Short Squeeze: algumas características desse movimento especulativo
Você sabe o que é short squeeze?
O short squeeze, comumente, é uma operação de especulação que envolve manipulação do mercado. Normalmente, ela envolve o aluguel de ações, seguida de uma venda.
O que é short squeeze?
Short squeeze é o nome que se dá ao movimento repentino de forte valorização de uma ação, ocasionado pelo fechamento de posições de investidores que estão a operar vendidos.
Dessa forma, essa operação costuma ocorrer como sendo uma forma de manipulação do mercado – através do aluguel de ações – que consiste em, através de compras agressivas, obrigar quem está vendido na ação, a fechar suas posições forçando assim ainda mais a subida desses ativos.
Entretanto, há de se destacar, também, que esse fenômeno também pode ocorrer de forma natural, sem necessariamente que haja um grande comprador.
Uma peculiaridade: short squeeze
É importante lembrar que para um investidor ficar vendido em um papel, ele precisa alugar as ações de alguém.
Caso haja dificuldades em conseguir esses locadores, os investidores curtos irão naturalmente zerar suas posições vendidas.
Isso ocasiona a valorização da cotação de determinado ativo, e faz com que o preço do ativo atinja o stops loss de outros vendidos, gerando um efeito dominó que acaba por valorizar drasticamente a cotação do ativo negociado.
Esse movimento de alta é totalmente de curto prazo, e é tomado puramente pelo desespero de investidores que estavam operando na ponta contrária à tendência das cotações de mercado.
O short squeeze pode ser um fenômeno manipulado quando posições longas estão para serem tomadas, não por qualquer alteração nos fundamentos do ativo, mas porque os compradores estão conscientes que se comprarem com agressividade suficiente, eles farão o short squeeze acontecer, e esse fenômeno pode elevar ainda mais os preços de forma que os compradores consigam vender suas posições com lucros em curtos espaços de tempo.
Dois indicadores podem ser úteis para indicar se as ações correm risco de sofrer um short squeeze, são eles:
- Razão entre ações short e ações disponíveis
- Razão entre ações short e volume de negociação
O primeiro indica quantas das ações disponíveis no mercado estão sendo vendidas através do aluguel.
Caso este indicador esteja elevado a ação pode estar muito vulnerável a um short squeeze.
O segundo diz respeito a quantidade de ações em short em relação ao volume médio.
Por exemplo, se uma ação negociada em média 100 papéis por dia, e possui 1.000 papéis em short, ela está muito vulnerável a um short squeeze.
Visto que levaria 10 dias de um volume normal para os investidores que estão em short recomprar as ações.
Betting on zero – caso emblemático de short squeeze
O maior caso de short squeeze da história recente virou tema de filme.
Como pode ser visto no vídeo abaixo, dentre os filmes recomendados para investidores está “Betting on Zero“.
O filme conta a história eletrizante do embate entre Carl Icahn e Bill Ackman a respeito da Herbalife.
Estes dois, no entanto, não são quaisquer investidores, mas sim dois dos maiores investidores do mundo.
Responsáveis por gerir fortunas de bilhões de dólares.
A história do filme gira em torno do short que Ackman faz sobre a Herbalife.
Ele acusa a empresa de um esquema de pirâmide. Utilizando a justificativa de que a remuneração dos funcionários da companhia vinham em sua maior parte do recrutamento de novos integrantes, e não da venda de produtos da marca.
Ackman conta com uma série de testemunhas e depoimento favoráveis à sua tese. Em especial da comunidade latina de vendedores, que foi uma das mais prejudicadas com o modelo de negócios da empresa.
Carl Icahn, desafeto prévio de Ackman, viu na queda das ações da empresa uma oportunidade de compra.
E passou a fazer o que muitos consideraram um short squeeze.
A operação contou ainda com recompras de ações por parte da empresa, que colaboraram ainda mais com a força do short squeeze.
O embate entre estes dois investidores teve direito a discussão ao vivo em um programa de TV.
Toda a trama é mostrada no filme disponível no Netflix.
Derivativos e opções para o investidor de longo prazo
O short squeeze pode ser considerada uma operação um tanto quanto complexa.
Afinal, ela não envolve a simples compra de ativos.
Ele inclui o aluguel de ativos que o investidor não possui e a sua posterior venda.
Assim, os investidores que estão do lado vendido de um short squeeze buscam lucrar com a derrocada do preço do ativo em questão.
Enquanto os que agem manipulando o mercado veem naquela situação a possibilidade de obter um lucro de curto prazo.
Esta é uma operação que de certa forma lembra as operações com derivativos e opções, ativos muito utilizados para a especulação.
Mas afinal, o que são derivativos?
Derivativos são ativos que o próprio nome indica derivam de outros ativos. Por exemplo, a PETRD17 é um ativo que deriva das ações da Petrobras, e representa uma opção de compra desta empresa em uma data posterior.
Os derivativos se dividem em 4 grandes grupos, são eles:
- Mercado a termo
- Mercado futuro
- Opções
- Swaps
Mercado a termo
O mercado a termo é onde dois investidores firmam um contrato específico para ser liquidado posteriormente.
É negociado em mercado de balcão, por isso, apresenta grande versatilidade em sua composição.
Dois investidores podem, por exemplo, fixar um contrato a termo no qual se comprometem a trocar dólares por reais em uma data futura.
Mercado futuro
É similar ao mercado a termo mas com duas principais diferenças: Os contratos são padronizados e a bolsa de valores garante a operação.
Por isso, não há tanta flexibilidade quanto no mercado a termo.
Porém, o investidor aqui conta com a proteção de caso o outro lado da operação se torne a inadimplente a bolsa de valores garante a liquidação do contrato.
Para impedir cenário de inadimplência, este contrato exige que as partes depositem uma margem diária de segurança.
Opções
Muito similar ao mercado futuro, porém, envolve apenas ações.
Enquanto o mercado futuro pode envolver diversos ativos, tais como produtos do agronegócio ou moedas.
As opções de ações podem ser tanto de compra quanto de venda.
Assim, o investidor pode esperar lucrar tanto na alta quanto na baixa de um ativo.
Swaps
Swaps significam em português “troca”.
Este nome se dá pois através destes contratos investidores trocam determinados indexadores.
Por exemplo, uma empresa pode ter uma dívida em dólar e firmar um swap que lhe dá a possibilidade de trocar o indexador da dívida para o CDI.
O swap é muito utilizado por empresas exportadoras no geral.
Ele costuma ser um mecanismo efetivo para a proteção das receitas destas empresas.
No entanto, algumas empresas, como a Aracruz e a Sadia, que fizeram mau uso destes contratos, chegaram muito próximas da falência.
Especulação
Essa situação nada cômoda para os investidores que operam vendidos numa ação pode ser considerada um dos riscos mais inerentes de se apostar em derivativos no mercado de capitais.
Esses instrumentos só devem ser utilizados por investidores experientes e, ainda assim, com posições pequenas e com o mínimo de alavancagem possível.
Exemplo de short squeeze
Um exemplo desse tipo de operação foram as ações da Eletropaulo em fevereiro de 2013.
Na ocasião, as ações da companhia (ELPL4) chegaram a subir 13,72% na abertura do pregão com “short squeeze”.
Horas depois, o limite de aluguel de ações foi elevado de 28% para 39% das ações em circulação no mercado, e o papel voltou a cair nos pregões seguintes.
Naquela conjuntura, a bolsa comunicou que aquele limite era fixado com base no free float, sendo que, para um mesmo papel, a bolsa poderia alocar os limites entre diferentes contratos de aluguel de ações, opções e a termo.
Esse movimento de alta surgiu por causa da dificuldade em alugar os papéis da Eletropaulo, na sessão do dia anterior.
Dessa forma, com a consequente dificuldade de montar posições vendidas, o movimento esperado pelo investidor acaba sendo o de recomprar os ativos da companhia, justificando uma forte alta dos papéis em um único dia.
Luiz Barsi sobre a especulação
Como foi visto, o short squeeze é uma operação que possui em seu DNA a especulação de curto prazo.
No entanto, sabe-se que esse não é a melhor abordagem que pode levar o investidor ao sucesso.
Luiz Barsi, um dos maiores investidores do Brasil é um exemplo disto.
Após passar algum tempo especulando na bolsa, com os “papéis da jogatina” como ele gosta de dizer, ele resolveu passar se dedicar a investir em acoes para o longo prazo.
Com foco em papéis de dividendos, Luiz Barsi construiu uma das maiores fortunas da bolsa brasileira.
No vídeo abaixo, Luiz Barsi explica como é possível construir patrimônio na bolsa sem recorrer a operações especulativas tais quais o short squeeze.
Transcrição do vídeo
Suno:
“Para uma pessoa que deseja acumular para viver de dividendos como isso funciona na prática? É somente através de dividendos ou também através de vendas programadas?”
Luiz Barsi:
“Eu não sou a favor de você retirar recursos, pois assim você não potencializa o futuro do seus dividendos em maior generosidade.
Você precisa criar uma carteira que ela possa produzir uma renda mensal que supere a sua expectativa de vida e que ainda sobra um pouco para você investir.
Vai chegar uma hora que sua renda mensal dos dividendos irá superar os seus gastos mesmo que você seja um gastão.
Então aí não haverá nunca a necessidade de vender, e sim a de comprar. Esta é que é a realidade.”
Ou seja, fica claro como Luiz Barsi não recorre às operações especulativas, tais quais o short squeeze.
Este tem um motivo, essas operações não são lucrativas para o investidor de longo prazo.
Portanto, é melhor que este foque em operações de longo prazo.
Warren Buffett e Benjamin Graham sobre a especulação
Luiz Barsi não é o único grande investidor a condenar operações especulativas.
Muitos outros grandes investidores recomendam que se faça o mesmo.
Entre eles, vale destacar Warren Buffett e Benjamin Graham.
Warren Buffett é muito provavelmente o maior investidor de todos os tempos.
Enquanto Graham foi ninguém menos do que o mentor de Buffett.
Buffett recomenda veementemente que os investidores foquem em comprar ações de boas empresas e as mantenham para o longo prazo.
Sendo um dos grandes nomes da escola do “buy and hold”, do inglês, comprar e segurar.
Em uma estratégia de certas formas muito similar à de Luiz Barsi, Buffett construiu uma das maiores fortunas do mundo.
E ocupa já a bastante tempo o posto de investidor mais rico do mundo pela lista da Forbes.
Buffett é, por exemplo, um dos maiores acionistas da Apple já há muitos anos.
Ele diz que o mercado de ações é uma máquina de transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes.
Sendo assim, enquanto os impacientes focam em operações de curto prazo, como o short squeeze, Buffett para adquirir boas empresas a bons preços e deixar o tempo trabalhar ao seu favor.
Como não poderia deixar de ser, o seu mentor, Graham, segue uma linha parecida de raciocínio.
Graham define uma operação de investimento como uma na qual após uma análise cuidadosa promete segurança do capital investindo e bons retornos no longo prazo.
Qualquer operação fora desta definição é considerada por ele como especulativa.
Obviamente que o short squeeze se encaixa nesta última categoria e é por isto desencorajado por Graham.
Ele recomenda que, se o investidor optar por especular, que o faça com uma parcela reduzida do seu patrimônio, nunca superior a 10%.
Conclusão sobre short squeeze
Short squeeze é um fenômeno atípico e totalmente a parte dos fundamentos de um ativo.
A alta brusca em um determinado dia de pregão não indica uma melhora no valor intrínseco de um papel, mas sim variações de mercado da lei da oferta e demanda.
Por fim, o investidor de longo prazo não deveria se importar com essas oscilações de curto prazo causadas por atividades como o short squeeze.