A Petrobras informou ontem (15) ao mercado que finalizou, juntamente com a Total, um marco importante na realização de sua Aliança Estratégica com a conclusão das seguintes transações:
- Cessão de direitos de 35% da Petrobras para a Total, assim como a operação, do campo de Lapa no bloco BM-S-9A, no pré-sal da Bacia de Santos. A nova composição do consórcio passa a ser: Total como operadora (35%), Shell (30%), Repsol-Sinopec (25%) e Petrobras (10%). O campo de Lapa iniciou produção em dezembro de 2016, por meio do FPSO Cidade de Caraguatatuba, com capacidade de 100 mil barris por dia.
- Cessão de direitos de 22,5% da Petrobras para a Total da área de Iara, que contém os campos de Sururu, Berbigão e Oeste de Atapu, no bloco BM-S-11A, no pré-sal da Bacia de Santos. A nova composição do consórcio passa a ser: Petrobras como operadora (42,5%), Shell (25%), Total (22,5%) e Petrogal (10%). A produção em Iara está prevista para iniciar em 2018 nos campos de Berbigão-Sururu, por meio do FPSO P-68, com capacidade de 150 mil barris por dia, seguido de um segundo FPSO, em 2019, no campo de Atapu.
Ainda de acordo com o reportado, o valor pago nessas transações totaliza US$ 1,95 bilhão, incluindo ajustes do fechamento da operação.
Foi ressaltado, contudo, que esse valor não contempla uma linha de crédito que pode ser acionada pela Petrobras no valor de US$ 400 milhões, representando parte dos investimentos da Petrobras nos campos da área de Iara, além de pagamentos contingentes.
A estatal informou, ainda, que todas as condições precedentes às cessões de direitos foram cumpridas, incluindo a concessão de licenças de operação e instalação pelo IBAMA para que a Total se torne operadora do campo de Lapa.
“Essas operações concretizam a Aliança Estratégica entre a Petrobras e a Total, permitindo que as empresas combinem suas experiências em águas profundas”, ressaltou trecho do comunicado.
Como se sabe, a Petrobras é uma empresa integrada de energia com foco em óleo e gás, que atua na área de exploração e produção em águas profundas e ultra-profundas, operando principalmente no Brasil. Atualmente, a Petrobras produz 2,8 milhões de barris de óleo equivalente por dia.
Já a Total é uma empresa global e integrada produtora e fornecedora de energia, sendo uma relevante companhia do setor de óleo e gás natural e importante player de energia com baixa emissão de carbono. Com 98.000 funcionários, a Total possui operações em mais de 130 países.
No que diz respeito as duas companhias, é interessante mencionar que, atualmente, a Petrobras e a Total são parceiras em 19 consórcios de exploração e produção.
No Brasil, são parceiras na área de Libra, primeiro contrato pelo regime de partilha de produção, localizada no pré-sal da Bacia de Santos, ao passo que, no exterior, são parceiras no campo de Chinook, no Golfo do México nos EUA, nos campos de águas profundas de Akpo e Egina, na Nigéria, e nos campos de gás de San Alberto, San Antonio e Itaú na Bolívia, além de serem sócias no gasoduto Bolívia-Brasil.
Em relação a referida cessão de direitos das concessões, é cabível entender que, para a Petrobras, as transações ajudarão a mitigar riscos, fortalecer a governança corporativa e melhorar o financiamento da empresa, através de entrada de caixa e desoneração dos investimentos, desempenhando assim um papel importante no Programa de Parcerias e Desinvestimentos da companhia.
Ainda, por serem a Petrobras e a Total líderes na exploração do pré-sal e na exploração de campos de águas profundas na costa oeste africana, respectivamente, há de se esperar que a referida parceira possa vir a demonstrar potencial para reduzir os riscos operacionais e exploratórios e, ainda, fazer ambas companhias mais competitivas.
Obviamente que, em um primeiro momento, a desafiadora situação da petroleira tende a não se alterar de maneira significativa, haja vista a dimensão de seus compromissos financeiros, que ao final do terceiro trimestre de 2017 se constituía em um patamar de R$ 359 bilhões, resultado 7% menor que os R$ 385 bilhões ao final do ano passado.
Nenhuma pessoa precisa ser especialista no setor de óleo e gás para perceber que o patamar de dívida da Petrobras ainda se encontra em níveis extremamente altos, ao passo que seus resultados operacionais não demonstram um aumento de performance compatível com esses compromissos.
Porém, certamente o valor pago nessas transações de venda, que totalizou o montante de US$ 1,95 bilhão – capital este que não contempla uma linha de crédito que pode ser acionada pela Petrobras no valor de US$ 400 milhões, representando parte dos investimentos da Petrobras nos campos da área de Iara, além de pagamentos contingentes – podem contribuir para a recuperação da alavancagem da petroleira estatal no longo prazo, porém é preciso que se entenda que o seu atual cenário financeiro é ainda bastante árduo e precisa ser encarado com bastante frieza e comprometimento pela sua gestão.
É possível esperar isso de uma estatal?
Pelo histórico de desempenho de empresas dessa natureza (controladas pelo Governo), no Brasil, sabemos que se pode esperar muita coisa a respeito de sua administração.
No mais, o fato da companhia ser estatal, além de toda a investigação por trás da empresa no âmbito da operação Lava-Jato, que já constatou ser este um dos maiores escândalos de corrupção da história da humanidade, nos faz sentir desinteressados pela Petrobras, neste momento.
É provável que, no longo prazo, o seu atual quadro de gestão consiga, aos poucos, “desestatizar” essa gigante – realizando vendas pontuais de ativos – que, no momento, se encontra bastante fragilizada pelos abusos a qual foi submetida ao longo de sua história.
Até lá, nos sentimos mais confortáveis em ficar de fora da Petrobras e recomendamos o mesmo a nossos assinantes.
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