Setor aéreo: Voos internacionais e corporativos são incerteza para Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4)

O setor aéreo, um dos mais impactados pela pandemia, mostrou uma recuperação surpreendente em 2020. Embora a primeira impressão fosse catastrófica para Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), as duas empresas conseguiram sair da crise melhor do que o esperado.

 

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Mas agora, passado o susto, as ações das duas empresas ainda não voltaram aos níveis pré-pandemia, e existem duas preocupações principais que rondam as empresas: como se dará a retomada dos voos internacionais e do turismo de negócios.

Nos últimos 12 meses, as ações da Gol e da Azul apresentam, respectivamente, quedas de 36,34% e 35,99%. No mesmo período, o Ibovespa subiu 1,24%.

Mesmo com o Ibovespa alcançando novas máximas recentemente e com fatores pontuais levando a movimentos de altas nas aéreas – ontem, por exemplo, elas subiram quase 5% – o futuro das suas segue incerto.

Para traçar as perspectivas para o setor, o SUNO Notícias conversou com especialistas de mercado. Vale destacar que esta reportagem não é uma recomendação de investimento.

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Pior já passou, mas restrições continuam para setor aéreo

Segundo especialistas que acompanham o setor aéreo brasileiro, o pior da pandemia já passou, e tanto Azul quanto a Gol dão sinais de recuperação.

“O coronavírus trouxe no começo uma queda dramática para os voos regionais, principalmente quanto aos voos de negócios. Eu moro próximo ao aeroporto de Congonhas e, nos primeiros meses, só descia teco-teco”, afirma André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners.

Hoje, a situação é diferente, pois grande que parte dos voos turísticos estão regressando. A boa notícia é que as empresas aéreas brasileiras sempre foram mais atuantes em voos domésticos, que representam a maior parte dos seus negócios.

“A participação dos voos internacionais na receita era baixa. Isso, então, acabou por sendo um ponto positivo. Quem buscava o turismo internacional, está ficando pelo Brasil e voando com a Gol e com a Azul”, diz Pimentel.

Antes da pandemia, em 2019, a Azul transportou 27,521 milhões de pessoas em voos domésticos e 8,348 milhões para voos internacionais. Ou seja, uma porcentagem de 23% dos passageiros da companhia eram levados ao exterior.

No mesmo ano, a Gol transportou 36,391 milhões de pessoas dentro do Brasil. Para o exterior, foram apenas 5,47 milhões de passageiros, uma exposição ainda menor aos voos internacionais, de apenas 13%.

Retorno aos níveis anteriores levará tempo

Pimentel, entretanto, não vê as companhias aéreas voltando aos patamares de 2019 no curto prazo. “Enquanto a pandemia não acabar e as vacinações não avançarem de forma considerável, as viagens, mesmo domésticas, devem continuar limitadas”, afirma. A própria doença mantém as pessoas em casa e há também os problemas financeiros causados pelas medidas restritivas.

Além das viagens internacionais, outro problema enfrentado pelo setor é a retração das viagens a trabalho. O grande temor dos especialistas é que este comportamento continue depois da vacinação. “Muitas empresas perceberam que para ser produtivo você não precisa estar fisicamente em um lugar. O turismo de business pode diminuir consideravelmente e ele era parte importante da receita”, afirma.

A Azul, por exemplo, anunciou que recentemente o turismo de negócios, que representava 61% das vendas de passagens aéreas, passou a representar apenas 30%.

Gustavo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acredita que o retorno deve se dar de maneira gradual. Ele pontua que é necessário acompanhar o avanço da doença.

“Com o arrefecimento da pandemia no final do ano, houve um aumento dos voos no mercado interno. Mas se os casos voltarem a crescer, e as pessoas ficarem com medo de sair, as viagens serão mais uma vez postergadas”, diz.

Em dezembro do ano passado, a Gol informou que a demanda por assentos estava 36,4% menor do que na comparação com o mesmo período de 2019. Foram 68.228 decolagens em 2019 contra 37.087 em 2020. Apesar do déficit na comparação, a empresa vem, sucessivamente, reportando aumentos na procura por voos. Na comparação de dezembro com novembro, a demanda avançou 38%.

Já a Azul, no último mês de 2020, viu seu tráfego de passageiros crescer 18,1% em relação a novembro. A empresa voou em dezembro com 90% da sua capacidade doméstica vista em 2019, mostrando uma recuperação ainda mais contundente do que a concorrente.

Setor aéreo é uma boa opção no longo prazo

Cruz acredita que empresas do setor aéreo continuam uma boa opção de investimento para o longo prazo, uma vez que o mercado vinha em tendência de alta por conta do turismo. “As redes sociais estão ajudando a divulgar pontos turísticos. Esse movimento não deve retroceder. O turismo deve demorar para voltar a crescer, mas deve continuar se expandindo”.

Por último, para quem está de olho no setor aéreo, Gustavo Cruz recomenda atenção redobrada com a questão do petróleo e do câmbio, uma vez que essas duas variáveis têm forte influência sobre o desempenho dessas companhias.

Empresas surpreenderam em 2020

Tanto a Gol como a Azul conseguiram evitar o pior em 2020.  “Agora temos um novo cenário e pouco a pouco essas empresas irão encontrar seus novos equilíbrios financeiros”, diz Pimentel.

As duas empresas conseguiram levantar capital buscando caminhos diferentes. A Azul emitiu R$ 1,7 bilhão em debêntures conversíveis e renegociou dívidas. A Gol buscou empréstimos de outras empresas e emitiu dívidas sêniores.

O sócio da Performa Partner vê como positivo o fato de que tanto Gol e Azul terem fugido de fazer divida com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES),  que, para ele, impôs contrapartidas desfavoráveis para as empresas.

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Pimentel ainda pontua que as duas empresas do setor aéreo fizerem bom uso da renegociação de salários disponibilizada pelo governo brasileiro. A Gol, no primeiro momento, diminuiu em 35% os benefícios e salários de seus colaboradores e em 40% os ganhos dos seus executivos. A Azul reduziu em 25% os proventos de todos seus empregados.

Recentemente, as empresas conseguiram parar de queimar caixa. Em 2020, durante a crise, a Gol registrou uma queima de caixa líquido de por cerca de seis meses, mas conseguiu ficar no positivo em novembro e dezembro, gerando R$ 6 milhões por dia.

Para 2021, a previsão é a queima de R$ 2 milhões de caixa líquido por dia no primeiro trimestre. A Azul espera gerar R$ 1 bilhão em caixa apenas neste ano, após queimar, em média R$ 1,5 milhão por dia no último trimestre de 2020.

Para o especialista, as duas companhias aéreas não terão problemas também em repor os voos cancelados durante a pandemia. A política de remarcação não deve fazê-las gastarem mais.

“Em algum momento essas pessoas terão de ser encaixadas dentro de voos. Mas elas serão encaixadas dentro de voos que já existem. Isso não gerará custo extra para a Gol ou para a Azul”, diz o especialista no setor aéreo.

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Vitor Azevedo

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