Atualmente, vejo muitas pessoas discutindo acerca da importância do preço na decisão de compra de uma ação. Muitos defendem que o preço não importa, e estes não poderiam estar mais enganados.
O cerne do investimento de valor é a margem de segurança que, por definição, envolve a compra do ativo financeiro com o preço descontado de seu valor intrínseco. Sem dar a relevância adequada para o preço, perdemos a referência da margem de segurança e, consequentemente, de toda a filosofia de investimento que seguimos.
Ninguém seria melhor para explicar a importância do preço e o momento certo de comprar ou vender uma ação do que Warren Buffett. Deste modo, decidi comentar sobre o trecho final do livro Warren Buffett and the Interpretation of Financial Statements, de Mary Buffett, onde é apresentada a visão do investidor sobre o tema mencionado.
Warren Buffett tem a reputação de investir em empresas e nunca mais vendê-las, entretanto, mesmo para o guru de Omaha, “existem momentos para comprar e momentos para vender” ações.
No momento de comprar, Buffett diz ser crucial olhar para o preço, pois ele determinará sua rentabilidade futura. Olhemos para o exemplo da Coca-Cola, empresa que rendeu bilhões de dólares ao investidor americano.
Ao final da década de 1980, a cotação das ações da Coca-Cola variava significativamente. Uma série de eventos no mercado americano, aliados a alguns erros da gestão da empresa em introduzir uma nova fórmula, que foi malsucedida, trouxeram grande volatilidade para o papel, que chegou a ser negociado a US$21,00, mas também forneceu algumas oportunidades de compra abaixo dos US$7,00.
Buffett comprou as ações por US$6,50 e, naquele momento, o lucro por ação da companhia era de US$0,46, o que representa um retorno de cerca de 7% ao ano. Caso ele tivesse pago US$21,00 pela ação, seu retorno seria reduzido para 2,2%.
Avançando 20 anos, chegamos em 2007, quando o lucro por ação da companhia estava no patamar de US$2,57. Nota-se um avanço significativo dos lucros da empresa, que estavam gerando um retorno de quase 40% ao ano sobre os US$6,50 investidos.
Caso tivesse comprado os papéis por US$21,00, o retorno seria de apenas 12% ao ano, após 20 anos.
Deste modo, Warren Buffett considera que a regra número um para comprar ações é comprar apenas quando o preço está descontado. Naquele momento, a Coca-Cola havia passado por alguns problemas passageiros de gestão e o mercado americano vivenciou o pior dia da história da bolsa (Black Monday), o que tornou o preço do ativo significativamente descontado para que a aquisição se tornasse interessante.
Não é por acaso que hoje a Berkshire Hathaway possui mais de US$120 bilhões em caixa aguardando uma grande oportunidade para investir.
Além de compreender o momento de comprar uma ação, é necessário saber também a hora de vender. Acerca deste tema, Buffett considera que existem três situações que podem levar à venda de uma ação.
Em primeiro lugar, você pode ter encontrado uma oportunidade melhor de investimento e não possui caixa para aproveitá-la. Neste caso, é necessário liquidar o ativo menos promissor em seu portfólio para não perder a oportunidade.
O segundo ponto gira em torno da deterioração de valor da companhia. Quando uma empresa está perdendo suas vantagens competitivas, seja pela intensificação da competição ou por alguma disrupção tecnológica, a decisão mais sabia pode ser a venda do papel.
Sobre essa situação, podemos pensar nas Livrarias Saraiva, que se mostrava uma companhia promissora até que as mudanças no ambiente competitivo a levaram para recuperação judicial.
Por fim, um terceiro momento em que a venda dos ativos deve ser considerada é em um momento de euforia exacerbada do mercado. Quando as ações estão sendo negociadas a preços extremamente elevados que não podem ser justificados pelo crescimento das companhias, o investidor deve analisar com cautela os ativos em seu portfólio de modo a selecionar apenas aqueles cujo preço de negociação pode ser justificado pelas perspectivas futuras.
Segundo Mary Buffett, autora do livro supracitado, a regra de bolso (obviamente existem exceções) é considerar a venda, ou pelo menos ficar muito atento com o ativo, quando o índice Preço/Lucro (P/L) atinge a marca de 40. Esse é um bom indicativo de euforia extrema do mercado.
Para concluir, podemos voltar ao exemplo da Coca-Cola. Mesmo sendo uma excelente companhia, caso você adquirisse as ações no ano de 1998, quando o papel era negociado a um índice de Preço/Lucro acima de 40, nos 20 anos seguintes seu retorno seria inferior a 3% ao ano.
Fica claro, portanto, que o fator mais importante, tanto na hora de comprar uma ação, quanto no momento de vendê-la, é o preço. Jamais pague caro demais em uma ação ou você comprometerá seus retornos. E, sempre que a ação em seu portfólio estiver muito cara, considere a venda pois, muito provavelmente, existem oportunidades melhores para alocar seu capital.
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