Tulipomania: A Primeira Bolha da História
Ao longo da história, vimos diversas bolhas surgirem nos mais variados países do mundo. Esse comportamento não é novo nas economias de mercado e é caracterizado pela alta incontrolável do preço de um ativo ou de uma classe de ativos.
Ao final do Século XX, por exemplo, se iniciou uma bolha nos Estados Unidos, conhecida como bolha da internet – também chamada de bolha ponto com – onde uma das maiores bolsas de valores do mundo, a NASDAQ, vivenciou uma valorização colossal que se encerrou no início dos anos 2000.
Entretanto, as bolhas econômicas nos acompanham desde os primórdios do capitalismo. Com o final do feudalismo e o surgimento da economia de mercado, com o estabelecimento das grandes navegações, uma nova classe social começa a ganhar relevância no contexto global: os burgueses.
Essa classe era composta por comerciantes que se aproveitavam das recém-criadas rotas de comércio para criar um patrimônio que era pouco relevante na época, uma vez que a classe de maior poder, a nobreza, valorizava as terras e não o dinheiro.
Contudo, com o surgimento das grandes navegações, a burguesia de diversos países que lideraram o comércio mundial enriqueceu rapidamente. Países como Espanha, Portugal, Inglaterra e Holanda foram inundados com produtos do oriente, que enriqueceram os comerciantes locais.
Com o aumento da riqueza, algumas áreas da sociedade ganharam notoriedade e passaram a se desenvolver, entre elas as artes. Com a chegada de grandes artistas, atraídos pelo aumento do consumo de pinturas e outros trabalhos na Holanda, um produto vindo do oriente rapidamente ganhou destaque entre as telas e pincéis: as tulipas.
Desde a Antiguidade, a tulipa é venerada pelos persas e, posteriormente, pelo império otomano, cujos sultões possuíam vestes elegantes com belíssimos desenhos da flor. A tulipa foi considerada sagrada por estes povos devido à sua beleza.
Por nascer em solo pobre em nutrientes, as flores coloridas se destacam em meio à vegetação escassa dos lugares em que ocorre naturalmente. Isso fez com que diversos povos a considerassem sagrada, tornando-a parte do “paraíso” imaginado por muitas crenças orientais.
Com o desenvolvimento das rotas comerciais e a chegada da flor na Europa, os artistas da época se encantaram pela beleza das tulipas, que rapidamente foram valorizadas pela rica burguesia.
Devido à raridade de algumas espécies, o preço das flores disparou, e, em meados do Século XVII, mais especificamente em 1636 e 1637, alguns espécimes foram negociados por valores astronômicos.
Para se ter uma ideia, um bulbo chegou a ser negociado por 5.200 guilders. Não é possível se ter noção deste valor sem alguma comparação, portanto, através de alguns produtos de que se tem registro do preço, mostrarei a fortuna que um bulbo de tulipa podia representar.
Um dos quadros mais famosos do pintor holandês Rembrandt, mundialmente conhecido, Harmenszoon van Rijn, The Night Watch (A Ronda Noturna), foi comercializado em 1642 por 1.600 guilders. O quadro possui 3.63m x 4.37m e é uma belíssima obra, reconhecida até os dias atuais, exposta no Rijksmuseum, em Amsterdam.
Como o valor de um quadro é intangível, para que se tenha uma percepção real da fortuna que um bulbo de uma tulipa rara poderia valer, separei uma lista de produtos, consumidos no cotidiano pela população da época, que poderiam ser adquiridos com os mesmos 5.200 guilders pagos pelo bulbo da tulipa.
Claramente, o bulbo de uma tulipa rara valia uma fortuna. O salário anual médio de um carpinteiro, no século XVII, era de aproximadamente 250 guilders. A tulipa cujo preço de transação, registrado em 1637, é o mais alto da história valia mais de 20 anos de trabalho de um carpinteiro.