Faltam três quartas-feiras até o primeiro turno das eleições presidenciais. Obviamente as eleições afetam o mercado no curto prazo.
Uma dúvida comum a muitas pessoas é com relação às privatizações de empresas. O que acontece quando uma companhia é privatizada?
Do ponto de vista do investidor, quais são os pontos que precisam ser entendidos e ressaltados?
Primeiramente, o que é privatização?
Privatização é uma transferência do que é estatal para o domínio da iniciativa privada.
Ela ocorre quando o governo vende empresas estatais para a iniciativa privada (empresas, holdings, grupos de investimentos).
Geralmente é fomentada quando os resultados financeiros das estatais estão aquém de seu potencial, o que dificulta a competitividade nos preços praticados no mercado.
Outro motivo que pode levar os estados brasileiros ou a própria União a venderem suas participações nas empresas é a quantidade de dívidas que eles possuem.
Em valor absoluto, o débito de um estado não demonstra perfeitamente a sua situação econômica.
Quando analisada a dívida líquida perante a receita líquida, temos um indicador melhor do cenário vigente.
Atualmente, alguns estados do Brasil possuem dívidas elevadas com relação às suas receitas.
Em 2017 os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul apresentaram índices de calamidade financeira (dívida líquida excede 200% da receita líquida).
Em 2018 Minas Gerais decretou estado de calamidade financeira de diversas cidades.
O nível de endividamento no Brasil não é tão elevado quando comparado a outros países.
Deve ser ressaltado que, mesmo com débito menor que outras nações, por ter taxas de juros mais elevadas, as despesas de juros pesam mais.
Um exemplo é o Japão. Sua dívida equivale a 253% do PIB, enquanto a brasileira equivale a 74% do PIB. Contudo, a taxa de juros japonesa é -0,1% e a do Brasil 6,5%.
Para levantar capital, tanto o governo federal quanto os governos estatais podem monetizar através da privatização (venda de suas participações nas empresas listadas em bolsa). A capital é gerado das seguintes formas:
Arrecadado na venda: dinheiro levantado com o leilão das ações da empresa.
Arrecadação de Impostos: caso ocorra a melhoria da eficiência da companhia privatizada, a empresa passa a lucrar mais e consequentemente a pagar mais impostos.
Com o tempo, a demonstração de valor agregado dos impostos recebidos pode ser superior à parcela de dividendos que o Estado recebia quando controlava a companhia.
Vale
A Vale foi privatizada em 1997, onde foram vendidas 27% das ações da empresa por US$3,3 bilhões, da União para a Valepar.
O lucro da Vale saltou de US$325 milhões em 1997 para US$1,5 bilhão em 2003.
O montante recebido como impostos já superou em muito o caixa recebido no momento da venda e os dividendos que o Estado recebia.
Um fator que tende a favorecer o acionista minoritário, que permanece com suas ações da mesma forma após a privatização, é o alinhamento de interesses da direção com os sócios.
Como o controle da empresa não está na mão do governo, o foco gerencial é o retorno aos sócios, e não conflitos políticos e de interesse.
Algumas empresas, após serem privatizadas, possuem uma Golden Share.
A Golden Share é um tipo de ação especial que dá ao acionista detentor (normalmente o Estado):
- O poder de veto sobre mudanças no estatuto da empresa;
- A capacidade de impedir que outro acionista assuma mais do que uma proporção de ações ordinárias
- Também têm a capacidade de bloquear uma aquisição ou aquisição por outra empresa.
Vale e Embraer são exemplos de empresas que possuem golden share, detida pela União.
Por isso, o governo ainda permanece com poder de veto em algumas decisões estratégicas. No acordo recente feito entre a Embraer e a Boeing, a União teve que ser consultada.
Com a iminência das eleições presidenciais, as premissas e planos de cada candidato com relação à economia e à privatização de empresas, devem ser levados em conta no momento de decisão do voto.