Quer investir? Separe o joio do trigo

“O mercado é um mecanismo para separar o eficiente do ineficiente, não é um substituto da responsabilidade.”

– Charles Handy

Deseja ser um investidor melhor? Há vários meios de perseguir esta meta. Um deles é conhecer a origem, o significado e a composição das palavras. Por exemplo: o que um analista financeiro faz? Análise. Esta palavra é composta pelo sufixo “lise”, que significa “quebra”, “separação”.

Deste modo, fazemos a digestão de alimentos por causa da hidrólise enzimática, ou seja, a quebra ou separação de moléculas a partir da reação química com a água presente em nosso organismo, que absorve os componentes essenciais para seu funcionamento e exonera aquilo que não lhe serve.

No dicionário do Google, como a palavra “análise” é descrita?

Separação de um todo em seus elementos ou partes componentes.” Ou “estudo pormenorizado de cada parte de um todo, para conhecer melhor sua natureza, suas funções, relações, causas etc.”

Em termos filosóficos, a análise é o “método de pensamento voltado para a compreensão ou explicação de um fenômeno complexo, que consiste em reduzir uma realidade intrincada, de difícil apreensão global, em seus componentes básicos e simples.”

Então, podemos afirmar que um analista financeiro, quando estuda uma empresa, o faz pela separação das diversas informações em torno dela, a partir de um todo. De onde se conclui que, para ser um bom investidor, é preciso ser um bom analista, ou seja, aquele que sabe separar as coisas, para tirar delas os dados mais importantes que darão embasamento para a tomada de decisões.

Investimento versus especulação

Quando alguém ingressa no mercado de capitais, a primeira coisa que deve ficar clara em sua mente é a separação entre os conceitos de especulação e investimento. Muita gente pensa que são a mesma coisa, mas não são. Recorremos novamente ao dicionário do Google, conforme as definições de Oxford Languages:

Especulação: “operação financeira que visa obter lucros sobre valores sujeitos à oscilação do mercado.”

Investimento: “aplicação de recursos, tempo, esforço etc. a fim de se obter algo.”

Ou seja, na especulação existe o fator da “oscilação do mercado”, algo que não podemos controlar. No investimento, o fator “tempo” e “esforço” está presente, sendo algo que cada indivíduo pode empregar por sua capacidade (recursos) e por escolha própria.

Ingressar na Bolsa com a intenção de “comprar ações na baixa para vender na alta” é uma conduta especulativa que traz um componente de aposta. A clara intenção de se desfazer de uma ação, após sua valorização, já indica uma postura individualista do aplicador dos valores. Pouco importa, para ele, o que a empresa produz, desde que seus papéis se valorizem.

Para um especulador, um lote de ações de uma empresa não é muito diferente de uma barra de ouro ou de uma quantia de moeda estrangeira, ou ainda de um quadro de arte abstrata, desde que alguém esteja disposto a pagar mais caro pelo “objeto”, mais adiante.

Já o investidor age como parceiro das empresas. O “algo” que ele espera obter, após dedicar seus recursos, tempo e esforço, é uma parte dos lucros operacionais da companhia, conhecida como “dividendo”. Seu esforço advém da análise para compreender as projeções dos negócios em vista, além da paciência e disciplina para permanecer um longo tempo com recursos aportados numa companhia com atuação na economia real.

O investidor pode até se beneficiar com a valorização das ações de uma empresa, mas isso também será resultado de sua postura de investidor, cuja intenção a priori é permanecer nesta posição por tempo indeterminado, em função da renda passiva potencialmente regular, mais importante, para ele, do que a realização ocasional de lucro.

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Orientações versus dicas

Quando ingressamos na Bolsa de valores. É comum não sentirmos a confiança necessária para tomar as decisões de investimento sozinhos. Basicamente nos falta conhecimento e prática nos primeiros meses. Isso é absolutamente natural e, por isso, procuramos ajuda externa, de alguém mais experiente.

Como nem todos os investidores principiantes conhecem pessoalmente outros investidores para buscar auxílio, é comum que eles procurem por dicas e orientações em meios de comunicação, principalmente nas redes sociais. Neste caso, é preciso fazer uma nova separação de conceitos: dicas e orientações ficam em gavetas distintas.

Atire a primeira pedra quem nunca desejou receber uma dica quente de investimento? Muita gente que começa a aportar recursos no mercado financeiro quer apenas isso: dicas. De preferência de graça, embora um grande contingente esteja disposto a pagar para recebê-las.

Dá para ganhar dinheiro comprando dicas? Sim. Mas qual seria o problema com isso? É que as dicas não te ensinam nada: são entregues num pacote hermeticamente fechado. Então, para fazer o próximo aporte, você precisa de outra dica, sem a qual não será capaz de operar no Home Broker. As dicas viciam o pretenso investidor. O tornam dependente de algo que não pode destrinchar. Por isso, os investidores mais experientes costumam dar o seguinte conselho:

– Nunca compre uma dica.

Receber orientação é diferente. Você incorpora um argumento, assimila uma linha de raciocínio e compreende as razões que norteiam a decisão por um aporte, venda ou manutenção de um ativo na carteira. Um relatório de investimento lhe oferece tal possibilidade.

Após ler um bom relatório, você tem a impressão de ter assistido a uma aula. Por isso, comprar orientações é diferente de comprar dicas. Mesmo um investidor com décadas de experiência sabe que a assinatura de um bom serviço de research vale cada centavo, pois um analista profissional pode validar ou refutar alguma tese que esteja sendo ventilada.

Como um analista de investimentos produz um relatório? Para começar, ele bebe nas fontes oficiais de informações, que são as divulgações trimestrais que as empresas fazem. Dos Balanços Patrimoniais, das Demonstrações de Resultado dos Exercícios e das Demonstrações dos Fluxos de Caixa, o especialista tira os números que precisa para compor os indicadores fundamentalistas. Com eles é possível contar a história de como uma empresa pode, ou não, gerar valor para um investidor.

A propósito, o “Guia Suno de Contabilidade para Investidores” (https://amzn.to/2E0OxxL) aborda justamente este aspecto da análise contábil das companhias. Os livros, aliás, costumam ser fontes de informações relevantes para investidores.

Informação versus distração

Isso também é essencial na jornada de um investidor: separar as informações relevantes das distrações. Em termos de mídia escrita, essa é uma tarefa mais fácil, pois os livros são produtos elaborados para serem os mais perenes possíveis, passando por revisões e camadas de edições antes de ganhar as prateleiras do mercado. Se um livro não é bom, ele encalha. Se o livro é bom, logo ganha a atenção dos interessados. O mesmo se aplica aos cursos.

Nas redes sociais, porém, essa curadoria praticamente não existe. Na velocidade da Internet os vídeos são publicados diariamente por diversos canais, nem sempre com o conteúdo verificado e nem sempre com foco naquilo que interessa para quem investe. Nem toda informação ofertada de graça será útil para quem a recebe, embora possa ser muito eficaz para quem a entrega, conforme a intenção de quem patrocina a publicação.

Não há problema em acompanhar canais sobre investimentos no YouTube ou qualquer outra plataforma. Existe muito conteúdo ótimo para ser assimilado. Porém, tudo tem que ser consumido com parcimônia. Há quem alegue não ter tempo para ler, mas passa várias horas do dia seguindo as novidades que os chamados influencers jogam na rede.

Em casos extremos, isso acaba tirando a produtividade do investidor em seu ofício principal, do qual ele recolhe as economias para investir. Então, ao invés de se aprimorar em seu trabalho e nos investimentos, o sujeito vai regredindo sem perceber. Se o lifestyle do guru da prosperidade que você segue é mais comentado do que aquilo que ela fala, cuidado: você pode estar perdendo tempo com superficialidades. E tempo – você sabe – é dinheiro.

Portanto, saber separar quem são as boas referências no assunto, daqueles que são apenas influências dispersivas, é produtivo para quem investe. Quem é referência confiável sobre investimentos, pode até pecar pela falta de carisma, mas fala primordialmente sobre investimentos – sem gatilhos emocionais que despertam vaidade, inveja e ganância nas pessoas, pois é deste modo que a audiência de certos canais é capturada.

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Controle emocional

O ser humano é uma amálgama de razão com emoção. Porém, essa mistura não funciona no mercado financeiro. Quer perder dinheiro na Bolsa? Seja refém das emoções. Euforia para comprar em ciclos de alta, aflição para vender em ciclos de baixa.

O investidor racional, por outro lado, segue friamente uma estratégia, mesmo que ela pareça contraintuitiva em vários momentos. Para tanto, não é preciso reprimir as emoções, mas ter controle sobre elas. O investidor racional canaliza suas emoções para outras áreas da vida: como sua família, seu círculo de amizades e seus interesses em campos diversos, dos esportes às artes.

Quem é imune às narrativas emocionantes, contadas pelos gestores (alguns deles muito carismáticos e convincentes), que vão além do que os números das empresas entregam; saberá separar as ações das companhias que geram caixa daquelas que, por enquanto, apenas queimam caixa, a despeito das promessas de um futuro espetacular.

Um investidor centrado na razão não faz apostas cegas, que até podem dar certo e significar ganhos enormes. Ao invés disso, ele procura se garantir com aportes nas empresas com alta previsibilidade de resultados futuros, baseados em históricos consistentes. Estes ganhos, embora possam ser relativamente moderados, significam que o investidor não perderá seu dinheiro – o que é inevitável quando uma grande aposta dá errado.

Plantar bem para colher bem

Enfim, como demonstramos, para investir é preciso saber separar o joio do trigo. Na imagem popularizada pela Bíblia, esta separação é feita na hora da colheita. A diferença, para o investidor, é que ele precisa fazer isso ainda na semeadura.

A Suno Research é uma casa independente com atuação referendada no mercado financeiro. Seu time de analistas tem uma missão: ajudar você em suas decisões de investimento. Conte conosco. Faça a sua assinatura hoje mesmo:

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[Crédito da imagem: detalhe de “O Trigo & O Joio” (1728), desenho de Carol Maratti pertencente ao acervo do Museu Metropolitano de Arte, Nova York, Estados Unidos]

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Jean Tosetto
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4 comentários

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  • Franco 24 de julho de 2020
    Muito bom o artigo. Parabéns.Responder
  • Adriana 20 de agosto de 2020
    Texto top. ParabénsResponder
    • Suno Research 21 de agosto de 2020
      Olá Adriana, tudo bem? Ficamos felizes que você tenha gostado do artigo. Abraços, Equipe Suno.Responder
  • Patrick 31 de agosto de 2020
    Muito bomResponder