa Dealis, de São Paulo, de 54 anos, que foi casada por 15 anos até se divorciar. Andrea sempre teve mais investimentos que o marido. “Nunca foi muita coisa, mas pelo menos eu tinha algo investido e ele não.”
Andréa só guardava seu dinheiro na poupança, até que seu marido insistiu que ela investisse em uma empresa chamada Fazendas Reunidas Boi Gordo, que prometia ganhos estratosféricos para quem aplicasse dinheiro na engorda de gado. Em 2004, a Boi Gordo faliu e se tornou um caso muito conhecido no mercado. “Até hoje não vi a cor do dinheiro”, conta a advogada, que colocou cerca de R$ 7 mil na aplicação.
Além disso, segundo a advogada, seu marido nunca tinha dinheiro, ele sempre se endividava e o dinheiro que sobrava era o dela. “Até hoje, ele me deve o dinheiro da venda de nosso apartamento. Ainda brigo com ele por isso.”
Após o divórcio, Andréa perdeu todo seu dinheiro, parte pelo investimento no Boi Gordo, mas também por sempre arcar com os gastos do casal. Com isso, a advogada acabou voltando a morar com seus pais.
“Cuidava do meu pai e meu irmão que estavam doentes, então sempre dediquei a minha vida a cuidar da minha família. Com o pouco tempo que eu tinha não queria investir, queria sair com as minhas amigas, me distrair”.
“Com isso, fiz um empréstimo no Santander e fiquei com o meu nome sujo”. No entanto, após dois anos conseguiu pagar a dívida e negociar para não pagar os juros.
Com todo o ocorrido desde o divórcio, “essa questão de dinheiro foi tão frustrante para mim que eu comprei alguns livros sobre investimentos, busquei ajuda de pessoas com mais conhecimento no assunto”. Assim a advogada começou a investir.
“Hoje em dia eu tenho dois tipos de investimentos, um a curto prazo, para casos de emergência, e outro a longo prazo”.
5. Olho no curto prazo, e não na velhice
Outro pecado capital cometido por muitas mulheres é o foco no curto prazo. Apesar de serem muito ativas na gestão do dinheiro da família no dia a dia, administrando compras e pagamento de contas, as mulheres escorregam na hora de pensar no futuro.
De acordo com uma pesquisa do banco UBS, feita em 2019, as mulheres têm facilidade em se envolver com responsabilidades financeiras de curto prazo. Por exemplo, a cada 10 mulheres, 8 estão altamente envolvidas na administração diária das despesas da casa e no pagamento das contas.
Em contrapartida, apenas 23% das mulheres são responsáveis pelas decisões financeiras de longo prazo, tais como planejamento para aposentadoria.
Não por acaso, elas têm maior probabilidade de chegar à velhice pobres, em comparação com os homens. Segundo o estudo do Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero (EIGE), 22% das mulheres idosas vivem em risco de pobreza, em comparação com apenas 15% dos homens.
Apesar dos desafios, as mulheres tendem a acertar mais
Apesar dos pecados capitais que as mulheres cometem com seu dinheiro, elas também tendem a tomar melhores decisões.
Mulheres, por serem mais cautelosas, avaliam riscos melhor do que os homens, com isso a rentabilidade das mulheres costuma ser maior.
Segundo uma pesquisa da Hedge Fundo, que acompanhou gestores de fundos durante a crise de 2008, revelou que as gestoras mulheres acumularam uma queda de 9,6% na rentabilidade dos investimentos no período, enquanto os homens registraram, na média, um prejuízo de 19%.
Além disso, as mulheres diversificam mais em seus investimentos, aponta Kazimoto. “Quanto mais diversificar, melhor é para reduzir seus riscos. Por isso, o fato de pesquisar, se organizar, ao invés de ser impulsiva e colocar todo seu dinheiro de uma vez, acaba fazendo a diferença”.
Para Andreia, a mulher é ensinada a tomar decisões pequenas e que fazem toda a diferença, “ela que escolhe o item do supermercado, o que entra em casa, a viagem da família, a escola dos filhos, etc. Ela tem o acerto ao longo da vida. A mulher acerta muito, só precisa reconhecer isso,” afirma a especialista sobre a relação entre mulheres e dinheiro.