As ações de 3R Petroleum (RRRP3) subiram nesta terça-feira (2) no Ibovespa, entre as maiores altas do índice, após a notícia de que petroleira paralisou as discussões para fusão dos seus ativos onshore com a PetroReconcavo (RECV3) para focar na proposta de fusão da Enauta (ENAT3), anunciada na segunda (1).
As ações de 3R Petroleum chegaram a subir 6,52%, cotadas a R$ 21,64. No fechamento, subiram 0,72%. Os papéis de Enauta (ENAT3) caíram 8,60%, a R$ 26,45, enquanto as ações de PetroReconcavo também tombaram 8,63%, cotadas a R$ 21,16.
Cotação RRRP3
“Depois do anúncio, 3R informou que paralisou as discussões para fusão do seus ativos onshore com a PetroReconcavo (RECV3), justamente para focar na proposta de fusão da Enauta (ENAT3). Ou seja: potencial fusão com a RECV3 é menos provável no curto prazo, embora não descartemos parcerias futuras, e por isso que os papéis sobem hoje”, explica Rafael Passos, analista da Ajax Asset Management.
A proposta de fusão da Enauta com a 3R, que será apresentada ao conselho e aos acionistas da 3R Petroleum, envolve a troca de ações entre as empresas, com simplificada estrutura e execução, sem necessidade de carve-outs, waiver fees e reestruturação de garantias. A proposta está sujeita à realização de diligências confirmatórias por ambas as partes durante um período de exclusividade de até 30 dias.
A transação também está condicionada às condições precedentes usuais, como a negociação satisfatória dos documentos definitivos, que deverão incluir termos e condições habituais; aprovação pelos acionistas de ambas as companhias em suas respectivas assembleias gerais extraordinárias; e obtenção das aprovações legais e regulatórias, incluindo a do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Qual o cenário para cada uma das empresas envolvidas na negociação?
Para Rafael Passos, da Ajax, o movimento é positivo para a 3R Petroleum, uma vez que reitera a qualidade dos ativos da empresa e dá maior poder de negociação com potenciais compradores.
Em relação à Enauta, a negociação dependerá das sinergias potenciais, mas coloca em alerta o impacto na alavancagem financeira da companhia, já que, segundo o analista, a 3R é mais alavancada, e a Enauta possui caixa líquido. No caso da PetroReconcavo, a fusão é negativa, considerando que paralisa as negociações propostas pela Maha em janeiro.
“A Enauta não deu detalhes de estrutura societária pós-deal, mas a entrada da companhia fortalece a governança da 3R”, completa Passos.
Em relatório, o Safra também pontuou que enxerga a proposta de fusão como positiva para a 3R, principalmente porque fortalece a posição negocial da empresa com ambos os potenciais parceiros, além de implicar um prêmio ao valor de mercado atual e ter o potencial de desbloquear sinergias – embora não tão simples como as do acordo com PetroReconcavo.
No comunicado divulgado na segunda-feira (1), a Enauta afirmou que a transação com a 3R é superior àquela apresentada pela Maha em carta pública aos acionistas da 3R, seja pelo posicionamento estratégico da empresa resultante, pela governança, pelo elevado volume de sinergias quantificáveis e pelo ponto de vista de gestão de riscos.
“Resultados serão compartilhados de forma rápida e objetiva por todos os acionistas de ambas as empresas, sem que essa união inviabilize a busca futura das sinergias operacionais identificadas pela Maha em otimizações junto à PetroRecôncavo e com outras operadoras, em modelo que minimize ineficiências”, disse a Enauta no comunicado.
Bank of America: Enauta e 3R vivem ‘momentos diferentes’
Em relatório, os analistas Leonardo Marcondes e Caio Ribeiro, do Bank of America (BofA), listaram algumas sinergias em potencial, caso a proposta de fusão entre Enauta e 3R Petroleum seja bem-sucedida, como:
- Um balanço patrimonial mais robusto, dada a posição líquida de caixa da Enauta;
- Melhor acesso ao capital;
- Melhor alocação da dívida da 3R (visto que grande parte da dívida está em subsidiárias beneficiadas fiscalmente pela Sudene);
- Melhores condições para comercialização da produção de petróleo e gás;
- Ganhos de escala de custo no campo Papa-Terra, dada a proximidade dos ativos entre 3R e Enauta e a maior liquidez.
“Também reduziria o risco de um aumento de capital adicional para a 3R, maior preocupação do mercado para seu caso de investimento. Do ponto de vista operacional, as sinergias são difíceis de calcular neste momento”, afirmou o banco.
Embora o BofA tenha reiterado a recomendação de compra para 3R e a Enauta, o banco avalia que as duas empresas vivem momentos diferentes do ponto de vista dos investidores.
O banco lembra que a Enauta vem ganhando a confiança do mercado com o início do sistema de desenvolvimento completo (FDS) no campo de Atlanta, além de ter anunciado recentes aquisições de Uruguá-Tambaú e de participação no Parque das Conchas, áreas situadas na Bacia de Campos. “Estes explicam o desempenho impressionante das ações, com alta 155% nos últimos doze meses”, afirmou o BofA.
A 3R Petroleum, por sua vez, continua enfrentando o ceticismo do mercado em relação à confiabilidade das reservas, bem como à capacidade da empresa em aumentar a produção de seus ativos em meio a um ambiente inflacionado de despesas de capital e alta alavancagem.