Presidente da Azul: aviões serão mais baratos com fusão Boeing-Embraer
O presidente da Azul declarou que os aviões ficarão mais baratos graças a fusão entre Boeing e Embraer.
Segundo o presidente da Azul, John Rodgerson, a fusão entre a produtora brasileira e o gigante dos EUA é positiva. Segundo Rodgerson, após o acordo entre Embraer e Boeing o preço das aeronaves ficará mais baixo nos próximos anos. Para ele, a Embraer ganha mais poder de barganha para negociar com fornecedores de peças. Portanto, graças a essa união poderá reduzir seu custo de fabricação, repassando essas vantagem para as companhias aéreas.
A Azul é um dos mais importantes clientes da Embraer no mundo. Dos 123 aviões que formam a frota da Azul, 63 são Embraer e dois são Boeing. Em julho de 2018 Azul anunciou uma carta de intenção de compra de 21 aeronaves Embraer 195-E2. Com esse pedido, a companhia aérea elevou a quantidade de pedidos firmes para 51. No mesmo mês iniciaram as negociações para a fusão das duas empresas.
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“Se você tem cem aeronaves por ano ou 50 por mês para negociar com o fornecedor de peças, é muito diferente. Quando se unem Boeing e Embraer, dá um volume muito maior. Por isso estamos animados, isso vai ajudar a reduzir custos. As aeronaves devem ficar mais baratas”, explicou Rodgerson para a “Folha de S.Paulo”.
Segundo o presidente da Azul, essa mesma vantagem se aplica para os custos de manutenção, que tenderão a se reduzir.
Entenda o acordo entre Boeing e Embraer
Embraer aprovou com a Boeing os termos do acordo de fusão em julho de 2018. O acordo prevê a criação de uma joint venture, uma nova empresa de aviação comercial no Brasil.
O novo negócio está sendo chamado de JV Aviação Comercial ou Nova Sociedade. Entretanto, este não será o nome da empresa após a conclusão de operação. A nova empresa é avaliada em US$ 5,26 bilhões.
Inicialmente, quando as duas empresas assinaram um memorando, o valor era estimado em US$ 4,75 bilhões. Nos termos do acordo, a fabricante norte-americana de aeronaves deterá 80% do novo negócio, enquanto a Embraer, os 20% restantes.
A Boeing pagará US$ 4,2 bilhões (o equivalente a R$ 16,4 bilhões), cerca de 10% maior que o inicialmente previsto. Este valor também supera em mais de 7% o valor de mercado da fabricante brasileira. O maior valor de mercado já registrado pela Embraer foi em novembro de 2015, quando a companhia atingiu R$ 22,39 bilhões. Os 20% da fabricante brasileira poderão ser vendidos para a Boeing a qualquer momento, por meio de uma opção de venda.
A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa. Os executivos da joint venture responderão diretamente ao presidente e CEO da Boeing, Dennis Muilenburg. Todavia, a joint venture, se aprovada, será liderada por uma equipe de executivos no Brasil.
A Embraer manterá o poder de decisão para temas específicos que foram definidos em conjunto, como a transferência das operações do Brasil. A empresa espera um resultado de aproximadamente US$ 3 bilhões com a operação, descontados os custos de separação. Em 2017, a área de aviação comercial da Embraer representava 57,6% da receita líquida da empresa. Essa área foi responsável dos US$ 10,7 bilhões de um total de US$ 18,7 bilhões da receita.
Boeing tem receita anual cerca de 16 vezes maior que a da Embraer. Em 2017, a fabricante brasileira faturou US$ 5,8 bilhões, enquanto a empresa americana US$ 93,3 bilhões. Boeing é a principal fabricante de aeronaves comerciais para voos de longo alcance. Por outro lado, Embraer lidera o mercado de jatos regionais, com aeronaves para vôos a distâncias menores.
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Governo tem última palavra
O acordo ainda precisa ser aprovado pelo governo brasileiro, que é dono de uma “golden share” na fabricante brasileira. Isso significa que o Palácio do Planalto tem poder de veto em decisões estratégicas, como a transferência de controle acionário.
A empresa foi privatizada em 1994, no fim do governo Itamar Franco, por R$ 154,1 milhões (em valores da época). Naquele momento, o governo manteve o poder de veto em decisões específicas.
Caso o governo aprove o negócio, o acordo ainda será submetido à aprovação dos acionistas e das autoridades regulatórias.
As duas empresas de aviação também chegaram a um acordo sobre os termos de uma segunda joint venture para promover e desenvolver novos mercados na área de defesa, envolvendo o avião multimissão KC-390. A Embraer será a controladora desta nova empresa, com 51% de participação, e a Boeing, os 49% restantes. O valor total do negócio não foi informado. Caso o acordo com a Boeing seja aprovada no tempo previsto, a Embraer espera que a negociação seja concluída até o final de 2019.
O que disse Bolsonaro sobre o caso Boeing-Embraer
O presidente Jair Bolsonaro declarou na última quinta (10) que a União não vai se opor à fusão entre Boeing e Embraer.
O Palácio do Planalto anunciou que não vai usar seu poder de veto para impedir a operação. “Reunião com representantes dos Ministérios da Defesa, Ciência e Tecnologia, Rel. Ext. e Economia sobre as tratativas entre Embraer (privatizada em 1994) e Boeing. Ficou claro que a soberania e os interesses da Nação estão preservados. A União não se opõe ao andamento do processo”, tuitou Bolsonaro.
Na semana passada, entretanto, Bolsonaro havia dito que o acordo entre as duas fabricantes precisava de mudanças. O presidente criticou alguns pontos do acordo entre Embraer e Boeing, considerando-o injusto para a empresa brasileira. Ele temia que a fabricante nacional perdesse controle sobre a futura empresa. Após sua declaração, as ações da Embraer despencaram. Todavia, Bolsonaro disse que há “necessidade dessa fusão pela competitividade, para que não se perca com o tempo”. Por outro lado, os metalúrgicos buscam bloquear o acordo entre as companhias. Segundo o sindicato, o acordo “afeta a soberania nacional e entrega um projeto brasileiro aos norte-americanos”.